Job Verpoorte é um engenheiro químico convertido ao surf, que trabalha, numa literacia típica da profissão, para encontrar a combinação certa, entre o custo dos materiais, a qualidade da prancha e a satisfação do surfista que encomenda um produto desenhado à medida do seu desempenho desportivo. Job nasceu nos Países Baixos e viveu na europa de leste, bem como na Bélgica e na Rússia, mas foi em Braga, no centro histórico, que encontrou espaço para abrir uma oficina, onde constrói pranchas de surf, em madeira, sustentáveis ambientalmente.
“Construir pranchas de surf é um exercício de engenharia”, afirma Job a O MINHO, durante uma visita ao interior da oficina. “As pranchas que construo são para a vida. São pranchas fortes, feitas para durar gerações e serem oferecidas aos netos do cliente que as comprou”, explica o ‘shaper’ orgulhoso com o resultado dos trabalhos esculpidos à mão.
A medo, algumas pessoas espreitam pela vitrina da loja. Job está concentrado, na sala de trás, cercado por ferramentas, madeiras, pó e serrim. As pranchas experimentais expostas na loja são produzidas na oficina e Job explica como se desenrola todo o processo: “As pranchas são construídas com madeira de balsa, que é leve e forte, a espinha é feita com contraplacado, a cola ‘epoxy’ é parcialmente vegetal e no fim dá-se um acabamento com fibra de vidro”.
As pranchas são desenhadas no computador, de acordo com as pretensões e com a fisionomia do cliente. As variáveis que influenciam a qualidade do surf são latas e dependem, em boa medida, da prancha utilizada. Job tenta produzir e desenhar pranchas adequadas ao surfista que tem pela frente: “É preciso avaliar a prática desportiva do cliente, o peso, a altura, e as ondas que procura surfar”.
A opção, a fim de viver conjuntamente com a sua companheira, estava entre Braga e Bruges, na Bélgica. Job optou pela capital do Minho e inaugurou um atelier há menos de um mês. “Ainda não recebi nenhum cliente português, mas uma boa parte dos meus clientes encontra-me e contacta-me através do website”, aponta.
“Jabali surfboards” é o nome da empresa que fundou, para mudar de vida: de engenheiro na área do design industrial e da construção civil, para “’shaper’ de pranchas de surf em madeira. “Um dia estava com uns amigos na Astúrias, em Espanha e antes de irmos para o mar, eles começaram a dizer que íamos surfar como javalis selvagens”, conta o nórdico sobre a origem do nome da marca.
Sobre a mudança na rotina profissional, diz que agora “dorme muito melhor” e quanto à qualidade das pranchas que constrói com as mãos, “são feitas para surfar como um javali, com força”.
Já vendeu pranchas para surfistas do mundo inteiro, experimentando-se, agora, com o público bracarense, na esquina entre a rua Santo André e a Praça Mouzinho de Albuquerque. “Aos poucos irá correr bem, apesar de toda a gente dizer que em Braga não há ondas”, acrescenta, animado pelas ondas que “em 25 minutos, em Ofir ou um pouco mais à frente, em Vila Praia de Âncora, são para surfar”.