O deputado do PSD Luís Campos Ferreira, eleito pelo círculo de Viana do Castelo, fez esta quinta-feira o seu discurso de despedida da Assembleia da República, onde chegou em 2002, com elogios à transparência e ao Canal Parlamento, que ajudou a criar.
“Tomei a decisão de renunciar ao mandato de deputado. Faço-o de uma forma muito refletida, muito consciente e muito livre”, afirmou Campos Ferreira, numa declaração em nome individual que, no final, foi aplaudida pelas bancadas do PSD, do CDS-PP – de pé – e do PS, com a maioria dos deputados socialistas a baterem palmas sentados, mas também alguns de pé.
Campos Ferreira aludiu ao “momento delicado” relacionado com as questões de transparência que se vive na Assembleia da República, e deixou a convicção de que, se muito há a fazer, existe em 2018 maior escrutínio e transparência do que quando chegou, em 2002.
“Nestes últimos 44 anos, os portugueses já aprenderam que opacidade não rima com democracia”, afirmou.
O deputado do PSD apontou o Canal Parlamento, de que foi presidente da direção, como um exemplo de que “a democracia se deve orgulhar”.
“Foi desde o seu início uma enorme porta aberta à sociedade portuguesa”, afirmou, considerando que, graças a este canal, os portugueses sabem melhor hoje que o trabalho dos deputados não se limita a três sessões plenárias semanais e se desenrola por muitas comissões.
“Se é verdade que temos telhados de vidro – e temos mesmo, basta olhar para a claraboia -, também temos paredes de vidro e uma delas é justamente o Canal Parlamento”, referiu, com o bom-humor pelo qual é conhecido.
Despedindo-se com agradecimentos aos funcionários parlamentares e com o poema “Viagem” de Miguel Torga, Campos Ferreira garantiu que continuará a acompanhar todos os deputados através do canal Parlamento.
Apenas o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, usou da palavra após a intervenção de Campos Ferreira.
“Certamente vamos todos sentir falta das suas intervenções, da sua consistência e do seu sentido de humor”, referiu.
Eleito por Viana do Castelo, Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira é deputado há cinco legislaturas (desde 2002), com uma interrupção durante o tempo em que foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do anterior Governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho.
No PSD, já foi ‘vice’ da bancada e secretário-geral adjunto do partido durante a liderança de Durão Barroso.
Quando anunciou que iria renunciar ao cargo de deputado, no início de dezembro, Campos Ferreira justificou a saída com motivos pessoais e um novo desafio profissional, garantindo que se manteria no PSD.
O deputado foi constituído arguido em junho deste ano, tal como os ex-líderes parlamentares do PSD Luís Montenegro e Hugo Soares, no âmbito do inquérito-crime que investiga as viagens de ex-governantes a França para assistirem a jogos do Euro2016, por suspeitas do crime de recebimento indevido de vantagem.