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Têm microchip, são esterilizados, vacinados e desparasitados. Recebem comida, água e muito amor. Tudo pelas mãos dos colaboradores dos diversos equipamentos culturais de Arcos de Valdevez. Em cada local, são família. E as despesas são partilhadas por todos.
O Paço de Giela, a Casa das Artes, o Centro Interpretativo do Barroco e o Espaço Valdevez acolhem vários gatos que se confundem com os espaços, acompanham as visitas, ronronam a cada carinho, e transformam os locais em sítios de bem-estar.
Lima, Pipa, Nana e Carlos – Os reis do Paço de Giela
No sítio onde a história do concelho se mistura com a fundação de Portugal, o Lima, a Pipa, a Nana e o Carlitos são os verdadeiros reis do equipamento cultural.
No Paço de Giela são donos majestosos, de pêlo sedoso e de olhos curiosos. E percorrem, em liberdade, todos os caminhos do local, fazem a sesta na sombra das árvores e pernoitam, abrigados, no interior da receção.
Muitas das vezes, acompanham as visitas guiadas, sempre à frente e com porte de quem sabe para onde ir.
São uma das atrações turísticas do monumento histórico e não há quem passe sem tentar fazer uma festa. E há mesmo quem volte só para os rever.
Dois deles têm o nome que representa a história do Paço de Giela.
O Lima, de aparência sumptuosa, é o que resgata a maior atenção. De pêlo sublime e farfalhudo, branco e amarelo, é descrito como muito sociável, meigo, o “senhor da casa e o dono do Paço”, revela Lúcia Costa, uma das funcionárias do equipamento cultural.
Ou não tivesse ele o nome inspirado na “família dos Lima, e dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira”.



Nasceu em 2016, um ano após a abertura do Paço de Giela e, desde então, já se tornou num símbolo do espaço, que até faz pose para as fotografias.
A Pipa deve o nome a D. Filipa da Cunha, uma “das senhoras do Paço de Giela”, explica Lúcia Costa. De pêlo tartaruga, foi encontrada na rua em muito mau estado, com cerca de 8 a 15 dias.


“Acolhemos, cuidamos, foi ficando e agora é mais um elemento da família, muito amada e estimada”, assegura Lúcia, com um brilho nos olhos e sorriso no rosto.
Mais reservada com as pessoas, gosta do seu “cantinho”, de passear e da sua independência.
A Nana, irmã do Lima, é uma gatinha tricolor, muito meiga, carinhosa, e aproxima-se dos visitantes para pedir atenção. “Vai mesmo com as patinhas para chamar”, descreve Andreia Loureiro, também funcionária do Paço.



O mais recente inquilino chegou bastante selvagem, já adulto, e denunciava traços que teria sido “violentado”. Mas, como em tudo, o amor faz mesmo milagres. “Quando chegou tinha muito medo, fugia mal ouvia passos”, relembram.
Dois anos depois, o Carlitos não larga quem o trouxe para um porto seguro. “Está sempre colado às minhas pernas, e é a minha sombra”, revela Andreia Loureiro, com orgulho.


Não faltam histórias caricatas que preenchem a vida e os lugares por onde passam.
O Lima viajou, de livre vontade, com a empresa de logística que veio desmontar as estruturas da noite de Halloween. “Na manhã do dia seguinte recebo uma fotografia no telemóvel. Era uma imagem do Lima. Fomos buscá-lo a Famalicão e trouxemo-lo de volta a casa”, conta Lúcia Costa, entre risos.
Já a Nana “gosta de entrar para os carros e aproveitar o sol por cima da bagageira”. E acaba por “pregar algumas partidas aos visitantes”.

Num ambiente rodeado de amor, os cuidados nunca são ignorados. Desde os testes de alergia (e respetiva medicação) da Pipa, à cirurgia dentária da Nana devido ao tártaro, os gastos financeiros são sempre partilhados entre todas as colaboradoras.
Casa das Artes – A memória do Artes e a presença da Bastet
O Artes foi o primeiro de todos os gatos acolhidos nos equipamentos públicos e culturais arcuenses. Um nome definitivamente associado ao espaço que o recebeu e onde morou até junho de 2009.
“Estávamos a montar o Conselho de Estado dedicado a Mário Soares, a porta de baixo estava sempre aberta e o Artes saiu. Nunca mais apareceu. Batemos as casas todas, o rio, pusemos cartazes, falamos com as pessoas e nada”, recorda Nuno Soares, responsável pela Divisão de Desenvolvimento Sociocultural e diretor da Casa das Artes.
“Entretanto passou-se o verão e, numa noite de chuva, em setembro, está uma bolinha de pêlo aqui, na entrada. Eu olhei e era um gato a miar. Trouxemos para dentro e é a Bastet”, descreve Nuno Soares.
O nome deve-se à Deusa Egípcia associada aos gatos, à proteção, à música e ao amor. Nada mais apropriado para quem vive rodeado de arte. Dezasseis anos depois, e com o diminutivo de Bast, a gatinha ocupa um espaço no coração de cada pessoa com quem se cruza.
Desde o colo da grande Eunice Munoz e da Rita Redshoes, até interromper as gravações do “Terra Nossa”, com César Mourão, a Bastet é, talvez, a gata com um currículo de conhecimentos que faz inveja a qualquer um.

Guarda no pêlo cheio de cores, as memórias das festas e dos carinhos dos diversos músicos, atores e artistas que passam pela Casa das Artes. E conhece os bastidores e cada canto como ninguém.
É livre para passear, dormir nas cadeiras da receção, estender-se no chão da Casa das Artes e descansar, profundamente, num puff reservado só para ela.
A Bastet é “paz, absoluta paz”, descreve Nuno Soares, de forma emocionada.
As saudades de Diego e a ternura da Frida no Centro de Interpretação do Barroco
Quem entra no Centro de Interpretação do Barroco (CIB) é acolhido por uma gatinha tartaruga, cheia de pêlo, com cerca de dois anos e que explora todas as esquinas, espaços e refúgios do monumento.
“A Frida foi encontrada no telhado da Casa das Artes, resgataram-na e, ainda bebé, veio para cá”, adianta Sara Pinto, funcionária do CIB.




“É um docinho, a gata mais meiga que eu conheço. Um verdadeiro pote de mel. Adora vir para o colo, não adora, propriamente, pessoas, mas se lhe fizerem uma festa, fica toda contente”, descreve, cheia de emoção.
Meses depois, “apareceram dois gatinhos bebés de cor preta, nas traseiras do edifício, junto às escadas interiores”, recorda Sara.
“Foram colocados para adoção, mas apenas um foi para uma família. O outro, Diego, acabou por fazer companhia à Frida “, lembra.
Era um “gato sem medo de nada, sem noção do perigo”e “ia ter com toda a gente”. “Exigia atenção a qualquer visitante que entrasse, miava, ia para o colo e, quando iam fazer a visita, acompanhava”, assinala.


Diego tinha pouco mais de um ano quando partiu e a dor da perda ainda é visível no rosto de Sara Pinto: “No dia seguinte, eu e a Pilar (a outra funcionária do CIB) estávamos a chorar, veio uma senhora com um cão de assistência, e perguntou por ele. Quando soube que tinha partido, ficou triste e referiu que vinha sempre a este jardim (Jardim dos Centenários) para lhe dizer um olá”.
As histórias sucedem-se na memória. “Uma vez subiu ao púlpito e trepou para a janela interior no cimo do edifício. Foi necessária uma escada, e muita dedicação, para o trazer em segurança, para o chão”, recorda.
Numa outra altura, o Diego subiu até ao topo de um pinheiro no Jardim dos Centenários. “Pedimos, pelas alminhas, que descesse, mas não. Foi preciso uma grua para o retirar”, lembra, com saudade, Sara Pinto.
A “Caramela” do Espaço Valdevez
A Caramela, mais conhecida como Mela, é a estrela do Espaço Valdevez. Tem família, mas é lá que passa grande parte do tempo, durante o dia. Colada à porta, a receber quem entra. Por vezes, passeia até ao Centro Interpretativo do Barroco, onde é acarinhada por todos.
É alimentada, cuidada e amada, num local central da vila e onde a história de Arcos de Valdevez atravessa séculos e patamares. E não há quem lhe fique indiferente.
De cor amarela, olhos verdes, a Mela ganha comida, água e amor, pelas mãos carinhosas da colaboradora Alexandrina e, à noite regressa à outra casa que escolheu.


Em cada espaço e equipamento cultural de Arcos de Valdevez, os gatos assumem a casa e dominam o coração de quem cuida deles. Funcionários e colaboradores tornaram-se nas famílias de cada um e dedicam tempo, dinheiro e amor aos felinos.
Vivem em liberdade, rodeados de atenção e prontos para acolher quem entra para visitar.