Está de regresso espetáculo que estreou há mais de 50 anos em Vilar de Mouros

Cantata cénica “D. Garcia”, de Joly Braga Santos
Foto: DR

A cantata cénica “D. Garcia”, de Joly Braga Santos, sob a direção musical do maestro António Costa, com a Banda Sinfónica da PSP e o Coro Lisboa Cantat, sobe à cena no domingo em Lisboa, mas de 50 anos depois da sua estreia, em Vilar de Mouros, Caminha.

A cantata, encenada por Fernando Gomes e com figurinos de Maria Gonzaga, é apresentada no Centro Cultural de Belém (CCB), no domingo, às 19:00.

“Nesta cantata encontramos tudo aquilo que é Joly Braga Santos”, cujo centenário se celebra este ano, disse à agência Lusa o maestro António Costa, numa referência à escrita do compositor e à sua capacidade de domínio de grandes dispositivos corais e instrumentais-orquestrais.

A cantata, com texto de Natália Correia e David Mourão-Ferreira, inclui citações de cantigas de amigo de Airas Nunes e Martin Codax, faz assimilação contemporânea de modos antigos, e estreou-se em 1971, no âmbito da primeira edição do Festival de Vilar de Mouros.

A apresentação da cantata conta também com a participação dos atores José Raposo, Mário Redondo, Ricardo Raposo, Pedro Saavedra, Leonor Seixas, Sara Belo e Mariana Pereira, do tenor Marco Alves dos Santos, das sopranos Bárbara Barradas, Filipa Passos e Sara Afonso, da contralto Rita Morão Tavares, e ainda dos bailarinos Afonso Minderico, Beatriz Giménez, Catarina Teles, Diogo Medeiros, Ema Amaral, Henrique Palma, Leonor Santos, Lucas Rodrigues, Manuel Salgado, Rita Pinto, Rafaela Ferreira e Rúben Santos, reunindo um total de 160 pessoas em palco.

A trama de “D. Garcia” desenrola-se em 1071, quando Fernando I, rei de Leão anunciou a divisão do reino pelos quatro filhos, Sancho, Afonso, Urraca e Elvira, que entre si se guerreiam, acabando D. Garcia por ficar cativo no castelo de Luna, onde morre. Um cenário histórico anterior à formação do Estado português. D. Garcia, que assumiu o título da cantata, governava o território a sul do rio Minho, e é tio-avô de Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.

Em declarações à agência Lusa, o maestro António Costa reconheceu que dirigir a cantata, 53 anos depois da sua estreia, é um desafio, mas teve “o privilégio de ter falado com o maestro Silva Dionísio, que na altura dirigiu a obra em Vilar de Mouros”, à frente da Banda Sinfónica da GNR e do médico António Barge, fundador do festival, que encomendou a obra ao compositor, para a inauguração desse primeiro certame no país.

“Uma informação privilegiada” de “grande ajuda”, porque lhe contaram “o que se passou em Vilar de Mouros”, o que contribuiu para ir criando a sua conceção da cantata, “do ponto de vista estético”.

Para António Costa, “Joly Braga Santos é sempre uma referência, um compositor genial, nesta cantata diz muito do que é e só um compositor genial nos pode transportar, em certos momentos da cantata, aos modos medievais”.

Depois da apresentação em Lisboa, a cantata encenada de Joly Braga Santos vai ser apresentada no Festival Cistermusica, em Alcobaça, no dia 07 de julho, novamente na capital, a 29 de setembro, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, e em Santarém, no dia 05 de outubro, no Centro Nacional de Exposições (Cnema), no âmbito das celebrações do centenário do nascimento do compositor.

“Esta cantata ainda não está editada”, disse o maestro que acredita que o será, depois das várias apresentações previstas. “Outra coisa não se pode esperar”, enfatizou.

A “D. Garcia” é levada à cena a partir da partitura manuscrita. O maestro já tinha dirigido a Cantata em julho de 2005, no Teatro Camões, em Lisboa, no âmbito das celebrações dos 170 anos do Conservatório Nacional, onde Joly Braga Santos foi aluno e um professor “muito estimado”.

Na altura passavam 34 anos sobre a estreia e a obra foi interpretada “num nevoeiro, numa escuridão”, em versão de concerto, interpretada pela orquestra e coros do Conservatório Nacional, do Instituto Gregoriano, da Escola Superior de Música de Lisboa e da Escola Superior de Teatro e Cinema.

A Cantata voltou a ser apresentada em 2010, no Concerto Sons da Água, em Paradinha, no distrito de Aveiro, e, em 2017, na Escola Superior de Música de Lisboa.

António Costa disse que teve acesso à partitura “por altura dos anos 2000” e, mais tarde, em 2005, “pedimos a um copista muito bom, o João Pereira, para fazer a cópia digital”. “Fizemos só as partes de orquestra, não conseguimos fazer as partes de coro e solistas que ainda estão em partitura manuscrita”.

À Lusa o produtor da nova apresentação de “D. Garcia”, Paulo Enes da Silveira, referiu “a possibilidade de concretização de uma edição discográfica, de modo a que não se deixe extinguir da memória coletiva esta rara e única ocasião que logrou agregar três grandes vultos da cultura portuguesa do século XX”, Natália Correia (1923-1993), David Mourão-Ferreira (1927-1996) e Joly Braga Santos (1924-1988).

 
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