Esposende distinguido pela preservação de achado inédito que deu à costa em Belinho

Mau tempo levou até à praia vestígios de naufrágio que ocorreu há cinco séculos

O Município de Esposende foi hoje distinguido com o Prémio de Mérito, da Society for Historical Archaeology (SHA), em reconhecimento pelo investimento efetuado no Projeto do Naufrágio do Belinho.

Este projeto preserva o material encontrado na praia de Belinho, em 2014, devido ao mau tempo.

De acordo com o National Geographic Portugal, tratou-se de “um inédito achado arqueológico posto a descoberto na praia de Belinho em Esposende”. Será oriundo de “um ou dois antigos naufrágios” entre os séculos XVI e XVII.

Entre as mais de mil peças e fragmentos, destacam-se pratos de diversas dimensões, escudelas, castiçais, pelouros, restos de uma provável espada e cota de malha. Diversos madeirames de embarcação (o maior com nove metros de comprimento) e cerâmica anfórica da época romana (provavelmente proveniente de um depósito na própria praia) estão incluídos no espólio encontrado por habitantes locais numa caminhada matinal.

Como frisou a revista especializada, não se trata de material incomum, “mas o contexto do naufrágio e a quantidade e diversidade são inéditos no país”.

O Prémio foi entregue ao presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, durante a 56.ª Conferência anual SHA que, pela primeira vez reúne perto de mil participantes, num país da Europa Continental, em Lisboa, desde hoje até sábado, sob o tema Revisiting Global Archaeologies.

“Em nome do Município de Esposende, quero apresentar a minha mais sincera gratidão à Sociedade de Arqueologia Histórica pelo Prémio de Mérito concedido ao nosso Serviço de Património Cultural. Ficámos encantados quando tomámos conhecimento deste reconhecimento, principalmente porque este Prémio de Mérito distingue iniciativas específicas de indivíduos e organizações que têm promovido a causa da arqueologia histórica”, disse o presidente da Câmara, dirigindo-se aos presentes na conferência sobre Arqueologia Histórica e Subaquática.

Citado em comunicado, o autarca destacou “o trabalho sério e sistemático de compromisso com os objetivos de valorização do património local, a sua divulgação e preservação”, desenvolvido pelo Município, pelo que este prémio “demonstra que estamos no caminho certo e que todo o investimento é válido, relevante e deve ser continuado”.

O Projeto do Naufrágio do Belinho foi criado para registar, investigar e conservar e permitiu exibir histórias sobre o património cultural subaquático local e global, proporcionando uma vasta gama de programas de promoção cultural.

Não só conservou uma “notável” coleção de artefactos como reacendeu “um forte espírito de cuidado e partilha na comunidade, impulsionando programas científicos e educacionais, envolvendo os cidadãos, visando também contribuir para a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos na Agenda 2030”.

“A todos os que têm trabalhado no projeto, a todos os parceiros, nomeadamente aos nossos anfitriões, a Universidade Nova de Lisboa, às empresas que trabalham connosco, às pessoas da comunidade local envolvidas, aos voluntários, obrigado a todos vós”, concluiu Benjamim Pereira.

Instituído em 1988, o Prémio de Mérito da SHA reconhece conquistas específicas, tanto de indivíduos, como de organizações, no âmbito da Arqueologia Histórica. Embora o prémio seja concedido especificamente a contributos académicos (mas não em exclusivo), uma vasta e diversa gama de contribuições para a área em causa é igualmente considerada para a atribuição deste reconhecimento.

A conferencia sobre Arqueologia Histórica e Subaquática realizou-se, pela primeira vez, em 1997, nos Estados Unidos da América, tendo ocorrido, também, no Canadá e no Reino Unido. Em 2023 a Conference on Historical and Underwater Archaeology reconhece Lisboa como o centro de um dos mais significativos impérios europeus globais do início do período moderno, mas também enfatiza a transformação da arqueologia histórica em disciplina verdadeiramente global, razões que estão na origem da escolha da capital portuguesa para acolher o evento que, pela primeira vez, realiza-se num país da Europa Continental.

Durante os quatro dias de conferência, os participantes farão incidir o debate sobre a necessidade de os Estados protegerem o património cultural que se encontra submerso nas águas das respetivas jurisdições, apontando princípios básicos para o desenvolvimento de projetos científicos tendentes a proteger o referido património.

 
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