José Correia tinha 11 anos quando viajou até França com os seus pais. Estudou, formou-se, começou a trabalhar, e por lá continua. Atualmente, com 58 anos, é um empresário de referência na comercialização de peixes e mariscos, em Paris.
Mas nem sempre foi fácil. Quando lá chegou foi para a escola, mas não como uma criança normal. Com 11 anos, José teve de fazer o ensino primário desde o início, com crianças de 6 anos de idade.
“Fui começando a falar francês e com o passar do tempo fui subindo de ano em ano muito rápido. Acabei por fazer um curso de contabilidade e gestão”, contou José Correia, em entrevista ao Mundo Português.
O seu primeiro trabalho na área da contabilidade teve a duração de seis anos, numa empresa que trabalhava com chocolate artesanal. Contudo, quando percebeu que o chefe da contabilidade ainda teria muitos anos de atividade, decidiu abandonar este barco e procurar um novo rumo na sua vida.
“Por essa altura, comprei o Fígaro e vi um anúncio de uma empresa aqui no mercado de Rungis que procurava um contabilista. Respondi a esse anúncio e o incrível é que isto acabou por ser uma coincidência porque estive para não ir à entrevista uma vez que tive que decidir se ia à entrevista ou para o trabalho. Mas deu-se um click e foi aí que tomei coragem e decidi vir. Se tivesse decidido não vir, provavelmente, não estaria aqui hoje. Foi aí que tudo começou”, relembrou.
Nos seis anos que trabalhou nesta nova empresa, foi peça chave na evolução da mesma. Começou a trabalhar com Portugal em 1985, “ainda Portugal tinha direitos de alfândega para o peixe, antes de entrar na União Europeia”. Depois, começou a procurar fornecedores e clientes em Paris, e a experimentar outras funções, que não contabilidade, na mesma empresa. Lançou a J´Océane, empresa da qual é proprietário hoje em dia, em 1991.
“Sozinho, sem ordenado durante um ano, depois um pequeno ordenado durante 5 anos. Foi muito difícil. Ia todos os dias ao aeroporto buscar peixe num camião velhinho, ia entregar peixe para os clientes no mercado e depois recondicionava-o, calibrava-o e fazia a entrega nos restaurantes de Paris, e ainda tratava da contabilidade… Só dormia 3 horas por dia. Foi muito trabalho. Fazia tudo na empresa”, descreveu, acrescentando que a mesma empresa nasceu no mercado de Rungis, num pequeno escritório, “sem espaço nenhum”.
Atualmente, esta empresa é uma referência na comercialização de peixes e mariscos, em Paris. Comercializa mais de 1000 toneladas do peixe servido nos melhores restaurantes de Paris e fatura anualmente cerca de 80 milhões de euros.
“Hoje, 75% dos nossos produtos são entregues todos os dias, todas as noites e todas as manhãs a cerca de 1000 restaurantes em toda a região de Paris, destina-se aproximadamente 40% a restaurantes de cozinha francesa, 40% de cozinha japonesa, uma parte significativa do nosso negócio e 20% de venda direta no mercado a peixarias. Tudo é trabalhado nos nossos laboratórios. Se o estudo de um determinado restaurante é para que um filete de robalo pese 200 gramas, isso tem que ser exatamente cumprido. A qualidade é muito importante para nós”, comentou.
Na sua carta de clientes, José Correia conta com chefs de cozinha, alguns com renome internacional – três chefs com 3 estrelas Michelin. A J´Océane prima pelo rigor no corte do peixe, no calibre e nos horários.
“O cliente quando chega de manhã ao seu restaurante ou à sua cozinha tem tudo preparado de antemão. Poupa imenso tempo, espaço e custos em mão de obra. Ter o peixe todo preparado e poder contar com a experiência dos nossos técnicos torna tudo muito mais simples. E é claro que isso paga-se”, referiu.
É nas suas raízes que José Correia e os seus colaboradores, alguns deles também portugueses, se inspiram.
“O meu sonho é continuar a construir uma empresa sã e com coração. Inspiro-me nas minhas raízes. Tenho aqui colaboradores que partilham as mesmas raízes que eu, são raízes profundas do nosso país. As recordações que temos de antes de emigrar, antes de haver internet, dos campos verdes, da água limpa a correr nos rios…as raízes foram importantes para mim, para ter coragem e dinamismo. Para saber sofrer desde início. A dimensão não é importante, o importante é o equilíbrio e a estabilidade, ter uma empresa com uma dimensão de resultados que dê para pagar os encargos e para distribuir uma parte do benefício pelos 120 colaboradores e ainda tirar mais-valias para os seguros que são uma parte importante neste negócio. Nós trabalhamos com seguros de crédito com os fornecedores da Noruega, por exemplo, no valor de um milhão e 200 mil euros. É primordial haver estabilidade para poder pagar aos fornecedores”, concluiu.
José Correia é natural de S. Pedro de Merelim, em Braga. Um português com sucesso… lá fora.