Uma empresa brasileira especializada no desenvolvimento de projetos de IT (Tecnologia da Informação) de gestão em ambientes inóspitos, que completa hoje 14 anos desde a sua fundação, abriu recentemente o seu primeiro escritório em Braga para iniciar a sua expansão pela Europa.
A ideia da Diagnext nasceu há um pouco mais de tempo, com a união das competências de três pessoas da mesma família: Leonardo Melo, Patrícia Coentrão e Alessandro Melo.
“A Diagnext nasceu com três sócios, um médico, que é o meu irmão, um engenheiro maluco, que sou eu, e a minha esposa, que é nutricionista com doutoramento em química. Eu sempre tive uma veia mais empresarial do que académica, o meu irmão e a minha esposa eram até mais académicos que eu”, explica Leonardo Melo a O MINHO.
A empresa foi criada com a ideia de “não fazer o fácil”, mas sim atuar em ambientes complexos.
No Brasil, a Diagnext especializou-se em trabalhar em locais realmente difíceis, tais como as favelas do Rio de Janeiro, a região montanhosa de Minas Gerais, o semiárido brasileiro, e um dos principais orgulhos da empresa: o coração da Amazónia.
“Não é apenas o facto de chegar nestes locais, mas ninguém quer ir para lá. Não adianta contratar um médico de São Paulo para atender na Amazónia, não tem o hábito, a doença é outra. Então decidimos criar a empresa para utilizar estes estudos para atender a estas finalidades”, disse Leonardo.
Durante a sua passagem no Estado do Amazonas, a Diagnext chegou a atender a 60 municípios. Segundo Leonardo, saíram por questões políticas, mas sem sucesso na reprodução do modelo, foram convidados a regressar e vão começar com 20 cidades.
Mas afinal, o que a Diagnext faz, e por que está em Braga? É uma empresa que possui quatro patentes, focada em atendimento em locais inóspitos, e com o desenvolvimente em IT, consegue gerir a parte tecnológica de um hospital, introduzir eficiência operacional, compressão de dados, otimização e reorganização de processos, expandir serviços de telemedicina, ajuda na descentralização da operação, e até dispositivos que o médico pode levar até ao paciente para fazer exames e depois encaminhar para outro local.
No entanto, Leonardo lembra que locais inóspitos não são apenas florestas e favelas. O próprio Hospital de Braga é um ambiente que a sua tecnologia pode ser aplicada, e a experiência no Brasil pode ser positiva.
“O inóspito não é necessariamente um local longe, mas com grandes volumes de atentimendo, com hospitais lotados, ambientes que não dão respostas às necessidades do paciente. A pandemia trouxe tudo isto e demonstrou as dificuldades não só aqui, mas em outros países também”, diz Leonardo:
“Há muita abertura para vir para cá. São locais diferentes, mas inóspitos também. A vinda para cá era planeada há muito tempo, lá entre 2015 e 2016”.
Os ambientes de testes da Diagnext foram em hospitais com grandes volumes de pacientes, estrutura que não comportavam. E com a sua tecnologia, conseguiram tirar a parte de IT do colapso.
O segundo passo é descentralizar a operação.
“O Hospital de Braga fica cheio porque as unidades de medicina familiar reencaminham para lá, então o caminho é levar a tecnologia do hospital para os centros de saúde, já fizemos muito isto”, aponta o carioca.
Ou seja, a proposta inicial é expandir o serviço de telemedicina para o interior de Portugal ou introduzir eficiência técnica de soluções e equipamentos que existam no local. E Leonardo garante que o primeiro objetivo é mesmo ajudar, até como forma de gratidão pela sua recepção na cidade.
“A empresa não tem um fim lucrativo vital, nós viemos de academia, somos investigadores, não há como fugir disto. E há uma série de dificuldades que não são simples, não faz sentido cobrar uma fortuna, os locais precisam disto. O que pretendemos fazer é entrar em contacto, trocar ideias, queremos conhecer, participar. Eu não vou cobrar nada, até porque Braga me acolheu. Eu tenho experiências diferentes, e no futuro até podemos pensar em cobrar alguma coisa, mas precisamos melhorar este ambiente clínico”, garante.
Além da expansão natural de um negócio, a motivação para desembarcar em Portugal foi para buscar espaço nos acordos bilaterais que Portugal possui na área, que segundo Leonardo, são muitos em relação ao Brasil, e pode facilitar na ida para locais como África, Médio Oriente e Sudeste Asiático.
Se a vinda para Portugal foi por este motivo, a escolha por Braga, além de logística, foi também sentimental. Leonardo, com a sua esposa, Patrícia Coentrão, passaram um mês no país, e a cidade foi o local mais acolhedor e conquistou o casal, que também tem família minhota.
Por causa da pandemia, a empresa ficou muito dedicada ao Brasil nos últimos anos, mas agora as operações em Braga vão mesmo arrancar. De início estão a fazer operações comerciais, fazer contactos e buscar parceiros. Deve arrancar com menos de 10 colaboradores e crescer de acordo com a demanda.
Tecnologias para auxiliar a saúde é um dos principais objetivos da empresa, mas a Diagnext também tem projetos na área da educação e da inclusão digital.