A população de ursos pardos da Península Ibérica tem aumentado e há espécimes perto da fronteira com Portugal, havendo também possibilidade de, ao longo dos próximos anos, vermos alguns destes animais a cruzarem a fronteira. Não é um facto, mas é de uma probabilidade elevada, disse a O MINHO Guillermo Palomero, ambientalista e presidente da Fundación Oso Pardo (Fundação Urso Pardo), que se dedica à conservação dos ursos que habitam o Norte de Espanha
A última visita de um urso – e a primeira em quase 180 anos – ocorreu entre maio e junho de 2019, no Parque Natural de Montesinho, em Bragança (Trás-os-Montes), precisamente há dois anos. Na altura, poucos acreditavam num apicultor que se queixava do desaparecimento drástico de 50 quilos de mel das colmeias. Afirmava também ter visto um urso a fugir. Mais tarde, a informação foi confirmada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelando que existia mesmo um urso a deambular por território português.
De volta à fundação que estuda os ursos, Guillermo Palomero, presidente, afirmou recentemente numa entrevista a um jornal espanhol que os ursos estavam a expandir território, com uma grande probabilidade de entrarem em Portugal. Contudo, explicou a O MINHO que terá sido mal interpretado pela publicação espanhola, e que isso não significa que os ursos “estejam a invadir” o Minho ou Trás-os-Montes através da fronteira.
“Não disse que estão a entrar em força em Portugal e no País Basco, conforme foi publicado. O que eu quis dizer é que já foi detetado um urso que atravessou a fronteira e que há registo de ursos cada vez mais próximos de alguns pontos ao redor da fronteira, como é o caso de Zamora”, esclarece.
Todavia, Palomero não tem dúvidas que a probabilidade de vermos mais ursos do lado português é bastante elevada, sobretudo ao longo da próxima década, dada a grande movimentação típica destes mamíferos. No entanto, não acredita que os ursos possam ficar a viver em Portugal, sendo apenas avistados de passagem, como quando o urso resolveu levar o mel ao apicultor raiano.
“Temos exemplos de machos que foram desde os bosques cantábricos (cerca de 150 quilómetros em linha reta da fronteira portuguesa) até Zamora, percorrendo grandes distâncias, mas é preciso recordar que, do lado português, apenas foi avistado um urso em mais de 150 anos, por isso não podemos dizer que estão a expandir-se para Portugal”, relembrou.
Questionado por O MINHO, Palomero confessa ainda não ter estudado o habitat típico do Minho ou o de Trás-os-Montes, para saber se há possibilidade de os ursos se mudarem para esta zona da península. “Não sei se será o habitat apropriado, porque são necessários bosques mais ‘cerrados’, com vegetação espessa, onde o ser humano não consiga penetrar, de forma a dar um local de refúgio aos animais. Também precisam de grandes castanhais para se alimentarem”, assinala.
De acordo com o livro ‘Urso Pardo em Portugal – Crónica de uma extinção’, de Paulo Caetano e Miguel Brandão Pimenta, publicado em 2017, o último urso pardo a viver em Portugal foi abatido em 1843, na zona do Gerês. Antes disso, há uma publicação sobre um urso pardo abatido referente a 1659, também no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Em Espanha, todavia, os ursos acabaram por se refugiar nas terras altas das Astúrias, até que passaram a uma espécie protegida pelas autoridades governamentais. Atualmente, existem cerca de 250 exemplares de urso pardo na região cantábrica, os mesmos que, estima-se, podem regressar timidamente a Portugal, nem que seja só para ‘levar’ o mel aos apicultores.