“E quem é que não gosta de Arcos de Valdevez?”

Reportagem

Quem é que não gosta de Arcos de Valdevez? A questão foi deixada por Alfredo Pavanito, alentejano de gema, residente em Viana, que, por estes dias, está de visita ao lugar onde “Portugal se fez”.

Alfredo, com 75 anos, é um dos muitos portugueses que, em tempos de pandemia, não arrisca uma ida mais longe, sabendo que tem ‘quase ao pé de casa’ uma região onde não falta o que ver. Decidiu, em conjunto com a companheira Lurdes Passos, de 71, passar esta sexta-feira numa visita às regiões do interior minhoto, parando em Arcos de Valdevez para jantar.

“Quem quer perder barriga não pode parar cá, porque aqui é onde se come bem”, vinca o alentejano residente em Monserrate, “ao pé do campo do Vianense”. Mas não foi a comida que trouxe o casal a terras do rio Vez, como conta o antigo trabalhador da indústria do açúcar.

“Não faço as coisas por acaso. Nasci no Alentejo, trabalhei 40 anos em Lisboa, e há 16 anos fui aos Açores conhecer uma minhota de gema que me trouxe para o Minho e ainda cá estou”, contextualiza.

Foto: Fernando André Silva / O MINHO

“Há muitos anos que conheço a zona do Gerês e da Peneda e quando quero tranquilizar o espírito, venho a Arcos de Valdevez”, remata bem disposto enquanto termina a refeição. “Repare, até o leitão aqui é bom, nem é preciso ir à Bairrada”, confidencia entre risos.

E Maria Isabel Sarramalha, proprietária do restaurante e hotel Santa Isabel, corrobora a opinião do turista. “As pessoas gostam de comer e de passar tempo no Santa Isabel”, afiança a empresária, enquanto vai orientando novos comensais na esplanada virada ao campo do Trasladário, onde se deu um dos principais passos pela independência de Portugal, no tempo de D. Afonso Henriques.

Confessa que a pandemia afetou bastante o negócio, mas com os portugueses e com alguns emigrantes, “a coisa tem ficado composta”. Assegura que tem tido clientes, tanto para o restaurante como para o hotel que gere, muito à base de portugueses, alguns emigrantes, e “um ou outro” espanhol.

Maria Isabel. Foto: Fernando André Silva / O MINHO

“Americanos é que nem vê-los. O ano passado andavam muito por cá mas este ano, por causa da covid, não põe cá os pés”, lamenta Maria Isabel.

Explica que, este ano, tem visto muitas caras novas por entre os portugueses. “Geralmente conhecemos os clientes, voltam regularmente, mas esta ano há muitos portugueses que nunca os tinha visto. Acho que aproveitaram a pandemia para conhecer o Minho”, diz.

A proprietária lamenta, no entanto, a quebra que sente pela altura das festas, mas compreende que não possam ser feitas por causa do risco de transmissão. “Vamo-nos aguentando”, remata.

Júlio Barros, proprietário do restaurante A Floresta, concorda com a colega do ramo da restauração. Paredes meias com o hotel Santa Isabel, os dois empresários são, talvez, o principal rosto dos restaurantes no centro de Arcos, e costumam ter as esplanadas cheias, mesmo em tempo de pandemia.

Júlio Barros. Foto: Fernando André Silva / O MINHO

“Notámos uma quebra de cerca de 50 por cento, mas mesmo assim tem dado para manter a casa, não mandámos ninguém para lay-off e não penso em ter que despedir ninguém”, assegura o empresário.

À semelhança de Maria Isabel, também Júlio aponta “muitos portugueses” desconhecidos a frequentarem o restaurante, assim como emigrantes, “que vão começando a chegar” e “um ou outro espanhol”. “Americanos é que não”, responde.

Ao contrário da colega, Júlio acha que se poderiam fazer algumas festas no concelho, como é o caso das tradicionais ‘rodas’ de concertina, realizadas aos domingos em frente aos restaurantes.

“Gostava de dizer ao senhor vereador Olegário Gonçalves para voltar a fazer umas festas, a ver se isto anima mais um pouco, mas com as devidas normas sanitárias, claro”, rematou o empresário.

António Resende veio da zona do Porto e está em Arcos de Valdevez para o fim de semana. Residente em Valongo, delicia-se com umas “postas de vaca cachena” no restaurante A Floresta.

Foto: Fernando André Silva / O MINHO

“Viemos para o Minho porque queríamos fazer férias em família no meio da natureza e decidimos, este ano, experimentar a zona de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca”, assegura o empresário do ramo têxtil.

“É preciso fazer notar que não estamos em altura de viagens muito longas. O ano passado estávamos todos no Algarve, por esta altura, mas este ano decidimos conhecer melhor a região Norte”, aponta.

Também a esposa, Clara Garcia, concorda, acrescentando que “o Minho tem tanto para conhecer, porque iríamos para outro lado quando temos isto aqui ‘no quintal’ de casa?”.

Foto: Fernando André Silva / O MINHO

Arcos de Valdevez já foi fustigado com surtos de covid-19 no início da pandemia, chegando a atingir os 83 casos acumulados. Atualmente, e segundo informações recolhidas por O MINHO junto de fonte local da saúde, não tem qualquer caso ativo da doença.

 
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