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O empresário de Braga Custódio Correia, detido por suspeitas de corrupção durante uma megaoperação da Polícia Judiciária com epicentro na Madeira, tem em curso várias obras não só naquele arquipélago mas também em Braga, Porto e Lisboa, algumas delas debaixo da sociedade VARINO, que une a construtora de luxo Socicorreia, da qual é administrador, e o grupo AFA, principal empresa visada nas buscas da autoridade.
Um dos maiores projetos da VARINO que se encontra em curso, é o “Dubai na Madeira”, um empreendimento com 400 apartamentos de luxo divididos por nove edifícios, anunciou em 2021 a sociedade detida pelo empresário de Braga em conjunto com o administrador do grupo AFA Avelino Farinha, também detido ontem pela PJ.
Na altura do anúncio, foi classificado como “o maior investimento privado residencial em Portugal”, num valor estimado de 400 milhões de euros para que seja possível a sua concretização, tendo já arrancado as obras em pelo menos dois dos edifícios previstos.
“Viver no ‘Dubai’ Madeira é poder desfrutar do prazer da escolha entre o ambiente citadino, restaurantes, lojas e centros de arte, como da diversidade de atividades que vão desde a aventura no Atlântico, à exploração da maior floresta Laurissilva do mundo”, lê-se no ‘site‘ do projeto, que apela ainda ao investimento estrangeiro através dos ‘vistos gold’, facilitando a inscrição.
O edifício Varino 05, com 37 apartamentos divididos por 7 pisos, já tem todas as frações vendidas. As obras arrancaram em 2021 e o seu término estava previsto para o final de 2023, início de 2024. Também os edifícios Varino 07 e 08 tiveram anúncio de construção, com o término anunciado para 2024 e 2025, respetivamente. Estes são os primeiros três edifícios daquilo a que o grupo ambiciona chamar “Dubai da Madeira”.
Mercado de luxo
Em comunicado, o grupo VARINO afirmava ter introduzido nas ilhas “o conceito de condomínios fechados com vastas áreas verdes e equipamentos, como piscina, ginásio e áreas de lazer, que contribuem para o bem-estar dos residentes”. Entretanto, a sociedade está presente na construção de condomínios fechados no Funchal e na venda de imobiliário em Lisboa.
Criada em 2016 com a união do Grupo AFA (Funchal) e a Socicorreia (Braga), a VARINO pretende unir “especialistas em obras públicas” com “forte aposta na hotelaria” e uma “construtora e promotora do segmento imobiliário de luxo”, para explorar imobiliário de luxo.
Em fevereiro de 2023, a Socicorreia anunciou a venda de mais de 110 milhões de euros em frações habitacionais para todo o ano, naquilo a que chamou de “um valor recorde correspondente à venda de 250 frações em empreendimentos distribuídos pelas três capitais nacionais: Lisboa, Funchal e Ponta Delgada”.
A venda resultou de 12 empreendimentos em curso: quatro em Lisboa – Século XXI 16, VARINO 03, 04 e 06, – mais 7 no Funchal – o Condomínio Século XXI (com 5 edifícios) e os edifícios VARINO 05 e 07 – e 1 em Ponta Delgada – Edifício Sea Lux 02. No ano passado viu ainda o arranque de um empreendimentos na Foz do Douro, no Porto, em Lisboa, em Ponta Delgada e no Funchal.
Investimentos em Braga
Com escritórios em Celeirós, Braga, de onde o empresário é natural, a Socicorreia tem investimentos no concelho, como é o caso do Edifício Chãos de Braga, um prédio numa das mais carismáticas ruas do centro da cidade de Braga que a empresa reabilitou. É composto por seis apartamentos com acabamentos de luxo de tipologias T1 e T2 e por um espaço comercial.
Em 2021, o grupo Socicorreia entrou no segmento do Turismo e da Hotelaria, investindo 2,5 milhões de euros no ‘Lux Housing Século XXI’, um alojamento local de luxo em Braga, também com apoio da VARINO.
Com cerca de 100 colaboradores diretos e 200 indiretos, o grupo ultrapassou, em quase duas décadas, os 250 milhões de euros de investimento.
Suspeitas de corrupção, participação económica em negócio e prevaricação
Como O MINHO noticiou, Custódio Correia, empresário de Braga, é um dos três detidos na Madeira, durante a megaoperação da Polícia Judiciária (PJ), a par do seu parceiro de negócios, Avelino Farinha, presidente do grupo AFA, e do presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD).
O empresário de Braga, CEO e principal acionista do grupo Socicorreia, encontrava-se no Funchal quando foi alvo de buscas domiciliárias, estando previsto ser transportado, esta quinta-feira, para Lisboa, para ser interrogado pelo juiz de instrução criminal, tal como os outros dois arguidos.
Na megaoperação da PJ foi também alvo de buscas e já constituído arguido o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.
A investigação tem por base suspeitas da prática de alegados crimes de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência, incluindo três inquéritos, que decorrem no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e têm todos eles ligações à Madeira.
Segundo o Ministério Público, estão sob investigação “dezenas de adjudicações em concursos públicos, envolvendo várias centenas de milhões de euros”, acrescentando “existirem suspeitas de que titulares de cargos políticos” tenham “favorecido indevidamente algumas sociedades/grupos em detrimento de outras ou em alguns casos de que tenham exercido influência com esse objetivo”.
A PJ realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias, na Região Autónoma da Madeira (Funchal, Câmara de Lobos, Machico e Ribeira Brava), na Grande Lisboa (Oeiras, Linda-a-Velha, Porto Salvo, Bucelas e Lisboa) e, ainda, em Braga, Porto, Paredes, Aguiar da Beira e Ponta Delgada.
As detenções, fora de flagrante delito, dos três suspeitos foram concretizadas às 14:15 de ontem, quarta-feira.
Inspetores viajaram em aviões da Força Aérea
Segundo a PJ, “nos inquéritos referenciados investigam-se factos suscetíveis de enquadrar eventuais práticas ilícitas conexas com adjudicação de contratos públicos de aquisição de bens e serviços, em troca de financiamento de atividade privada; suspeitas de patrocínio de atividade privada tendo por contrapartida o apoio e intervenção na adjudicação de procedimentos concursais a sociedades comerciais determinadas”.
As suspeitas recaem também sobre “a adjudicação de contratos públicos de empreitadas de obras de construção civil, em benefício ilegítimo de concretas sociedades comerciais e em prejuízo dos restantes concorrentes, com grave deturpação das regras de contratação pública, em troca do financiamento de atividade de natureza política e também de despesas pessoais”.
Na operação participaram dois juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público do DCIAP e seis elementos do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) da Procuradoria Geral da República, bem como 270 investigadores criminais e peritos da PJ, que foram transportados em dois voos da Força Aérea Portuguesa.