O processo de separação das 20 empresas do grupo Rodrigues & Névoa, chegou aos tribunais. Esta segunda-feira, o Tribunal de Comércio de Famalicão analisa o pedido de Fernanda Serino, mulher de Manuel Rodrigues, (ambos na posse de metade da Bragaparques de estacionamento), de destituição do empresário Domingos Névoa – que também tem 50 por cento – de presidente do conselho de administração.
Como pano de fundo do litígio – diz o JN de hoje – está o acordo alcançado entre ambos para a propriedade da Bragaparques, a única das empresas por decidir: em carta fechada, Névoa ofereceu 65 milhões a Rodrigues pelos 50 por cento e este propôs 105 milhões, valorizando a firma em 210 milhões.
O prazo para pagar a Névoa acabou em março mas o cheque nunca chegou.Fonte próxima de Névoa – que não se quer pronunciar – adiantou que, em 23 de abril ficou resolvido o único entrave: o facto de a Bragaparques ter 33 por cento da Geswater, – uma empresa de águas e saneamento, que inclui as construtoras ABB e DST, que tem 49 por cento da AGERE de Braga e contratos em várias zonas do país – o que obrigava à saída da Bragaparques desta firma.
A fonte precisou que Névoa desistiu de uma ação de 35 milhões que, em conjunto com a ABB interpusera contra a DST, por esta ter exigido ficar com a quota da Bragaparques, sem que, posteriormente tenha pago o valor acordado. A DST, por seu turno, deixou cair uma ação que tinha contra os outros dois.
Rodrigues tem de pagar
Esta dupla desistência – explicou a fonte – abriu caminho a que Manuel Rodrigues ficasse com a Bragaparques, pagando 105 milhões.
Como o pagamento não aconteceu, Névoa deu, sexta-feira, por escrito, mais uma semana ao seu sócio para que cumpra, pagando-lhe.
Se tal não suceder, Névoa acionará a cláusula contratual que lhe dá o direito a ficar com a empresa, pagando 65 milhões. Se Rodrigues não aceitar, o caso segue para Tribunal: “Em vez de cumprir o que acordou voluntariamente, meteu, através da mulher, uma ação em Tribunal a pedir a destituição de Névoa, por alegada má gestão, um ato de fuga em frente”, disse ao JN a mesma fonte.
700 MIL EUROS
O litígio extremou-se a 8 de julho na assembleia-geral. O casal não aceitou que as contas indicassem que Névoa retirou 700 mil da Bragaparques, e pediu a sua destituição judicial. Se o juiz concordar, será ela a assumir a administração. O visado garante que a verba retirada se prende com empréstimos pessoais que fez à empresa, devidamente documentados, e que entendeu retirar dado que a Bragaparques iria ficar para o sócio. Algo que, “facilmente provará em Tribunal, pois possui provas contabilísticas”.
Amanhã, o Tribunal ouve as testemunhas de Fernanda Serino, e, dias depois, Domingos Névoa.
A fonte precisou que Névoa porá em causa a sua capacidade para gerir a firma, dado que nunca administrou nenhuma, e dirá, ainda, que “nunca gastou um minuto” a trabalhar para a Bragaparques nem lhe acrescentou um euro: “O casal apenas aparecia nas inaugurações, pois foi Névoa quem a fez crescer”, acentuou.
O caso pode, ainda, originar uma terceira ação contra o casal, já Névoa quer ser indemnizado por ter desistido da ação contra a DST.
O MINHO tentou, mas não conseguiu, contactar Manuel Rodrigues e a mulher Fernanda Serino.
10 milhões por ano
A Bragaparques tem uma faturação anual de dez milhões de euros, e a terceira posição em termos nacionais, a seguir à EMEL e à Empark.
Detém e explora diretamente 12 parques de estacionamento.
Em janeiro, Rodrigues tinha conseguido que o banco Haitong – ligado ao Novo Banco – financiasse a operação, mas o negócio nunca se concretizou.
Filho motiva zanga
Depois de 40 anos de parceria, zangaram-se por causa dos filhos. Manuel Rodrigues, que só tem um, argumentou que Névoa estava ser favorecido dado que tinha dois a trabalhar na empresa. A discussão acabou em divórcio.
A Rodrigues & Névoa expandiu-se a 20 empresas, nas áreas da construção, imobiliário, estacionamento e saúde. E tinha participações em muitas outras, como no centro comercial Bragaparque e no hiper Feira Nova. Todas foram divididas pelo método da carta fechada.