Empresa de Braga ajuda a construir o maior túnel ferroviário do mundo

Conferros
Fotos cedidas a O MINHO

A empresa portuguesa Conferros, com sede em Braga e escritórios em Ponte de Lima, acaba de ser escolhida para construir os túneis de ventilação do maior túnel ferroviário do mundo, o “Tunnel Euralpin” (TELT), que se estende por 57,5 quilómetros por baixo dos Alpes, para ligar o Sudeste francês ao Norte de Itália.

Os portugueses vão ser responsáveis pela construção de quatro poços de ventilação com 507 metros de profundidade cada um. Os trabalhos a cargo da Conferros arrancam no dia 21 e o prazo para a execução da obra é de 26 meses.

Gustavo Viana está de malas aviadas para Lyon. A Conferros, empresa que lidera e que tem escritórios em Ponte de Lima, está prestes a arrancar com aquele que será o maior desafio que já enfrentou: construir quatro poços de ventilação, com cinco metros de diâmetro e 507 metros de profundidade, num prazo de 26 meses. 

O contrato inclui também a execução de todas as infraestruturas no pé da rampa necessárias para o bom funcionamento dos poços, incluindo a escavação de sete cavernas que poderão ter até 22 metros de altura e 23 metros de largura. Estas cavernas, posteriormente, servirão para a instalação das tuneladoras que perfurarão o túnel base, em direção a Itália.

A Conferros é uma empresa com 50 anos e nos últimos 15, com a liderança de Gustavo Viana, especializou-se em trabalhos subterrâneos. A empresa tem histórico de construção de pelo menos quatro túneis de grande dimensão em solo francês (incluindo o de Saint Beat, no departamento de Haut-Garone, perto de Toulouse, com mais de mil metros de comprimento) o que terá contribuído para ser escolhida para esta obra histórica.

Foto cedida a O MINHO

Em Portugal, a Conferros esteve ligada à construção do túnel ferroviário da Régua e, em Espanha, à central elétrica da Frieira, em Ourense, entre outras obras de vulto.

Segurança dos trabalhadores garantida com equipamento de última geração

Os poços de ventilação serão realizados com tuneladoras do tipo Raise Boring Machine, uma tecnologia desenvolvida pela indústria mineira para a escavação vertical de pequenos diâmetros. “Esta técnica é particularmente eficaz para a segurança dos trabalhadores e permite minimizar o impacto no território, graças a uma área de trabalho reduzida na superfície”, esclarece o empresário português.

A empresa portuguesa vai revestir os poços com uma parede de 20 a 30 centímetros de betão. “Para este efeito temos uma máquina especial com 15 metros de altura”, explica Gustavo Viana.

Foto cedida a O MINHO

E acrescenta: “É um trabalho moroso porque não se trata de um tipo de betão vulgar. Vamos avançar 25 centímetros por hora”.

Túnel franco-italiano por baixo dos Alpes

A TELT é a empresa, criada em 2015, detida em partes iguais pelos Estados francês e italiano, para fazer a construção da secção transfronteiriça da linha de caminho de ferro para passageiros e mercadorias entre as cidades de Lyon (França)  e Turin (Itália), numa extensão total de 270 quilómetros.

Dos 65 quilómetros do troço que atravessa a fronteira, 57,5 estão sob o monte Cenis, nos Alpes, entre Saint-Jean-de- Maurienne e Susa. A maior parte do túnel, 45 quilómetros, desenvolve-se em território francês, só 12,5 quilómetros são na parte italiana.

O custo da seção transfronteiriça da linha Lyon-Turim é de 11,1 mil milhões de euros, 50% dos quais financiados pela União Europeia e os restante dividido entre a França (25%) e a Itália (35%). Estima-se que estarão envolvidas nos trabalhos cerca de 20 mil empresas e aproximadamente oito mil trabalhadores.

Uma obra histórica que vai para o portfólio da Conferros

“É uma obra histórica e é um orgulho fazer parte desta aventura”, reconhece Gustavo Viana. A Conferros parte para o local da construção com 20 elementos (sete portugueses e os restantes estrangeiros), numa obra que “vai-nos dar currículo”, mas que é um desafio à capacidade logística e técnica da empresa.

“Vamos trabalhar 24 horas por dia, para garantir os prazos”, aponta Gustavo Viana que teve de assumir que seria ele próprio o diretor de obra para ganhar este concurso e, por isso mesmo, também vai estar diariamente no terreno.

“Alugamos instalações hoteleiras para os nossos funcionários, para que possam descansar e a cada 15 dias podem vir a casa”, refere.

O prazo para a conclusão desta segunda ligação entre Lyon e Turim (já existe uma através do túnel de Fréjus) é 2033. Apesar de o túnel ter 57,5 quilómetros em linha, serão escavados 164 quilómetros de galerias.

A expectativa é que uma parte significativa dos 44 milhões de toneladas de mercadorias que atravessam esta fronteira (combinado entre o atual serviço ferroviário e a rodovia) passe a ser transportada através desta linha, retirando camiões das estradas alpinas.

 
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