A galeria de arte contemporânea de Vila Nova de Famalicão Ala da Frente mostra o “Discurso Silencioso” de Jorge Pinheiro, numa exposição de pintura e desenho com assinatura do artista, anunciou hoje o município.
Em comunicado, o município acrescenta que a mostra marca a reabertura de portas da galeria, após o encerramento provocado pela pandemia de covid-19.
A exposição reúne o conjunto de obras de pintura e desenho que compõem o “Discurso Silencioso” do artista natural de Coimbra, pouco mais de três anos após a mostra no Museu de Serralves, no Porto, e a exposição de desenho, na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa.
Nome da primeira linha da arte contemporânea portuguesa, desde a década de 1960, Jorge Pinheiro foi um dos elementos fundadores do chamado grupo “Os Quatro Vintes”, com Armando Alves, Ângelo de Sousa e José Rodrigues, assim designado por terem terminado o curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, com a classificação de 20 valores.
“Depois de uma fase extensa ligada ao abstrato, à geometria e à composição, Jorge Pinheiro enveredou depois dos anos [19]80 por outro discurso e outra de forma de avançar no trabalho ligada à figuração, e esta exposição lida precisamente com essa sua vertente”, explica o curador da Ala da Frente, António Gonçalves, sobre “Discurso Silencioso”.
Citado no comunicado de apresentação da mostra, o curador explica que os desenhos da exposição permitem perceber “como é que algumas personagens que habitam o universo de Jorge Pinheiro foram aparecendo e foram pensadas e trabalhadas para ocupar o espaço da pintura”.
“Um discurso silencioso, feito de registos, de formas e de gestos que se vão organizando em resposta às necessidades de composição e elaboração da pintura”, acrescenta.
António Gonçalves sublinha que Jorge Pinheiro “tem um reconhecido percurso feito por uma multiplicidade de formas de investigação e estudo das possibilidades do discurso plástico”.
Uma visita guiada à exposição, ‘online’, está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=RZ-LnIPzZ8U.
Jorge Pinheiro nasceu em Coimbra, no dia 07 de outubro de 1931.
Concluiu o Curso Superior de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1963.
A designação do grupo “Os Quatro Vintes”, constituído com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Armando Alves, retinha igualmente uma alusão irónica à marca de tabaco Três Vintes, além da referência às respetivas notas de final de curso.
Em entrevista à agência Lusa, em 2017, quando das exposições em Lisboa e no Porto, afirmou não entender por que motivo se dá tanta importância a esse grupo, fundado em 1968.
“Estávamos num período em que foi tão difícil dizer ‘eu estou aqui’. E por isso nos juntámos e fizemos algumas exposições. Era um grupo alicerçado na ironia”, comentou o artista, que foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, nos anos de 1966 e 1967, em Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda e Reino Unido.
Para Jorge Pinheiro, foi um grupo “espontâneo, ingénuo e acabou”. No entanto, todos os seus membros marcaram a História da Arte contemporânea em Portugal.
A obra de Jorge Pinheiro reúne diversas referências oriundas da literatura, do cinema, das artes visuais ou da geometria, presta particular atenção ao mundo em redor, e procura sempre ser acessível ao público.
“O mundo muda muito, e não sabemos se estamos a acompanhar a mudança”, comentou à Lusa em 2017, a propósito da preocupação sempre presente com a expressão contemporânea.
A carreira do artista conta com cerca de 40 exposições individuais, realizadas entre 1958 e a atualidade, e a participação em mais de 150 exposições coletivas, em Portugal e no estrangeiro.
Entre outros prémios, foi distinguido com o da III Exposição Nacional da Fundação Calouste Gulbenkian (1981), o da Associação Internacional de Críticos de Arte (2003) e o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso (2017).
Jorge Pinheiro está representado em diversas coleções privadas e públicas, nomeadamente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no Museu de Serralves e na Fundação Ilídio Pinho, no Porto, no Museu de Arte Moderna, em Sintra, e nas coleções do Ministério da Cultura, da Caixa Geral de Depósitos e da Fundação EDP, entre outras.
A galeria de arte contemporânea Ala da Frente fica localizada no Palacete Barão da Trovisqueira, na Rua Adriano Pinto Basto, em Vila Nova de Famalicão.