A AEPL – Associação Empresarial de Ponte de Lima, acaba de publicar, o que acontece pela 41.ª vez, a revista O Anunciador da Feiras Novas, a qual, como o próprio nome indica versa sobre as famosas festas da vila.
“É com muito orgulho que celebramos 41 anos de um compromisso inabalável com as tradições, a cultura e a história de Ponte de Lima e as suas gentes. E esta publicação é o testemunho evidente da dedicação contínua da AEPL na preservação e partilha da vertente do nosso património cultural, proporcionando aos leitores e admiradores d’O Anunciador das Feiras Novas, uma viagem entre passado, presente e futuro”, diz oorganismo na introdução à publicação.
A revista contém,entre vários outras temas, um artigo do historiador altominhoto, Rui Maia, intitulado “As Feiras Novas de 1924 – Entre a expectativa e o descontentamento”, no qual dá conta do desgosto sentido pelos limianos com o facto de não se ter constituído a Comissão de Festas e estas não terem acontecido naquele ano, precisamente há cem anos.
E diz o texto”: No coração da vetusta vila, no Largo de Camões, não se ouviram concertinas, nem sentidas ovações. O povo, auspiciava a Festa, sedento de divertimento, mas tão nobre associação, não se constituiu a tempo. O ano de 1924, foi cinzelado para sempre nos anais, deixando a triste lição, de que atrasos, nunca mais. Nossa Senhora das Dores, sentiu-se defraudada, pelo povo limiano, que para a Festa não quis nada. A fé permanece, como granito das Pedras Finas, que sempre se festeje, ao som das belas concertinas”.
Rui Maia prossegue, sublinhando que, as Feiras Novas de há 100 anos ficaram marcadas pela expectativa e o descontentamento, não passando de cristalina quimera. No início de agosto de 1924 o periódico Rio Lima denotava a sua preocupação com as Feiras Novas. “A dois meses da sua realização não podemos deixar de lembrar que é tempo de se ir organizando comissão que as leve a efeito”, fazendo notar que “as festas da vila por ocasião das feiras francas de 19, 20 e 21 de Setembro são faladas em todo o Norte e mal ficará que se deixem decair numa terra que ultimamente tanto tem progredido, tam aformoseada tem sido e que a natureza tam belamente adorna” (Sousa, 1924, p. 1)”.
E acrescenta: “ Todavia, muito próximo de meados do mês de agosto a esperança ainda predominava, como se pode depreender do periódico Rio Lima. O mesmo periódico veiculava a ideia de que a constituição da referida comissão se impunha, “(…) pelos interesses desta vila, que dos seus habitantes, tudo terá a esperar a comissão, da sua generosa e altiva cooperação”, acrescentando que “(…) as Festas de N. Senhora das Dôres e Feiras Francas no corrente ano, sejam o re ressurgir palpitante duma nova era em prol do progresso moral e material desta linda terra dos limianos” (Sousa, 1924a, p. 1)”.
Jornal Cardeal Saraiva achava “incrível”
E lembra, ainda: “Na mesma linha de pensamento, no término do mês de agosto, o periódico Cardeal Saraiva fazia saber que “até hoje ainda se não organisou comissão alguma que se encarregue de realizar estes tradicionais festejos. Parece incrivel” (Guimarães, 1924, p. 1).
E evoca, ainda, o periódico limiano: “Ora, o que se poderia esperar de uma romaria que, às porta da sua abertura, se encontrava sem comissão organizadora?”
Sucede que, “em meados de setembro o Cardeal Saraiva dava nota da derradeira notícia; “este ano não se realizam, entre nós, estes tradicionais festejos. Abstemo-nos, por decoro, a mais comentários sobre o assunto” (Guimarães, 1924a, p. 1).
E acentua o desgosto: “Em finais de setembro a mágoa agigantava-se, de tal modo que o periódico Rio Lima destilava palavras sentidas de consternação. Porém, se o ambiente parecia fúnebre, o próprio periódico não se deixava levar por um ano sem festividades, trazendo a lume nas suas páginas a expressão “sursum corda” – ou, como quem diz – “reanimem-se os espíritos” – para que a festa possa ressurgir, forte e pujante, e com ela todo o gáudio”.
E a concluir: “Além disso, o periódico Rio Lima recorda e bem que “(…) sob o ponto de vista lucrativo, ainda a todos, proprietários, comerciantes, industriais, funcionários, operários, produtores e consumidores, incumbe a obrigação de prestar o seu concurso, porque todos, mais ou menos, ganham com as festas” (Sousa, 1924b, p. 2)”.