Deputado do Chega deu “projeção nacional” a desinformação de extrema-direita sobre imigração

Pedro Frazão

O deputado do Chega Pedro Frazão deu “projeção nacional” a alegações infundadas sobre o número de imigrantes em Portugal, que surgiram inicialmente num “vídeo viral” nas redes sociais de um grupo anti-imigração e ultranacionalista.

Esta informação consta de um relatório elaborado pelo MediaLab, centro de estudos de ciências de comunicação do ISCTE, feito no âmbito de uma parceria com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a agência Lusa para identificar e medir o impacto da desinformação na campanha das legislativas de 18 de maio.

Nesse relatório, o MediaLab refere que “foi identificada a disseminação de um vídeo com alegações infundadas relativamente ao número de imigrantes em Portugal”, cujo áudio “é supostamente de um segurança que trabalha na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA)”, que alega que o número de imigrantes em Portugal em abril de 2025 era de mais de 1,9 milhões.

Dados preliminares da AIMA, divulgados no início deste mês, indicam que, no final de dezembro de 2024, estavam registados em Portugal 1.546.521 cidadãos estrangeiros.

O vídeo com as alegações infundadas sobre o número de imigrantes em Portugal “continha no canto superior esquerdo o símbolo do grupo Reconquista, conhecido pelas suas posições anti-imigração”, refere o MediaLab, que acrescenta que circulou nas redes sociais Facebook, Instagram e TikTok.

No entanto, só ganhou “projeção nacional quando a narrativa foi replicada pelo deputado [do Chega] Pedro Frazão” numa emissão no canal televisivo CNN Portugal, na qual alegou que já se tinham ultrapassado “os dois milhões de imigrantes” no país.

“No TikTok, há várias réplicas do vídeo da emissão televisiva, com 7.300, 2.200 e 1.511 visualizações”, lê-se.

Uma publicação com um excerto vídeo da emissão da CNN Portugal em que faz as alegações infundadas, continua disponível na conta de Facebook do deputado Pedro Frazão, tendo mais de 1,3 mil ‘gostos’ e cerca de 240 comentários.

Outro dos casos de desinformação envolveu o deputado do Chega António Pinto Pereira que afirmou, num vídeo do Instagram (já não visível), que “na Praia dos Pescadores em Cascais já não há pescadores”, inserida “numa série de críticas ao presidente da câmara”, frase desmentida posteriormente pelo Poligrafo, lê-se no relatório.

Em entrevista à agência Lusa, José Moreno, investigador do MediaLab, referiu que o Chega tem sido um amplificador de desinformação em Portugal, utilizando uma estratégia que estudiosos qualificam como “trompete de desinformação”.

A desinformação, explicou, “começa num sítio relativamente pequeno, não tem grande impacto, mas a partir do momento em que algum ator político ou não político com grande alcance pega nessa desinformação e a reproduz, propaga ou amplifica, ela ganha uma relevância muito maior”.

O investigador lembrou um caso desse ‘efeito trompete’ na pré-campanha para as legislativas de março de 2024: uma publicação nas redes sociais, segundo a qual a caravana do Ventura tinha sido recebida com tiros em Famalicão, Braga, e que, depois de verificação, se concluiu tratar-se de rateres de motas.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o MediaLab, do ISCTE, em parceria com a agência Lusa, estão a monitorizar as redes sociais para identificar e medir o impacto da desinformação na campanha das legislativas de maio.

O projeto é desenvolvido através do Laboratório de Investigação MediaLab do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), em Lisboa, projeto a que se junta a agência Lusa no tratamento jornalístico dos relatórios semanais que serão produzidos, a exemplo do que aconteceu nas eleições legislativas e europeias de 2024.

Os conteúdos rastreados pelo MediaLab serão classificados como desinformativos por três ‘fact-checkers’ (verificadores de factos) portugueses, credenciados pelo International Fact-Checking Network (IFCN) – Polígrafo, “Observador Fact-Check” e “Público – Prova dos Factos”.

O MediaLab produz relatórios semanais com dados e análise do impacto nas redes sociais “medido em alcance e/ou interações, dos candidatos e candidaturas nas redes sociais, durante os sete dias anteriores” e, além disso, avalia o alcance de publicações identificadas como desinformativas.

 
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