Chama-se Apomyelois bistriatella, tem apenas 20 milímetros de envergadura e pertence à família Pyralidae. Esta borboleta, conhecida como “borboleta que come bolos” e com uma ampla distribuição pelo norte da Europa, foi registada pela primeira vez em Portugal, após monitorização levada a cabo em Fradelos, concelho de Famalicão, junto ao rio Ave, na futura área protegida das Pateiras do Ave.
Vasco Flores Cruz, ecólogo responsável pelo projeto que visa classificar aquela área – que engloba ainda pequenas partes das freguesias de Ribeirão e Vilarinho das Cambas – como paisagem protegida local, explicou a O MINHO que este foi o primeiro registo de avistamento da espécie no país, embora exista um registo idêntico em Espanha que remonta ao ano de 2016, e que demonstrou que estas borboletas se estavam a expandir para regiões mais quentes.
Vasco Flores Cruz explica que, segundo os investigadores, “seria previsível a sua distribuição pelo norte da península mas até julho deste ano nunca tinha sido vista em Portugal”.
Esta borboleta, acrescenta o ecólogo, tem uma particularidade caricata que a distingue da maior parte das borboletas que habitam a nossa região. É que esta, ao contrário das outras, não se alimenta em exclusivo de tecidos vegetais, mas sim de um fungo muito particular conhecido como Bolo-do-rei-Alfredo (Daldinia sp.).
“Este fungo tem a forma de uma broa, o aspeto de carvão e um nome particular que tem a origem numa lenda” que remonta ao rei Alfredo de Inglaterra entre os anos de 871 a 886.
“Diz a história que o soberano inglês aquando das invasões vikings se refugiou na casa de uma camponesa. Quando esta lhe pediu para tomar conta de uns bolos que assavam no forno, o rei distraído com os seus pensamentos deixou-os queimar, atirando-os depois para o bosque. Ao monarca de nada lhe valeu o título, pois acabou por ouvir uma valente reprimenda”, conta Vasco Flores Cruz.
Ao nosso jornal, o responsável pelo projeto explica que esta é uma das cerca de 250 borboletas registadas na área famalicense. Algumas delas apenas tinham sido vistas uma ou outra vez, mas só a borboleta “que come bolos” teve honras de estreia.
“É mais uma espécie a somar à investigação. Sempre que encontramos alguma espécie mais rara, é sinal que estamos a fazer um bom trabalho ao ajudar com que os habitats fiquem mais ricos, daí existir uma monitorização mensal que permite aferir a qualidade do trabalho executado ou, caso as espécies diminuam, que tipo de ameaças externas possam existir”, conta.
Vasco Flores acrescenta ainda que está a ser preparado um artigo cientifico a ser publicado em revista científica em dezembro de 2021, com o somatório das espécies novas que foram identificados ao longo de 2020 em exclusivo para borboletas. Esse trabalho é de um grupo de investigadores portugueses, entre os quais se inclui o João Nunes, jovem de 21 anos e autor da descoberta desta borboleta em solo famalicense.