Neste Artigo
Inquérito
Braga começa dia 25 a ser Capital Portuguesa da Cultura, um evento que a vai tornar ainda mais rica nos seus dois mil anos de história. Os muitos espetáculos e eventos que nos traz terão certamente influência no bem estar dos bracarenses.
Para tentar medir até que ponto a cultura faz bem à saúde, o estudante de mestrado na Faculdade de Medicina na Universidade de Coimbra, o Gonçalo Gomes Pinto, de 23 anos e que estudou na Escola Secundária de Maximinos, lançou um inquérito aos conterrâneos bracarenses que será transformado em estudo no qual se medirá esse efeito positivo.
O MINHO foi ouvir as suas razões…
O MINHO (M): O estudo em que se procura responder à questão Em que é que a cultura faz bem à saúde que objetivos tem e como vai ser operacionalizado? Qual o universo de pessoas que quer abranger? Como se enquadra no trabalho de investigação de Mestrado que desenvolve na Faculdade de Medicina em Coimbra? Esta é uma área nova?
Gonçalo Pinto (GP): A justificação científica deste estudo baseia-se na crescente evidência de que a cultura exerce um papel significativo na qualidade de vida das pessoas, nomeadamente, no que diz respeito à sua saúde e bem-estar.
Este estudo, desenvolvido no âmbito da minha dissertação de Mestrado Integrado em Medicina, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e com o apoio da Braga 25, visa avaliar a influência de uma agenda cultural intensificada na cidade de Braga ao longo do ano de 2025, ano em que Braga é a Capital Portuguesa da Cultura, procurando entender de que forma a cultura, promovida de forma acessível e integrada no quotidiano dos cidadãos, pode atuar como um fator de promoção de saúde e qualidade de vida.
Tem como público-alvo a população residente em Braga, para além de não residentes que tencionem participar em atividades culturais no âmbito da Capital Portuguesa da Cultura.
Vai desenvolver-se através da aplicação de inquéritos que procuram avaliar os níveis de saúde e qualidade de vida das pessoas, estando, neste momento, a decorrer o primeiro inquérito (até dia 24/01/2025), ao qual apelamos à participação de todas as pessoas.
M: O título da investigação tem subjacente a ideia de que a Cultura traz benefícios à saúde dos cidadãos, nomeadamente ao equilíbrio mental…É assim? Ou seja, é bom que os bracarenses e os cidadãos em geral tenham hábitos culturais? E que os médicos receitem mais cultura aos seus pacientes?
GP: Esta investigação está assente no conceito de prescrição social, uma área recente e inovadora da medicina, que tem vindo a ser amplamente estudada no contexto da saúde pública, e que se orienta pela ideia de que as atividades culturais, artísticas e de participação comunitária podem ter um impacto positivo na saúde, na coesão social e no bem-estar geral dos indivíduos.
Têm vindo a ser desenvolvidos cada vez mais projetos no âmbito da prescrição social, uma área que integra a medicina com os recursos sócio-culturais das comunidades, sendo o profissional de saúde uma ponte entre os seus pacientes (tendo em conta as suas condições de saúde) e os recursos presentes na comunidade em que está inserido, recursos estes que podem permitir uma resposta mais completa aos problemas dos doentes, especialmente no combate ao isolamento social, à ansiedade e a outras condições relacionadas à saúde mental.
Prescrição complemento do tratamento
Um caso hipotético, para exemplificar, seria o de uma pessoa que passa grande parte dos seus dias isolada e que desenvolve uma depressão. Uma resposta terapêutica passaria, provavelmente, pelo tratamento farmacológico e pela psicoterapia, mas uma resposta ainda mais completa poderia passar também pela prescrição social, como meio complementar, onde o profissional de saúde estaria consciente do contexto sócio-cultural daquela região, e recomendaria ao seu paciente a participação, por exemplo, num grupo cultural daquela comunidade, o que permitiria, nomeadamente, reduzir o isolamento desta pessoa, sendo dada assim uma resposta mais completa e integrada aos seus problemas de saúde.
Impacto na qualidade de vida
M: Como é que os benefícios se podem mensurar? Uma sociedade mais culta é mais saudável?
GP: Neste sentido, na procura de mais evidência científica acerca do impacto da cultura na qualidade de vida, e em particular na saúde das pessoas, a cidade de Braga, ao ser nomeada como Capital Portuguesa da Cultura em 2025, proporciona uma ótima oportunidade para investigar, a partir de uma base científica, os impactos que a intensificação das atividades culturais pode ter na qualidade de vida da sua população residente, e até de não residentes que participem em atividades no âmbito da Capital Portuguesa da Cultura.
Através da oferta cultural intensificada, espera-se que a comunidade tenha um maior acesso a atividades artísticas e culturais, gerando não apenas entretenimento, mas também espaços de socialização, expressão e pertencimento, fundamentais para o desenvolvimento emocional e social dos indivíduos.
Isto ganha especial relevância num contexto em que cada vez temos uma população mais envelhecida e isolada, e onde poderemos, no futuro, tirar partido dos benefícios da prescrição social no alívio do stress patológico, na melhoria do humor, da autoestima e das habilidades sociais.
M: Acha que a iniciativa Braga 25- Capital Nacional da Cultura vai trazer mais consumidores de cultura?
GP: Sendo o título de “Capital Portuguesa da Cultura” um conceito recente, este estudo permitir-nos-á avaliar o impacto deste tipo inovador de eventos na qualidade de vida da população, e, assim, eventualmente, fundamentar políticas públicas mais sólidas, que integrem a cultura como uma ferramenta eficaz de promoção de saúde.
Assim, convidamos todas as pessoas a participarem no estudo, respondendo ao inquérito, e a participarem nos eventos culturais ao longo de todo o ano de 2025.
Acreditamos que, desta forma, as pessoas sentirão certamente os benefícios da sua participação na sua saúde e qualidade de vida e que nos ajudarão a perceber o impacto deste tipo de ações na saúde das populações.