O Projeto HomeWork: des/igualdades de género na conciliação de teletrabalho e coabitação concluiu que as mulheres passam o mesmo número de horas que os homens em trabalho remunerado, mas dedicam mais tempo a atividades domésticas e de cuidado.
Este estudo, que teve como produto final um Livro Branco, com recomendações nesta matéria, e que foi hoje apresentado, no Porto, pretendeu avaliar o impacto da pandemia provocada pela Covid-19 na conciliação familiar e profissional e, integrando uma perspetiva de género, visou contribuir para a melhoria do sistema jurídico português e/ou políticas públicas na promoção da igualdade entre mulheres e homens.
Neste projeto foram desenvolvidos estudos empíricos que permitiram aceder às experiências dos profissionais e perspetivas organizacionais, relativamente à conciliação do teletrabalho em contexto coabitacional/familiar.
A investigadora, e uma das autoras do projeto, Rita Grave disse à Lusa que “as pessoas estão muito satisfeitas com o teletrabalho e querem manter este modelo”.
Contudo, “as mulheres passam o mesmo número de horas que os homens em trabalho remunerado, mas dedicam mais tempo a atividades domésticas e de cuidado”, assim, “para as mulheres, os benefícios do teletrabalho parecem estar nos ganhos para a conciliação entre trabalho e a família, enquanto os homens parecem retirar benefícios individuais (com contributos mais pessoais, lazer e ginásio, por exemplo), o que se traduz num reforço de papéis tradicionais de género, com prejuízos para o bem-estar das mulheres”, sustentou.
No Livro Branco, inédito em Portugal, defende-se, entre muitas recomendações, que se utilizem sistemas de lembretes para a realização de pausas e que alertem quando ultrapassado o número de horas de trabalho previstas para o dia.
Recomenda-se, também, que cada entidade empregadora elabore um código de conduta em teletrabalho, fazendo constar o mesmo em regulamento interno.
Propõe-se que este código deve ser publicitado e deve identificar explicitamente os canais e regras de comunicação a utilizar em teletrabalho, limites de interações, assim como mecanismos de reporte em caso de incumprimento.
Os desafios de conciliação da vida profissional e familiar em teletrabalho são diferentes em função do género e podem condicionar as escolhas de trabalhadores, podendo ainda agravar situações de violência doméstica, pelo que a equipa de investigadores recomenda que “a temática do teletrabalho seja integrada em materiais e programas de promoção da igualdade de género e prevenção da violência contra as mulheres, abordando os riscos e benefícios desta modalidade de teletrabalho”.
“Esta ideia de Livro Branco é um documento para ser devolvido ao Estado, com recomendações ao nível das políticas públicas do nosso país. É um conjunto de recomendações que indicam precisamente a questão da promoção da igualdade de género e da conciliação ao nível de três vetores, que são pessoas, Estado e instituições, ou seja, a diferentes níveis, para que possam propor medidas de promoção de igualdade de género, justiça social e a questão da conciliação”, referiu Liliana Rodrigues, uma das coordenadoras deste projeto.
O conjunto de propostas visa colmatar os efeitos negativos do teletrabalho que recaem desproporcionalmente sobre mulheres e promover a igualdade de género também em teletrabalho.
Nesta investigação, que numa primeira fase decorreu entre março e julho de 2023, tendo sido inquiridas 341 pessoas, que trabalham a partir de casa e em coabitação, e numa segunda fase, de julho a setembro de 2023, realizou-se um estudo de caso numa empresa nacional, que incluiu entrevistas semiestruturadas a 11 dirigentes da instituição.
O Projeto HomeWork, financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu EEAGRANTS do Programa Conciliação e Igualdade de Género, foi desenvolvido com a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, como operadora do programa, e promovido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Teve como países parceiros a Islândia, Noruega e Liechtenstein, e a colaboração das empresas nacionais Ascendi e CGTP e da norueguesa Fafo.