Os principais representantes diplomático e da comunidade israelita em Portugal apelaram hoje a maior apoio do governo e do povo português, no resgate dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza e combate ao antissemitismo.
Numa cerimónia na sinagoga de Lisboa assinalando o 1º aniversário do massacre no sul de Israel perpetrado pelo Hamas, e na presença do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o embaixador designado de Israel em Portugal, Oren Rosenblat, recordou os reféns que o movimento islamita ainda mantém em Gaza, e em particular o luso-israelita Idan Sthivi, cuja morte foi hoje confirmada.
“Apelo ao governo português para que atue pela libertação de todos os reféns, incluindo cidadãos portugueses que estão sob a responsabilidade direta do governo português”, afirmou o diplomata, num discurso em português perante representantes partidários e diplomáticos, além da comunidade israelita.
De acordo com o Rosenblat, a mãe de Idan Sthivi veio três vezes a Portugal e esteve com o Presidente da República: “Fez tudo o que era possível pelo filho, é muito triste”.
Agradecendo ao povo e governo português o apoio prestado até aqui, o diplomata pediu mais.
“Primeiro, apoio espiritual. Pedimos – aqui na sinagoga – ao povo português que reze por Israel e especialmente pelo regresso em segurança de todos os reféns. Mas também apoio político do povo e do governo (…). Este é o momento de mostrar solidariedade com Israel, de mostrar que não há lugar, nomeadamente em Portugal, para o antissemitismo”, disse o diplomata.
O 07 de outubro, afirmou, é “o acontecimento mais horrível da história do Estado de Israel”, com “cenas que lembram Holocausto nazi”, e foi seguido de ataques contínuos por parte dos aliados regionais do Irão – o Hezbollah a partir do Líbano, os Huthis a partir do Iémen e outros grupos no Iraque e Síria – apesar de não haver “qualquer disputa territorial”.
“A única disputa [com o Irão] é que enquanto querem matar-nos, nós queremos viver”, disse Rosenblat.
Na mesma linha, David Botelho, presidente da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), distinguiu as vítimas do Hamas – de “violência pura, indiscriminada, do ódio pelo ódio do extremismo pelo extremismo” – de outras que “colateralmente” são feitas nos ataques israelitas contra aquele movimento e que têm merecido condenação das Nações Unidas e apelos à restrição mesmo por parte de alguns dos principais aliados de Telavive.
“Israel, contudo, faz um esforço para diminuir os danos colaterais, [enquanto] o Hamas faz um esforço para aumentar os danos”, disse o presidente da CIL.
“Obviamente que o governo de Israel pode ser criticado e ser objeto de reparos, mas as críticas e os reparos ao governo não podem em circunstância alguma servir para desapoiar Israel, a única democracia naquela região e que partilha os valores do ocidente”, disse Botelho.
Numa cerimónia que encheu a sinagoga Shaare Tikvah, com diversos momentos evocativos das vítimas de 07 de outubro, o presidente da CIL deixou críticas às Nações Unidas e ao seu secretário-geral, parafraseando a frase deste “de muito má memória” de que o ataque do Hamas “não surgiu do vazio”.
“Os labirintos de túneis [na Faixa de Gaza] que foram e estão ainda a ser usados [pelo Hamas] como calabouços não nasceram do vazio, alguém os pagou”, afirmou.
Botelho sugeriu “seguir o rasto dos milhões para saber quem construiu estas infraestruturas”, de forma a apurar responsabilidades, defendendo que “o negócio do terrorismo” conta com “verbas de Estados-membros” da ONU e de países que presidem a organismos da mesma.
Criticou ainda o “viés tão grande e profundo” anti-israelita na ONU, mas também de António Guterres, na semana passado declarado ‘persona non grata’ por Telavive, na sequência do ataque iraniano com perto de duas centenas de mísseis contra Israel.
“O responsável máximo da ONU é pronto a condenar Israel e tão ligeiro a condenar quem ataca Israel. Estes dois pesos e estas duas medidas, esta forma tépida, tímida e descafeinada de condenar quem ataca e de responsabilizar quem é atacado pelos ataques que sofre tem de merecer reparo de todo o mundo”, disse Rosenblat.
No final da cerimónia, o ministro dos Negócios Estrangeiros não prestou declarações.
Falhas dos serviços secretos permitiram o maior ataque da história de Israel e o maior massacre de judeus desde o Holocausto, quase 1.200 pessoas num único dia, e o rapto de 251 reféns, 97 dos quais ainda em cativeiro na Faixa de Gaza, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 367.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 41.900 mortos (quase 2% da população), cerca de 17.000 dos quais menores, e de 97.000 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.