A Felpos Bomdia, em Vizela, pediu insolvência e deixou 36 pessoas desempregadas. Esta manhã, os trabalhadores foram passando pelos escritórios da empresa para obterem os papéis para reclamarem o fundo de desemprego. Há famílias em que marido e mulher ficaram sem emprego, depois de trabalharem dezenas de anos na conhecida fábrica de têxteis-lar vizelense. As cartas chegaram a casa das pessoas na sexta-feira, com os despedimentos produzir efeito a partir de dia 01 abril. A lista de credores aponta para uma divida de 2,5 milhões de euros.
No próximo dia 11, realiza-se a assembleia de credores em que será decidido o futuro da empresa: a liquidação ou o plano de recuperação traçado pela administração.
Os trabalhadores queixam-se que a empresa, “em processo de insolvência desde o dia 27 de fevereiro, não pode fazer despedimentos.”
Fernando Alves sai dos escritórios com os papéis para ir requerer o fundo de desemprego, mas vai inseguro, “não sei se vão aceitar isto”. Está preocupado porque não recebeu os dois últimos meses, apenas uma parte do salário de janeiro e ainda não viu a cor do dinheiro do subsídio de Natal de 2022. Na mesma situação estão os outros cem trabalhadores da Felpos Bomdia, entre os quais os que foram mandados embora.
“Há muito que sabíamos que isto andava mal, faltava matéria-prima para pôr as obras a andar”, confessa. Os trabalhadores dizem que foram dando um voto de confiança à administração. “A administradora [Alexandrina Lemos] foi-nos dizendo que tudo se havia de resolver e nós fomos acreditando”, afirma Fernando Faria, empregado na empresa há 38 anos.
Marido e mulher mandados embora
Fernando Faria queixa-se que há famílias que perderam o sustento: “Como o caso do meu irmão, que tinha ainda mais anos de firma que eu e foi despedido juntamente com a esposa”. Daniel Mendes tem 37 anos, começou a trabalhar na Bomdia com 14 anos e, embora não tenha sido despedido, junta-se ao protesto. “Isto foi feito sem critério, disseram que iam as pessoas com 57 anos ou mais, mas afinal mandaram outros mais novos. Ficaram os amigos e os familiares dos chefes”, reclama.
Fernando Alves alega que as razões avançadas para a situação da empresa, no processo de insolvência, são falsas. “Antes da covid-19 isto já não estava a funcionar bem e a guerra agora é desculpa para muita coisa”, afirma. No setor da tecelagem, dez trabalhadores suspenderam o contrato por falta de pagamento dos salários. “Se calhar devíamos ter feito a mesma coisa, agora não nos podiam fazer isto”, diz Fernando Alves.
Dia 11 o tribunal pode decidir pelo encerramento
Daniel Mendes está convencido que, no dia 11, depois da assembleia de credores, “o tribunal vai decidir encerrar isto tudo e vamos todos para a rua.” Para este funcionário, o problema da empresa é a falta de entendimento entre os acionistas, três irmãos e a viúva de um quarto já falecido que é a administradora.
“A Bomdia vive atualmente uma situação de desequilíbrio financeiro que decorre da conjugação simultânea de vários fatores, uns exógenos e outros endógenos à sociedade. Quando se começavam a normalizar os constrangimentos causados pela pandemia – tivemos o impacto inesperado causado pela guerra da Rússia na Ucrânia que potenciou o aumento dos preços da energia”, lê-se no processo de insolvência, apresentado no dia 27 de fevereiro. O prazo para a reclamação de créditos terminou no dia 24 de março.
Fundada em 1933, a Fábrica de Tecidos de Viúva de Carlos da Silva Areias & Cª, faria 90 anos este ano. A empresa está instalada, desde 1973, junto à entrada da cidade de Vizela, na estrada que liga a Guimarães.
O MINHO tentou entrar em contacto com a empresa e com o administrador de insolvência mas sem sucesso.