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Diogo Miranda, de 32 anos, natural de Guimarães, é o diretor-geral do melhor restaurante do mundo. O restaurante “Central”, em Lima, no Peru, chegou, este ano, ao primeiro lugar da lista “The World’s 50 Best Restaurants”. “É muita felicidade. É o trabalho de uma vida que está aqui”, afirma o vimaranense a O MINHO.
Aos 16 anos, Diogo Miranda deixou Guimarães para ir estudar Gestão Hoteleira. Esteve um ano na Irlanda, no Crana College, e depois completou a formação superior na Les Roches Marbella International School of Hotel Management.
Desde então já trabalhou em África, na China, no Médio Oriente, na Itália e, desde 2018, está no Peru, país pelo qual se apaixonou.
“As raízes são vimaranenses, mas as asas já me fizeram voar pelo mundo”, assim ilustra o seu percurso em conversa com O MINHO.
Apaixonado pelo Peru
“Vim parar ao Peru por mera coincidência”, recorda Diogo Miranda. “Vim visitar um primo que estava aqui a fazer um trabalho e acabei por ficar apaixonado por esta terra, pela cultura, pela cena gastronómica que aqui se estava a passar”.
Diogo Miranda já conhecia o Chef Virgilio Martinez, que fundara o “Central” em 2008, e quando decidiu ir para o Peru contactou-o: “Ele disse-me: ‘quando vieres ao Peru sentamo-nos e conversamos’. E acabámos por nos entendermos muito bem e criar algo especial”.
Desde então, o projeto teve “altos e baixos” – “passarmos pela pandemia no Peru não foi nada fácil” – mas todo o sacrifício “acabou por compensar”.
“É um restaurante muito importante na região e, agora, sermos reconhecidos como o melhor restaurante do mundo traz-nos muita alegria, e responsabilidade também”, considera Diogo Miranda.
“O meu trabalho é fazer com que a máquina funcione”
O “Central”, que no ano passado já tinha ficado em 2.º lugar da lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, tem “uma forma de entender a gastronomia muito diferente”, que é encarada como uma “experiência interdisciplinar”.
“Respeitar as culturas, entendê-las e preservá-las”, é este o objetivo do restaurante, que coloca toda essa diversidade nos seus pratos. “Temos uma equipa interdisciplinar muito grande, desde antropólogos, artistas, artesãos, biólogos, botânicos… É muito divertido porque é uma mesa com disciplinas muito diferentes e depois tem um processo criativo espetacular, que acaba por ser apresentado nesta forma mais gastronómica”, explica o diretor-geral, que esclarece ser “mais diretor de estratégia e direção de projetos”.
E, de seguida, explica as suas funções: “Para além de animar a equipa e fazer grande parte do trabalho psicológico, trata-se de criar grupos de trabalho com os diferentes talentos e trabalhar em diferentes projetos que se vão somando à narrativa do restaurante. É um trabalho muito dinâmico. É um restaurante que se mexe muito pelo mundo, viajamos muito, então também temos de entender onde vamos, com quem nos aliamos. É muita coisa numa só. E depois a expansão do trabalho: estamos em Tóquio, Singapura, México e estamos a tentar ver o que vai acontecer, estes meses, talvez na Europa ou Estados Unidos”.
Resumindo: “O meu trabalho é fazer com que a máquina funcione, desde a peça maior à mais pequena, que aquilo tudo encaixe”.
Paixão pela gastronomia começa “na cozinha da avó”
Diogo Miranda fez o caminho toda dentro da área da restauração. Lavou pratos, limpou chãos, serviu às mesas, cozinhou.
A sua paixão pela gastronomia começou “na cozinha da avó, como toda a gente, especialmente as pessoas do Minho, que é uma gastronomia com muita cultura e muita tradição”.
Mas na sua família ninguém fazia da restauração ou hotelaria profissão. “Éramos só mesmo bons a cozinhar e melhores a comer. E muito bons a receber pessoas”, lembra com humor. “Fui o único a prosseguir este caminho a nível profissional”.
“Trabalhamos para sermos os melhores do mundo”
A “grande aventura” em que embarcou com 16 anos quando deixou Guimarães teve agora o seu corolário.
Quando, anteontem, o “Central” foi eleito o melhor restaurante do mundo sentiu “muita felicidade, muitas emoções”.
“É o trabalho de uma vida que está aqui. Eu e a equipa trabalhamos para sermos os melhores do mundo e agora sermos reconhecidos como tal é uma grande alegria. É muito suor, muito sacrifício, longe da família, longe das raízes, muitas horas, mas sempre com o mesmo propósito de sermos os melhores”, vinca.
“Tenho o sonho de levar o ‘Central’ a Portugal”
Todos os anos, pelo Natal, Diogo Miranda regressa a Guimarães para estar com a família. Às vezes, também há oportunidade para uma “escapada” no verão. Mas o seu futuro profissional continua, para já, no Peru, onde se “sonha muito alto” e há muitos projetos ambiciosos para levar avante.
Mas confidencia: “Tenho um sonho muito grande que é levar o ‘Central’ a Portugal. O Virgilio também é fanático por Portugal, temos aqui um carinho especial pelo país. Esperava que isso se pudesse concretizar”.