A campanha nacional do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) já entregou raízes para a plantação de 50 mil árvores autóctones, tendo registado uma adesão sem precedentes, também em Braga, como O MINHO constatou, com vários interessados de toda região a levantarem, entusiasmados, para os seus jardins, pomares e terrenos florestais, embriões para os seus frondosos medronheiros, sobreiros, azinheiras, alfarrobeiras, pinheiros mansos, entre outras espécies, muito procuradas não só no campo.
Em Braga, falando na Delegação do ICNF, o engenheiro Jorge Dias, chefe da Divisão de Gestão das Áreas Públicas Florestais do Norte, explicou a O MINHO que estão “a oferecer árvores autóctones e resilientes ao fogo”, sendo que no Norte “as árvores mais procuradas foram principalmente medronheiro, havendo, logo a seguir, maior interesse no sobreiro e igualmente na azinheira”, tendência que se confirmou de resto em toda a região do Minho.
Segundo o mesmo responsável, “esta iniciativa teve um êxito que não esperávamos tanto, as plantas esgotaram em três dias, demonstrando-se bem a preocupação e o valor que a floresta atualmente tem para a nossa sociedade, o exemplo muito importante para todos”.
“As solicitações são dos meios urbanos e dos rurais, árvores mais resilientes, autóctones, pois as pessoas estão progressivamente a deixar a monocultura, para aderir a uma floresta diferente, de mosaico, mais biodiversa”, situação enaltecida por Jorge Dias.
Sobre as árvores mais procuradas, o engenheiro começa por referir a principal solicitada, o medronheiro: “É uma árvore de que a população gosta e considera muito bonita, dá um fruto vermelho, comestível, inclusivamente há quem faça aguardente de medronho, sendo também muito resistente ao fogo, por isso foi aquela que despertou mais procura”.
“O sobreiro, que é o nosso símbolo nacional, uma espécie de bandeira nacional, por isso o nosso Parlamento assim o decidiu e muito bem, é muito procurado, sendo resiliente ao fogo, sendo a sua demanda devida também à produção de cortiça, muito utilizada na nossa indústria”, afirma Jorge Dias, salientando que “já se vende muito mais cortiça no Norte”.
“São árvores que aparecem espontaneamente na nossa floresta, nativas, que recolhemos, sendo produzidas nos viveiros estatais, um milhão de plantas, ao nível nacional, todos os anos, só no Norte, no Viveiro de Amarante fazemos 400 mil plantas, havendo mais três viveiros, ao nível nacional, situadas na Malcata, Algarve, Alcácer do Sal”, diz Jorge Dias.
“As pessoas, talvez muito devido à pandemia, já porque estiveram muito tempo em casa, estão a voltar aos campos, a limpar mais os seus terrenos, como os avós e os pais faziam, nota-se uma tendência de regresso às origens, ao campo e à floresta, de forma interessante, acabando por retirar-se uma grande lição dos tempos que vivemos”, segundo Jorge Dias.
Satisfação entre os interessados
Albina Dias, aposentada da Administração Regional de Saúde do Norte, com moradia em Valdozende, no concelho de Terras de Bouro, foi buscar plantas para futuras árvores, que plantará na sua terra natal, bem como na outra residência, em Braga, elogiando a iniciativa porque “ajudará a arborizar os nossos campos, até porque tem havido muitos incêndios”.
Carlos Moreira, de Lousado, no concelho de Famalicão, a trabalhar na industria química, é um apaixonado pelas plantas. “Sempre gostei muito de árvores, tenho terreno para isso, pelo que sempre que é possível, vou buscar árvores para plantar, geralmente esgotam depressa, mas desta vez finalmente consegui levar aquelas espécies que queria, umas vão para o pomar e outras serão plantadas ao longo do campo”, disse a O MINHO.
Tiago Pimenta Correia, natural do Porto, mas a mudar-se agora para Ponte de Lima, onde tem um projeto turístico, prepara-se para plantar medronheiros, onde até há pouco tempo imperavam eucaliptos, mostrando-se “feliz com esta oportunidade de plantar as árvores”.
Restauro Florestal como objetivo
Intitulada “Restauro Florestal: o caminho para a recuperação e o bem-estar”, a campanha visou também comemorar o Dia Internacional das Florestas, sempre sob o lema “Restauro florestal, o caminho para a recuperação e o bem-estar”, convidando e envolvendo todos os cidadãos e proprietários rurais a fazerem a plantação nas suas propriedades de espécies autóctones produzidas nos seus viveiros”, sendo que “a este desafio, os portugueses não só corresponderam ao apelo, como excederam largamente as espectativas mais otimistas”.
“Em 24 horas, os portugueses afirmaram com entusiasmo que somos mesmo todos ICNF, aceitando o desafio que lhes foi lançado de plantar 50.000 árvores, porque esta campanha, #ICNFsomosTODOSnos”, iniciada há uma semana, granjeou uma adesão inesperada e surpreendente, especialmente por se tratar de iniciativas individuais, que são provenientes de todos os cantos e recantos do país, rurais e urbanos, de norte a sul”, salientou o ICNF.
“Fiéis aos princípios, que levaram, em 1870, a população do Nebraska a dedicar um dia à plantação de árvores, os portugueses aderiram à iniciativa do ICNF de forma admirável e em menos de 24 horas propuseram-se recolher e plantar 50 mil árvores”, destaca aquele organismo estatal, endereçando “enorme obrigado a todos pela receção a esta iniciativa”.