O regresso de César Peixoto ao comando do Paços de Ferreira cerca de dois meses e meio depois deveu-se à sua convicção em revitalizar o 18.º e último classificado da I Liga de futebol, confidenciou hoje o treinador.
“Agradeço a confiança de toda a direção. Penso que é um momento diferente no futebol português para mim e para qualquer treinador, clube e direção, que nos fez pensar muito até tomar uma decisão. Para mim, seria mais fácil ficar em casa. Tinha contrato com um clube cumpridor, estava a receber da mesma forma e não tinha o risco, até para a minha carreira, de voltar ao Paços de Ferreira”, vincou o técnico, em conferência de imprensa.
O antigo defesa internacional português, de 42 anos, tinha abandonado os ‘castores’ em 16 de outubro de 2022, na sequência da ‘queda’ na terceira ronda da Taça de Portugal pelo Vitória de Setúbal (3-0), da Liga 3, volvidos dois empates e sete derrotas na I Liga.
“Por convicção, acredito no meu trabalho, nas pessoas e neste projeto, que naturalmente foi interrompido, porque não tinha resultados. Não há mágoa nenhuma desse passado. O futebol é mesmo assim. Podemos estar a fazer muita coisa bem, mas quando a bola bate na barra ou no poste e não entra, as pessoas têm de tomar alguma decisão na tentativa de fazerem o melhor para o clube. Sempre disse que senti os jogadores comigo, uma vez que acreditavam na minha ideia. Os resultados não surgiram e acabei por sair”, lembrou.
César Peixoto regressa “de cabeça levantada” ao Paços de Ferreira, que, sob alçada do seu sucessor José Mota, perdeu três jogos no campeonato e averbou duas igualdades e um desaire no Grupo D da Taça da Liga, enquanto Marco Paiva comandou interinamente os nortenhos na derrota frente ao Sporting (0-3), na quinta-feira, da 14.ª ronda da I Liga.
“Venho muito convicto de que poderemos tentar dar a volta. Não sou burro nem estúpido ao ponto de pensar que agora isto vai ser tudo um mar de rosas. Temos de estar todos unidos e acreditar que é possível, sendo muito difícil”, reconheceu, assegurando que “vai mexer na equipa técnica e em algumas coisas na forma de jogar e trazer coisas novas”.
A viver o pior arranque de sempre em 24 participações no escalão principal, o Paços de Ferreira tem apenas dois pontos, estando já a cinco do Marítimo, 17.º colocado, a 10 do Gil Vicente, 16.º, e a 11 do Santa Clara, último clube nos lugares de permanência direta.
“O meu regresso acelera um bocado, porque conheço perfeitamente o plantel e o clube. Se calhar, era impossível eu próprio imaginar que estava aqui dois meses depois. Se há atividade em que tudo pode ser possível é no futebol. Temos de ganhar, fazer o nosso trabalho e acreditar. Será jogo a jogo e até ao último segundo do campeonato”, apontou.
Com passagens anteriores por Varzim, Académica, Desportivo de Chaves e Moreirense, César Peixoto tinha ingressado inicialmente nos ‘castores’ em dezembro de 2021 para render Jorge Simão e terminar a edição 2021/22 da I Liga, no 11.º lugar, com 38 pontos.
“Em Portugal temos a teoria de que os resultados só fazem o treinador, mas não é esta decisão que vai ditar a minha carreira, independentemente do resultado final. Tenho três anos como treinador e muito para aprender. Muitas vezes, vaticinamos o final de carreira de jogadores e treinadores com facilidade. O futebol tem muito que se diga e dá bastante trabalho. Não é só sorte, que também ajuda de vez em quando e dá trabalho”, observou.
O ex-lateral foi apresentado na companhia do presidente da SDUQ, Paulo Meneses, que rejeitou rotulá-lo de “treinador de recurso” no “retomar do projeto”, mas lembrou que esse retorno ao clube até “não estava a ser equacionado de forma real” a meio de dezembro.
“Certamente, passa para fora a imagem de que esta equipa técnica regressa a Paços de Ferreira porque outras foram impossíveis. Tive a coragem de dizer ao César Peixoto que convidei uma [outra] equipa técnica para estar aqui hoje. Disse-o de forma frontal”, atirou, predisposto a “cumprir integralmente o contrato de ano e meio celebrado anteriormente”.
Diante de uma “situação que faz história no futebol em Portugal”, ao “fazer regressar um treinador na mesma época em que sai”, Paulo Meneses assumiu a “necessidade de mais dois ou três jogadores que possam ser titulares”, horas depois do regresso do brasileiro Maracás, que se juntou a Alexandre Guedes entre os reforços assegurados no mercado.
“Passou-se a ideia de que havia um pedido dos jogadores para que esta equipa técnica voltasse. Nunca permitiria que um treinador fosse escolhido pelos atletas. Se houvesse algum domínio da parte deles, com certeza que César Peixoto não teria saído”, concluiu.
O Paços de Ferreira recebe o Desportivo de Chaves, 10.º colocado, com 19 pontos, no domingo, a partir das 15:30, no Estádio Capital do Móvel, para a 15.ª jornada da I Liga.
77 dias depois
O treinador César Peixoto está de regresso ao comando técnico do Paços de Ferreira apenas 77 dias depois de ter deixado o cargo que ocupava no último classificado da I Liga portuguesa de futebol.
A insólita situação acontece cerca de dois meses e meio após ter deixado a ‘capital do móvel’, na sequência da eliminação dos pacenses da Taça de Portugal, perante o Vitória de Setúbal, em 17 de outubro de 2022, sendo na altura substituído por José Mota.
Contudo, o experiente técnico durou somente 58 dias no cargo, até ser rendido de forma interina por Marco Paiva, que apenas liderou o Paços num jogo, perante o Sporting (derrota por 3-0), em Alvalade, na quinta-feira passada, em jogo da 14.ª jornada da I Liga.
César Peixoto, de 42 anos, que conta ainda com passagens por Varzim, Académica, Desportivo de Chaves e Moreirense, já tinha terminado a temporada anterior ao comando dos ‘castores’, alcançando um 11.º lugar na I Liga, mas na presente edição da prova não tinha conseguido mais do que dois empates em nove jogos.
De resto, ao fim de 14 jornadas, o Paços de Ferreira ocupa o último lugar, sendo que no global da época, ou seja em 18 encontros oficiais, ainda não logrou qualquer triunfo, averbando 14 desaires e quatro empates.
Peixoto protagoniza a terceira mudança no comando dos pacenses esta época, ainda que o antecessor, Marco Paiva, tivesse assumido as funções somente de forma interina, depois da saída de José Mota.
A I Liga 2022/23 já registou outras oito mudanças desde o arranque, em agosto último, a primeira das quais com a entrada de João Henriques para o lugar de Vasco Seabra no Marítimo, estavam decorridas cinco rondas do campeonato.
O mesmo João Henriques acabaria por ser rendido nos insulares por José Gomes, há cerca de duas semanas, precisamente na mesma altura em que Manuel Tulipa assumiu interinamente a função no Vizela após a saída de Álvaro Pacheco, técnico que liderava os vizelenses desde 2019/20, ainda no Campeonato de Portugal (na altura, o terceiro escalão).
À sétima ronda, Rui Pedro Silva deixou o Famalicão em 16.º e antepenúltimo lugar, com quatro pontos, para ser substituído por João Pedro Sousa, que regressou ao emblema famalicense após uma primeira passagem entre 2019 e 2021.
Já depois de César Peixoto dizer ‘adeus’ – que se revelou temporário – ao Paços de Ferreira, após a nona jornada do campeonato, o Gil Vicente também mexeu na liderança da equipa, com a saída de Ivo Vieira, à passagem da 11.ª ronda da I Liga.
O interino Carlos Cunha comandou os gilistas na 12.ª e 13.ª jornadas, averbando duas derrotas no mesmo número de partidas, abrindo caminho para a chegada de Daniel Sousa, que tem em Barcelos o primeiro desafio como treinador principal, depois de vários anos a integrar as equipas técnicas de André Villas-Boas.
Na próxima ronda, a 15.ª, o lanterna-vermelha Paços de Ferreira, com apenas dois pontos, recebe o Desportivo de Chaves, 10.º, com 19, no domingo, a partir das 15:30.