Empresário de Braga constrói em madeira: um T2 custa cem mil euros e dura uma vida

O Guy Arnaud é um bracarense de 41 anos, que enveredou pela vida empresarial, e está empenhado em ajudar a acabar com a crise habitacional: constrói casas em madeira, por exemplo, um T2 autónomo por cem mil euros (já com IVA) e garantindo isolamento térmico, economia e qualidade de vida.

O Guy tem no sangue a herança do pai, o luso-francês Albino Cunha – um homem de sete instrumentos e conhecido (muito) na cidade como Bibi – que teve uma sucata em Ínfias e onde o filho aprendeu a pensar em termos sustentáveis e a usar as mãos. Ele mesmo se define como tendo “paixão pela proteção ambiental e pelo mundo”.

Guy Arnaud. Foto: Luís Moreira / O MINHO

É, há dez anos, o dono da empresa Guy Arnaud Construção Sustentável, de Braga, e lançou, há um ano a marca Casitas.pt: “Em 2020, criei um Gabinete de Projeto visando o equilíbrio entre qualidade e preço, e investindo na energia passiva, um dos fatores de sustentabilidade. As casas são duráveis quando tratadas e implantadas corretamente, podendo durar até mil anos”.

Um exemplo disso – salienta – é a “Fazenda do Rei” nas Ilhas Faroe, que tem um dos climas mais severos do mundo e abriga uma casa de madeira com 900 anos ainda em uso.

Lã de papel como isolante

O seu objetivo é o de “construir rapidamente, com alta qualidade, a preços acessíveis e com sustentabilidade”. Além disso, oferece um kit de autonomia para uma vida autossuficiente.

A Casitas inclui arquitetos especializados em bioclimatismo e engenheiros em Passive Design, um conceito que define um padrão de elevado desempenho energético, térmico, e de saúde.

Guy Arnaud. Foto: Luís Moreira / O MINHO

O que faz a diferença – acentua – “é o projeto de autonomia, no qual incorporamos sistemas de aquecimento e arrefecimento bioclimáticos, energias alternativas fotovoltaicas e aerogeradores, biogás com composto, wc seco e recuperação e filtragem de água, e fossas bio sépticas”.

Para garantir conforto, utiliza a lã de papel como isolante: “este material possui as melhores performances do mercado, além de ser reciclado e reciclável, sendo imbatível do ponto de vista ecológico. Em termos de isolamento térmico, tem o menor coeficiente de condutividade do mercado (0,039W/mK) e oferece alta proteção contra incêndios”.

E, prosseguindo, explica: “Além disso, proporciona alta proteção acústica, com uma redução de até 7 decibéis em relação às fibras tradicionais. Vale ressaltar que já contamos com dezenas de aplicações bem-sucedidas”.

Madeira tratada 

Feitas em madeira tratada proveniente de explorações de pinho e abeto, as casas são pré-fabricadas e montadas no local.

E revela: “Estamos a projetar um showroom na Calheta, ilha da Madeira, que consiste na reabilitação dos palheiros tradicionais, uma forma de valorizar a cultura ancestral e a conservar o património local. Além disso, estamos a licenciar alguns projetos e em breve construímos na Charneca da Caparica”.

Casas móveis

A Casitas.pt, especializou-se em casas pré-fabricadas autónomas de madeira: “estou a lançar outra marca, a Moduland.pt de casas móveis do tipo “tiny house” (casas pequenas)”.

Desde 2010, – revela – “fazemos casas em madeira, mas apostamos, também, na construção alternativa em madeira: yurts (habitações típicas da Ásia Central), tipis (casa similar à dos índios americanos , «A frame» (casas pré-fabricadas modulares), cúpulas geodésicas conhecidas por Domus e casas em atrelado, as “Tiny house´s”.

Estas construções – explica – são direcionadas para campismo, turismo de natureza e glamping (um camping que se assemelha aos acampamentos, porém com mais conforto e infraestruturas), um setor onde a Casitas já conta com quatro projetos de resorts: “ também fazemos piscinas, saunas, jacuzzis e, no ramo da reabilitação, recuperamos apartamentos, estando capacitados para executar, consoante o orçamento de cada um, a obra de A a Z, tratando do financiamento, terreno, projeto, licenciamento, e edificação da casa com chave na mão incluindo domótica, autonomia energética e hídrica, eletrodomésticos e decoração”.

Casa de papel e escultura habitacional

O Guy tem, também, lançado projetos sustentáveis, como a criação da escultura habitacional “A árvore de papel”, com seis metros, feita de papel de publicidade e cimento da Ecoestação, um grupo que organiza festivais ecológicos. 

E acrescenta: “desenvolvi uma pasta de papel com cal, que possui propriedades isolantes e pode ser utilizada na construção. Fui além e projetei, desenvolvi e acabo de construir com as minhas próprias mãos uma “casita de papel” utilizando materiais de obra reciclados, como garrafas, alumínio, rede de galinheiro, azulejos, sendo que o telhado é feito de soalho flutuante e as janelas de portas de máquina de lavar (ver foto) .

Guy Arnaud e a sua casa de papel. Foto: Luís Moreira / O MINHO

Essa casita – anota – “é um exemplo de upcycling (reaproveitamento de objetos antigos), pois foi construída com materiais salvados, criando algo útil a partir de elementos descartados. O estilo arquitetónico é o vernacular, que se carateriza pelo uso de materiais e conhecimento local, sendo que a que construí é do género casa Hobbit (do Senhor dos Anéis) e o material adotado é o de Adobe, feito de celulose e cal que utiliza o papel reciclado como base e permite criar formas biónicas, devido à sua maleabilidade. 

Sustentabilidade ambiental

Na opinião do empresário, a construção com materiais reciclados desempenha um papel fundamental no futuro da humanidade, tanto do ponto de vista ambiental quanto social. “A construção tradicional consome muitos recursos naturais e gera grandes quantidades de resíduos. Ao usar materiais reciclados, reduzimos a extração de recursos, minimizamos a quantidade de resíduos em aterros sanitários e diminuímos a pegada de carbono associada à produção de novos materiais. Isso contribui para a mitigação das mudanças climáticas”.

Há, portanto, uma redução do desperdício, economia de energia, inovação e criatividade, inclusão social e empoderamento comunitário.

 
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