Artigo de Rui Maia, Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
A IP – Infraestruturas de Portugal vai permitir que a Estação dos Caminhos de Ferro de Viana do Castelo seja transformada num hotel temático, alegando que o espaço está devoluto há mais de 10 anos. Ora, de facto, o que a IP pode referir é que grande parte do vasto património ferroviário edificado no século XIX e século XX, sobretudo na Linha do Minho, envergonha qualquer português que se preze. Desde Estações a Apeadeiros, abandonados há décadas, com portas e janelas tapadas com alvenaria, a espaços envolventes que fazem lembrar guetos, verdadeiros promotores da marginalidade, tudo isso e muito mais impera pela Linha do Minho. Em Viana do Castelo, uma cidade que precisa e muito de espaços que sirvam de apoio a quem recorre aos comboios, não existem grandes alternativas, exceto nas redondezas da Estação, e sempre mais do mesmo – comércio – esplanadas e afins. Num país pobre como o nosso, onde impera a iliteracia, os baixos salários, a enormidade da divida pública, a falência do SNS, do Ensino, das Policias, dos Tribunais e de outros cancros que a política cultiva em lume brando, parece encontrar no turismo as grandes soluções, o Santo Graal da economia, não fosse ele a grande indústria nacional, peso significativo do PIB, quiçá, a salvação dos pobres e miseráveis e da própria pátria.
Espaço cultural e Centro Interpretativo
A verdade é que faria muito mais sentido transformar a Estação dos Caminhos de Ferro num espaço cultural, com uma biblioteca temática, um arquivo, um centro interpretativo, onde se pudesse conhecer e consultar a história ferroviária da região – onde os cidadãos e utilizadores da ferrovia pudessem fruir de um espaço interessante, seguro, cómodo e rico para os sentidos. O bar bem podia ser melhorado, criando também outras ofertas para quem o procura – podiam-se criar espaços de lazer para as crianças – melhorar os espaços e os meios para os utentes e trabalhadores ferroviários e muito mais. Estas são apenas sugestões, sugestões de quem, com muito desgosto, vislumbra Portugal a afundar-se numa verdadeira esquizofrenia, onde tudo se permite, onde tudo se pode, onde a realidade excede a ficção. Quando num país pobre como o nosso, e ao nível da política local, num distrito pobre como Viana do Castelo, com tantas carências de habitação e outras, se testemunha o derrube de um prédio como o Coutinho, tudo nos parece verdadeiramente possível. A terminar, sugiro também que o Estado deixe que alguém transforme o Parlamento num sanatório, para tratar doenças mentais, pois, da forma que se tem feito política nos últimos 48 anos, com tal desgoverno, com tamanha falta de ética e vergonha, tudo nos faz parecer que o local é um verdadeiro manicómio, onde a loucura foi normalizada. A Estação dos Caminhos de Ferro de Viana do Castelo não vai ser transformada para os vianenses e gentes da região, esses não interessam, vai ser para “inglês ver”.
Artigo de Rui Maia, Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.