Um vídeo com um drone a perseguir crias de cabras montesas no Gerês indignou, esta quinta-feira, diversos grupos e cidadãos conhecedores do Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo o caso sido participado ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e também à GNR, visando assim procedimento criminal.
Pelo que apurou O MINHO junto das limitações do espaço geográfico, disponibilizado pela Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), onde podem voar aeronaves não tripuladas, todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês encontra-se demarcado como restritivo para estas operações.
Segundo a publicação do artigo 11 do regulamento 1093/2016 da ANAC em Diário da República, os operadores remotos devem contactar as entidades referidas e assegurar que obtêm as devidas autorizações ou aprovações, sempre que efetuam operações de qualquer categoria nesses espaços, algo que não foi feito.
O autor do vídeo, Pedro Domingues, que tem um blogue dedicado a guias e roteiros de viagens, colocou o vídeo nas redes sociais, vendo-se as crias e as mães a fugirem desesperadamente de um drone, na Serra do Gerês, numa zona perto do Curral da Arrocela, área de especial proteção do Parque Nacional da Peneda-Gerês, muito assustadas com o aparelho.
Pedro Domingues viria a retirar o vídeo, mas só depois de muitas insistências, referindo, inicialmente: “Não apago, não, as cabras não deixam de ser uma maravilha da Serra do Gerês, é o que estou a partilhar”.
Pedro Domingues, respondendo aos comentários criticando a sua atitude, perante aquela espécie protegida, afirmou que “o que eu fiz com as cabras, não teria feito, se soubesse que reagiriam da forma que reagiram”.
A O MINHO, ontem à noite, Pedro Domingues reiterou aquela sua posição, afirmando “ter cometido um erro, sim, mas que tudo isto tomou proporções exageradas”, acrescentando que “mais grave que o meu ato, foram os insultos e as ameaças que me transmitiram durante o dia de hoje”, referindo “nunca ter o intuito de assustar ou magoar as cabras, não sabia que eram tantas, pois inicialmente só tinha visto três ou quatro”.
O polémico vídeo feito com recurso a drone. Vídeo: Pedro Domingues
“Como não tenho câmara, quis vê-las mais de perto, sei ser proibido, mas há milhares de fotos publicadas do Gerês, o meu objetivo era tirar fotos para publicar, mostrar às pessoas o Gerês sem segredos, disse ter feito um vídeo brutal, mas sentia-me um pouco arrependido de o ter feito”, confessa.
O MINHO tentou ouvir a versão do ICNF, como tutela direta do Parque Nacional da Peneda-Gerês, durante a tarde de quinta-feira, mas não teve qualquer resposta, até ao momento, do Gabinete de Comunicação do ICNF.
Comunidade “O Gerês” alerta para perigos
A Comunidade “O Gerês” diz que o caso poderia ter consequências graves, como sucedeu, em 2014, num parque dos EUA, num texto em que critica o uso proibido de drones em zonas sensíveis do Parque Nacional da Peneda-Gerês, dando conta desta ocorrência, na Serra do Gerês, em Terras de Bouro.
“No final de semana, um visitante do parque nacional, alegadamente ligado ao turismo, com página de internet dedicada a vídeos de drone, terá entrado numa zona de proteção e lançando o seu drone no ar, sem qualquer tipo de autorização, colocando-o em perseguição de um grupo de cabras montês compostas por crias e progenitoras, gerando uma acelerada e stressante debandada desse grupo, escarpas acima e abaixo”, pode ler-se.
“Após vários pedidos de utilizadores da rede social Instagram onde o vídeo foi publicado, o responsável pelo vídeo garantiu que não iria apagar a sua publicação incitando as regras estúpidas do Parque Nacional, e incentivando até em alguns casos outros utilizadores com mais seguidores a replicarem esse vídeo para chegar ao máximo de público possível”, segundo refere o mesmo grupo de ambientalistas da Serra do Gerês.
Sobre a proibição de drones, a comunidade “O Gerês” acrescentou saber “que as regras dos parques nacionais, a nível mundial, prendem-se com incidentes que causaram danos na fauna de alguns países”, ao ponto de “nos Estados Unidos, ter havido um dos primeiros incidentes, em 2014, em que um drone efetuou o mesmo tipo de abordagem, à espécie carneiro selvagem, no Parque Nacional de Zion, levando as crias a ficarem separadas das progenitoras e em perigo de queda nas ravinas aguçadas e já várias comunidades se insurgiram participando esses casos junto do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), onde exigem que medidas severas sejam aplicadas a casos graves de ofensas à fauna do parque nacional”.