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O Tribunal de Braga inicia esta quarta-feira o julgamento de nove homens, dois portugueses e sete estrangeiros, implicados numa rede internacional de tráfico de droga que importava, através de uma empresa de Barcelos, contentores de fruta do Equador, mas com cocaína escondida no seu interior. Que valeria, no mercado, cerca de 30 milhões de euros.
Os arguidos estão acusados dos crimes de associação criminosa e tráfico de estupefacientes agravado.
O julgamento tem nove agentes da polícia espanhola como testemunhas, os quais – disse a O MINHO fonte ligada ao processo – vão falar nãosó da investigação do caso, mas dos antecedentes dos dois principais arguidos, residentes na Galiza, onde já estavam referenciados por atividades ligadas ao tráfico. Estes arguidos terão aliciado dois empresários minhotos, com a promessa de grandes ganhos na importação de contentores de fruta, mas com a coca escondida no interior…
822 quilos de coca
A acusação diz – e conforme O MINHO noticiou – que, no segundo semestre de 2022, o grupo procedeu à importação de dois contentores de bananas do Equador, no fundo dos quais “foram arrumados e dissimulados vários pacotes contendo cocaína – num contentor 70 pacotes, com o peso total de 105 quilos; e noutro 629 pacotes com o peso total de 717 quilos”.
No dia 15 de dezembro, quando dois dos contentores fizeram o transbordo em Algeciras, sul de Espanha, foram inspecionados pela Unidad de Analise e Riesgo (composta por elementos da Guardia Civil e das Aduanas espanholas daquele porto), a qual descobriu um fundo falso com os 629 pacotes de cocaína, que, no mercado, na venda a retalho, teriam um valor superior a 25 milhões de euros.
Esta diligência não foi do conhecimento dos arguidos e as autoridades espanholas deixaram seguir cinco embalagens de cocaína, sob a forma de «entrega controlada», para o porto de Leixões, local onde seriam, depois, recolhidas pela Polícia Judiciária de Braga.
A PJ seguiu a «mercadoria» e os arguidos, que se haviam instalado na Apúlia em Esposende, e que trataram de a trazer para o armazém da firma GYG, Unipessoal, L.da, no Lugar de Fervença, em Gilmonde, Barcelos. O grupo foi detido e a droga apreendida.
Seis arguidos presos
O julgamento envolve Manuel Gonzalez, de 56 anos, de Espanha, residente em Malaga, e atualmente preso na Polícia Judiciária do Porto (tido como o «cabecilha»); Adan Vol , de 52 anos, de Espanha, residente em Madrid, e também em reclusão naquela Polícia; Rui Miranda, de Barcelos, de 48 anos, (o dono da empresa GYG) e José Vicentini, de 56 anos, do Brasil, e residente em Gaia (o agente aduaneiro que desalfandegava as «bananas».
Engloba, ainda, Eugénio Teixeira, de 68 anos, empresário, das Marinhas, em Esposende;
Pedro Xavier Garcia, nascido , em Miami, EUA, residente na Florida, em reclusão na prisão anexa à PJ do Porto; Yunior Suazo, de 43 anos, da República Dominicana, com morada em Barcelona, e também na cadeia da PJ; Frank Canela, de 41 anos, da República Dominicana, morador em Amsterdão, e preso na mesma cadeia e Kurvin Bergonje, de 32 anos dos Países Baixos, morador em Amsterdão, e preso na PJ.
Associação criminosa
O Ministério Público considera que os arguidos Manuel Gonzalez, Adan Vol, Eugénio Teixeira, Rui Miranda e José Vicentini, chefiados pelo primeiro, conceberam um plano que lhes permitisse obter elevados ganhos económicos.
O propósito “centrava-se na introdução, na Península Ibérica, por via marítima, de grandes quantidades de cocaína, dissimulada em contentores de importação de fruta para comercialização”.
Para enganar as autoridades, e como a firma GYG não tinha historial de importação de fruta, e fosse determinante criar cadastro, reduzindo o risco de futuras fiscalizações, foi, de início, importado um contentor de manga, da América do Sul, mercadoria, que chegou em junho de 2022 ao porto de Vigo, sendo transportada para os armazéns da GYG, e cujo fim foi a destruição, por ter ficado imprópria para consumo.
A seguir, importaram bananas que acabaram por entregar ao Banco Alimentar Contra a Fome.
Gangue ganhou estrutura
A acusação diz, ainda, que, sob a liderança de Manuel Gonzalez, e para pôr em execução o projeto, o grupo foi ganhando organização e integrando novos elementos, designadamente, Óscar Giraldo, Hernán Bejarano, José Bulla Stella, Jonatan Jiménez e Guillermo Goméz (cuja responsabilidade criminal, irá ser apreciada em processo autónomo), bem como Frank Canela, Kurvin Bergonje, Pedro Xavier Garcia e Yunior Suazo
E diz, ainda, o magistrado: “Cada um assumia um papel diferenciado. Eugénio Teixeira centralizava a informação no tocante à constituição de empresas de fachada para importações”.
Rui Miranda disponibilizou a GYG Unipessoal, Lda., por si gerida, para a importação de cocaína, enquanto que José Américo Vicentini, agente aduaneiro, agilizava a burocracia das importações, fazendo contactos com empresas do ramo e com as autoridades portuárias, e aduaneiras.
Já Adan Vol angariava financiadores para a aquisição e transporte da droga agilizando as operações de financiamento e de introdução do estupefaciente.
Mais cinco com inquérito autónomo
O MP mandou extrair certidão quanto aos denunciados/arguidos Hernan Bejarano, Jonatan Jimenez, Guillermo Gómez, Óscar Giraldo e Jose Bulla Stella ( todos a viver no estrangeiro) para ser instaurado processo autónomo, mantendo aí (no novo inquérito) validade todos os atos já praticados no contexto dos vertentes autos (inquérito originário).
Também são suspeitos de um crime de tráfico de estupefacientes agravado, e de um crime de associação criminosa.