A antiga colónia penal do Tarrafal, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, vai ser alvo de reabilitação e requalificação para poder integrar uma futura candidatura a Património da Humanidade. E é uma empresa de Barcelos que vai levar a cabo a empreitada adjudicada pelo Governo cabo-verdiano por cerca de 265 mil euros, foi hoje anunciado.
A empresa é a Vilacelos, que tem uma filial naquele arquipélago situado a noroeste do continente africano. A assinatura foi levada a cabo ontem [quinta-feira], entre o Ministério da Cultura e Indústrias Criativas e a companhia barcelense.
De acordo com aquele ministério, o Governo quer, dentro de um ano, lançar uma candidatura a Património da Humanidade da UNESCO. Para isso, é necessário substituir telhados dos antigos pavilhões e das antigas celas comuns, para além da implementação de um percurso pedestre pelo interior daquele antigo campo de concentração de má memória para muitos portugueses e africanos.
Situada no lugar de Chão Bom, a antiga colónia penal foi criada pelo Governo português a 23 de abril de 1936. Em outubro recebeu os primeiros 152 prisioneiros, na sua grande maioria marinheiros que estiveram envolvidos numa ação de revolta a bordo de navios de guerra portugueses.
Dos cerca de 600 prisioneiros que albergou, 36 morreram (32 portugueses, dois angolanos e dois guineenses), entre os quais Albino António de Oliveira de Carvalho, um comerciante da Póvoa do Lanhoso, que morreu em 1941, mas só depois do 25 de Abril de 1974 foi trasladado para Portugal.
De acordo com um decreto lei publicado na altura (Decreto-Lei n.º 26 539), o campo servia para encarcerar “presos políticos e sociais, sobre quem recai o dever de cumprir o desterro, aqueles que internados em outros estabelecimentos prisionais se mostram refractários à disciplina e ainda os elementos perniciosos para outros reclusos”. Crimes políticos, presos preventivos e presos por crime de rebelião também eram “desterrados”.
Abraão Vicente, ministro da Cultura de Cabo Verde, refere que o objetivo é “transformar um espaço que era triste e que devia envergonhar, num local de orgulho” para a população de Tarrafal.