Equipa de Santo Tirso encontra em Valência “cenário devastador, bem pior do que estava à espera”

Associação Portuguesa de Busca e Salvamento
Foto: LUSA

A equipa da Associação Portuguesa de Busca e Salvamento, sediada em Santo Tirso, distrito do Porto, que chegou na sexta-feira à noite a Valência, Espanha, para ajudar nas operações de resgate disse à Lusa que encontrou um “cenário devastador, bem pior do que estava à espera”. 

Em declarações à agência Lusa, por telefone, o comandante Pedro Batista adiantou que a equipa, composta por dez operacionais, três cães de busca e salvamento e três viatura equipadas com material pré-hospitalar e para abertura de acessos, foi para Valência em resposta a um pedido de ajuda feito pelos bombeiros valencianos da Unidade de Resgate em Emergências e Catástrofes (UREC) e da Embaixada espanhola. 

Segundo o responsável, apesar de terem chegado na sexta-feira à noite, só começaram a trabalhar hoje de manhã por causa da falta de condições de segurança, sobretudo pelas “pilhagens e roubos que têm existido”.

“ [Encontrámos] um cenário devastador, bem pior do que o que estávamos à espera, com um povo bastante desesperado e a necessitar de ajuda, sem dúvida nenhuma”, disse Pedro Batista.

O comandante operacional explicou que é “bastante difícil” progredir no terreno, dada a quantidade de lama.

“Nós muitas vezes colocamos os pés e ficamos com lama até aos olhos. Ficamos completamente atolados sem conseguir andar. Muitas vezes precisamos de ajuda até para sair daquele local, o que também dificulta-nos a progressão no terreno”, relatou.

Acrescentou que há zonas onde não conseguem sequer colocar os cães de busca e salvamento porque a lama tem mais de um metro de altura e o animal “fica logo atolado”.

O comandante adiantou que até agora encontraram duas vítimas, graças aos cães de busca de salvamento, estando agora a “visualizar outras zonas onde poderão existir vitimas para fazer busca, quer apeada, quer cinotécnica”.

As duas vítimas encontradas, “em princípio, serão cadáveres” e não foi possível ainda resgatá-las por estarem debaixo de um contentor.

“É necessário maquinaria pesada, o que aqui está difícil de arranjar. O local ficou sinalizado pela ‘Guardia Civil’ e mal tenham maquinaria para proceder à remoção do contentor irão ser resgatadas”, explicou Pedro Batista.

Adiantou que as operações estão a ser dirigidas pelo centro de emergência local, com os bombeiros e a Proteção Civil, que definem os locais para onde as várias equipas, incluindo a portuguesa, se devem dirigir.

“Logo de manhã cedo é feito um ponto de situação e distribuídas as equipas pelos cenários, digamos assim, com cães, e abrir acesso caso seja necessário. Também estamos em prevenção, caso seja necessária a ajuda pré-hospitalar”, explicou.

Acrescentou que a equipa tem “uma viatura só para se deslocar onde for necessário”, havendo também um desfibrilhador automático externo, podendo, por isso, prestar os primeiros socorros, caso seja necessário.

Pedro Batista adiantou que a missão da equipa portuguesa é de três dias, mas afirmou que todos estão disponíveis para ficar por mais tempo, caso venha a ser necessário, o que, para já, ainda não sabe.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, adiantou hoje que o número provisório de mortos é de 211, com base no levantamento feito pelas equipas das forças armadas e das forças de segurança do Estado nos locais em que atuaram no terreno.

O primeiro-ministro, que fez hoje uma declaração a partir da sede do Governo de Espanha, em Madrid, referiu que há ainda dezenas de pessoas que continuam a procurar familiares e amigos desaparecidos, sem concretizar um número. 

Várias regiões de Espanha, entre as quais a Comunidade Valenciana, no leste do país, estão desde terça-feira sob a influência de uma “depressão isolada em níveis altos”, um fenómeno meteorológico conhecido como DANA em espanhol e como DINA em português.

O fenómeno causou chuvas torrenciais e ocorrências em diversos pontos de Espanha, sobretudo na costa do Mediterrâneo, provocando prejuízos avultados.

 
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