Hugo Pereira, tem 24 anos, é natural de Ponte de Lima e venceu o Dutch Classical Talent (Talento Clássico Holandês) no passado mês de maio, com o grupo Kãna Percussion Trio.
O concurso, similar ao Prémio Jovens Músicos em Portugal, distingue os melhores jovens talentos clássicos dos Países Baixos.
Os candidatos não podem ter mais de 28 anos e têm que frequentar, ou ter frequentado, um Conservatório neerlandês.
Em declarações a O MINHO, Hugo Pereira mostrou-se feliz e orgulhoso pela conquista, e salientou que a vitória abre portas importantes a quem está a começar.
“Para além dos 10 mil euros, que nos vão ajudar a concretizar alguns projetos que estão parados, este prémio empurra os artistas para os holofotes do país e ajuda a pôr os jovens músicos no mapa”, revelou Hugo.
Apesar de tocarem juntos há cinco anos, e de já terem conquistado “alguma fama na Holanda”, a vitória abriu a agenda de espetáculos para o próximo ano.

“Logo depois de termos ganho a final, recebemos muitos pedidos de concertos para a próxima época. E vamos tocar, esta quinta-feira, na rádio nacional”, acrescentou ao nosso jornal.
Finalistas constroem espetáculo inédito e fazem uma tour de 14 concertos pelo país
O Dutch Classical Talent desenvolve-se em três fases. A primeira eliminatória tem 32 candidatos. Destes, apenas oito passam à segunda fase. E são escolhidos somente três como finalistas, que passam à fase final.

“Após a divulgação dos finalistas, os candidatos passam por um percurso de 18 meses, onde cada um é orientado por um supervisor que acaba por guiar os candidatos na construção do concerto para a Tour, com um orçamento já definido”, explicou Hugo Pereira.
As regras ditam que chegados à fase final, cada finalista tem de fazer uma Tour de 14 concertos, espalhados pelos mais emblemáticos locais dos Países Baixos.
Em cada espetáculo, com a duração média de uma hora, são avaliados pelo público e pelos elementos do júri, que vai acompanhando as performances de cada finalista.

No final, há um concerto onde atuam os três finalistas e onde são divulgados os vencedores do Júri e do Público.
Trio conquistou o júri com espetáculo sobre o Homem e a Natureza
Com o tema “A relação dos Humanos e a Natureza”, o espetáculo dos Kãna Percussion Trio pretendeu trazer “algo relacionado com a atualidade”.
“O espetáculo não pretendia fazer uma afirmação sobre o que está bem e o que está mal, mas sim colocar um espelho à frente da audiência, mostrando a realidade e acabar o concerto com um fim aberto”, descreveu Hugo Pereira.
“Ou seja, cada pessoa vai para casa e pode achar coisas diferentes. A intenção é permitir que as pessoas façam uma reflexão sobre este tema”, salientou a O MINHO o jovem músico.

Para além do Kãna Percussion Trio, estiveram em competição a mezzo – soprano Isabel Pronk e um quarteto de saxofones, Osimun Quartet, mas a atuação do trio de percussão impressionou o júri, que não teve dúvidas em atribuir-lhes a vitória.
“O Kāna Percussion Trio criou um programa social admirável com uma bela estrutura, na qual a mensagem é subtil, mas claramente embalada. A sua execução é impulsionada e precisa, e a energia espirra dos instrumentos de percussão”, escreveu a organização na página oficial do evento.
Percurso na música começou em Ponte de Lima, passou por Viana do Castelo e chegou até aos Países Baixos
Em declarações a O MINHO, Hugo Pereira revela que começou “na música muito novo porque queria tocar guitarra”.
“Com seis anos, a minha mãe pôs-me a aprender guitarra clássica em Refoios do Lima, de onde eu sou natural. Na escola primária (1.º ciclo) tive aulas de bateria”, explicou.

Aí, começou a nascer um amor maior, e acabou por entrar para a Academia Fernandes Fão, em Ponte de Lima, e ingressar no Curso Básico de Percussão.
Desde então, a música ganhou um estatuto principal e, no 9.º ano, foi estudar para a Escola Profissional de Viana do Castelo, a cidade onde ficou a viver até ao 12.º ano.
Terminado o secundário, e com apenas 18 anos, rumou a Roterdão, nos Países Baixos, para se dedicar, de corpo e alma, à música e à percussão.

“A comunidade portuguesa cá é grande e, por isso, a mudança foi boa. E também tive muita gente do meu departamento de percussão que me ajudou”, assegurou.
Seis anos depois, Hugo Pereira está a acabar o Mestrado, dá aulas, tem concertos e espetáculos com orquestras (Orquestra Filarmónica de Roterdão, por exemplo), e acaba de vencer um dos mais prestigiados e importantes prémios para jovens músicos.
De Ponte de Lima, levou a saudade da família, do local onde cresceu e, claro, da famosa gastronomia.