O dirigente comunista Jorge Cordeiro defendeu esta quinta-feira que uma maioria absoluta aproximaria o PS de uma política de direita e premiaria o partido que “devia ser castigado”, acusando também António Costa de apropriação de propostas apresentadas pelo PCP.
Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, divulgada esta quinta-feira, o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP disse que “tudo o que signifique reforço do PS significará um PS com uma política cada vez mais próxima daquela que diz combater, que é a da direita e do PSD”.
“Sair destas eleições [de 30 de janeiro] com um reforço da CDU em número de deputados resulta em mais perspetivas de dar respostas e soluções ao país”, completou.
Questionado sobre a possibilidade de o PCP ser penalizado nas eleições legislativas antecipadas e perder deputados, Jorge Cordeiro disse que o partido não vai partir para as eleições com a ideia de que tem “essa sina”.
O dirigente comunista sustentou que o partido defendeu o aumento dos salários, o acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), o direito à habitação, entre outros.
Por isso, “seria um absurdo que quem defenda isto seja penalizado”.
“Se quem negou isto sair reforçado, isto é que é surpreendente e até se poderia dizer que se premiou quem devia ser castigado”, acrescentou o membro do Comité Central.
Interpelado também sobre se o secretário-geral do PS e primeiro-ministro em funções, António Costa, estava a utilizar propostas apresentadas pelos antigos parceiros de esquerda, nomeadamente do PCP, Jorge Cordeiro respondeu “sim”.
“Ele está a usar indevidamente uma pressão sobre os eleitores para garantir um ou outro elemento, alguns que resultado da nossa intervenção, para poder vir a ter determinada influência. O primeiro-ministro falou nessa entrevista [à RTP, na segunda-feira], por exemplo, do aumento das reformas e prestações sociais, que podia, mas não queria. Isso diz muito da dinâmica que procura construir”, sustentou.
O que considera serem os apelos constantes de Costa de uma maioria absoluta só têm uma leitura na opinião do dirigente comunista: “Poder descartar-se da obrigação de responder aos problemas que precisam de ter resposta”.
Questionado ainda se o PCP não foi ao encontro daquilo que apregoavam os apelidados “renovadores” do PCP na década de 1990 quando avançou com o apoio parlamentar ao Governo socialista, Jorge Cordeiro recusou que o partido o tenha feito.
“Não, não creio que isso tenha qualquer relação. Fizemos em 2015 um juízo que foi o que resultou de quatro anos desgraçados na vida do país. Olhámos para os resultados e concluímos que era altura de provar que o resultado que PSD e CDS tiveram não era suficiente para permitir mais quatro anos de calvário para a vida dos portugueses”, elaborou.
O dirigente comunista acrescentou que “algumas dessas pessoas”, os chamados renovadores, queriam era ver o PCP “como força de apoio do PS”.
“Ora, nós não somos força de apoio do PS, nem o fomos nos primeiros quatro anos. Não temos nenhum arrependimento, muito pelo contrário, temos absoluta convicção de que demos contribuição decisiva para conquistar coisas que não existiam e repor reformas e salários”, acrescentou.