Depois de Daniel Campelo

Hugo Miguel Pereira. DR

ARTIGO DE HUGO MIGUEL PEREIRA

Presidente da Comissão Política da JSD de Ponte de Lima

Quando Daniel Campelo foi a Lisboa votar o orçamento, voltou para Ponte de Lima com a mão cheia de investimentos para o Alto Minho. A condição de deputado-autarca e a situação de bloqueio que se vivia no parlamento deram ao ex-presidente de câmara limiano a possibilidade de fazer obra em Ponte de Lima e na região, bastando para isso uma simples abstenção nesse célebre orçamento do queijo.

Ainda que o texto da Constituição impusesse o dever de representar o país como um todo, os círculos eleitorais e a administração autónoma permitiam dar outro significado ao seu espírito. Ninguém poderia pedir a Daniel Campelo que fosse presidente de câmara às segundas, terças, e quartas, para depois despir as cores do concelho e ser mais um deputado no nosso famigerado parlamento. A circunstância surgiu e a realpolitik fez o resto. Como Daniel Campelo haviam pelo menos mais quinze deputados na mesma condição que ele, isto é, autarcas e deputados em simultâneo. Foi o orçamento do queijo, mas podia ter sido o orçamento do pastel de Tentúgal ou dos ovos moles aveirenses. No entanto, era o nosso queijo que abalava mesmo para Vale de Cambra e com ele levava o nosso nome. Ele chegou-se à frente e foi o então secretário de Estado, José Sócrates, o negociador do lado socialista. Sem o forte elo de ligação com o ex-Primeiro-ministro, por exemplo, as Lagoas de Bertiandos não chegariam a ser paisagem protegida.

Campelo sabia que iriam expurgá-lo do partido, mas também sabia que jamais morreria politicamente, porque o povo de Ponte de Lima nunca o abandonaria. Um partido tão pequeno não poderia dar-se ao luxo de perder uma câmara municipal e por isso deixaram cair o símbolo pelo “Ponte de Lima Nossa Terra”, apenas independente no papel. Uns anos depois eram os do Caldas, com a mesma cara de sempre, a convidá-lo para secretário de Estado.

Eu, PPD/PSD por convicção, vejo o CDS de hoje em Ponte de Lima como uma grande falácia encoberta por uma incomensurável dose de populismo. Ainda que afastado da vida pública, nas freguesias ainda se vota CDS por causa de Daniel Campelo. Não será certamente personalidade de probidade imaculada, mas a sua forma de estar na política faz sombra às nulidades que lhe seguiram e se arrastam pela disputa dos seus despojos como hienas. Não sabe o povo, desde a sua saída, que o ar do salão nobre é cada vez menos respirável.

Com toda a politiquice intrapartidária, permanecem os defeitos estruturais desde sempre negligenciados pela gestão autárquica limiana. De infraestruturas tão básicas como o saneamento básico, rede de abastecimento de água, a inexistente dinamização económica e empresarial que vá além do papel, o défice de cidadania que a cultura do medo faz imperar, e o conluio obscuro em que vereadores e funcionários da câmara trocam favores por subserviência ou acabam por transformar-se em agentes imobiliários, entre outros. Tudo é reflexo da falta de visão estratégica aliada ao défice de boa ética que se dá pela ausência de rotatividade eleitoral. A confiança de que os eleitos defendem realmente os interesses da região e dos seus habitantes desaparece a cada mandato, e o povo quer alguém capaz da audácia que o ex-presidente demonstrou em 2000. Deputado e presidente de câmara, não hesitou em escolher o segundo e ser autarca no parlamento. Noutros moldes, no PSD houve quem fizesse o contrário.

Lamentavelmente, o futuro próximo não é de se exaltar. Os autarcas caciqueiros já começaram a comprar o voto do povo com o seu próprio dinheiro, e para a campanha contrataram recentemente meia dúzia de jovens apparatchik. Abel Baptista faz uma aliança com o PS que lhe financia a campanha e faz os socialistas sonhar com a vereação. Tanta expectativa que gerou para, depois de bater com o nariz na porta da sede do PSD, acabar negociando lugares com o PS em troca de dinheiro para a campanha. Dizem, sem se rirem, que é cidadania.

Pela minha parte, não escondo de onde venho nem a candidatura que apoio. Manuel Barros aparecerá aos munícipes com um projecto sustentado, social-democrata, de presente e de futuro. Todas as eleições são uma oportunidade e estas serão a oportunidade de mudar, ou lançar as sementes para a geração seguinte onde os melhores estarão no PPD/PSD. Um município que saiba paralelamente preservar e inquietar os costumes, impedir que a tradição se cristalize, conciliá-la com o mundo cosmopolita. Na arte de bem receber e bem viver que todos reconhecemos nos limianos, saibamos aproveitar também os recursos da terra e das pessoas que nela habitam.

 

Hugo Miguel Pereira, Presidente da Comissão Política da JSD de Ponte de Lima

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