Em Roma, as orações pelo Papa ainda não convencem os turistas

“Não estão preocupados”
Foto: O MINHO / Arquivo

Na entrada da Praça de São Pedro, cidade de Roma, o “amigo” do cardeal Saraiva Martins está desiludido com as vendas dos terços com a imagem de Francisco, porque os turistas “não estão preocupados” com a doença do Papa.

Numa segunda-feira em que a chuva incomoda mas não afasta as filas de turistas que visitam o Vaticano, Alfredo possui uma das poucas bancas de venda de artigos religiosos ainda dentro do perímetro da Praça, logo após os primeiros separadores.

Em cadeiras de plástico, junto à pequena banca, estão dezenas de terços com a imagem do Papa Francisco, mas o negócio já não é o que era. “No tempo do João Paulo II é que se vendia muito. Agora não”, diz, recordando as semanas de doença terminal do pontífice polaco, em 2005.

“É só um euro mas poucos compram. Isso também é porque as notícias são melhores. Ele está num limbo e as pessoas acreditam que ele vai melhorar”, afirma.

Esta noite, a noite de Francisco foi mais calma, segundo os serviços de imprensa. “Passou bem a noite, dormiu e está a repousar”, declarou o Vaticano num breve comunicado.

No domingo, o Vaticano disse que o Papa continua em estado crítico no hospital Gemelli, em Roma, e que alguns exames de sangue indicavam uma insuficiência renal leve, mas sob controlo.

O Papa, de 88 anos, foi hospitalizado no dia 14 de fevereiro, na sequência de uma pneumonia nos dois pulmões e teve uma crise respiratória na sexta-feira, agravando o seu estado de saúde.

Nas ruas adjacentes à Praça de São Pedro e ao hospital estão dezenas de jornalistas e repórteres de imagem, fazendo diretos televisivos ou falando com quem passa, sempre com a abóbada da Basílica em fundo de ecrã. 

“Falei o que vim aqui fazer, rezar pela minha família e ver a capela Sistina”, diz o suíço Jerome, entrevistado instantes antes por um canal do seu país.

Não é a primeira vez que está em Roma e “não será a última”, porque é um sítio “onde se sente a paz que tanto precisamos no mundo”, afirma.  

A partir desta noite, as orações vão-se sentir mais nas ruas de Roma. Os cardeais residentes na cidade, “com todos os colaboradores da Cúria Romana e da Diocese de Roma, recolhendo os sentimentos do povo de Deus, reunir-se-ão na Praça de S. Pedro às 21:00, para a recitação do Santo Rosário pela saúde do Santo Padre”, refere o Vaticano.

A oração será presidida pelo secretário de Estado, Pietro Parolin.

Entre os peregrinos que prometem estar presente encontra-se Ivania, ucraniana que veio há três dias de Lviv, para rezar pela paz no seu país e pela saúde do Papa.

“Ele foi muito nosso amigo, tentou sempre ajudar-nos. Estou a rezar por nós e por ele. Que possamos os dois sobreviver”, diz a jovem, que tem o marido a combater no Donbass há dois anos.

“Vamos resistir os dois. Mesmo que haja quem não queira”, afirma Ivania, que tenciona regressar a casa na quarta-feira.

“Não quero ficar longe da minha Ucrânia. Se tivermos de perder, perdemos juntos”, diz.

A alguns metros, perto da ponte de Santo Ângelo, mãe e filho português vieram a Roma pela primeira vez.

“Estamos a fazer um cruzeiro que incluía Roma”, diz a mulher, que sabia da situação clínica do líder da Igreja Católica.

“Ele está mal. Esperemos que se recupere, porque tem sido um grande homem”, afirma.

Já Micha, uma japonesa de 38 anos que está a fazer uma viagem alargada pela Europa, não sabia sequer que o Papa estava doente.

“Eu não leio muito as notícias. É uma pena, gostava de o ter visto”, diz a professora de informática de Tóquio, que incluiu Roma numa viagem que a leva a cinco capitais europeias.

“Mas não Lisboa”, diz, sorrindo.

A poucos metros, junto à sua banca de artigos religiosos, que incluem também frasquinhos com água das fontes de Roma, Alfredo nunca foi a Lisboa, mas sabe onde fica a Guarda.

“É a terra do meu grande amigo, o cardeal Saraiva Martins. Um bom homem, um servo de Deus”, diz, apontando para uma janela defronte da Praça de São Pedro, onde vive o cardeal emérito, nascido em Gagos de Jarmelo, Guarda, há 93 anos, agora já muito doente.

“Teria sido um grande Papa, mas Deus não quis”, desabafa Alfredo.

 
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