De Paredes de Coura para a tropa de elite: Pe. Ricardo é o novo capelão dos Comandos

Padre Ricardo Barbosa é o novo capelão do Regimento de Comandos

Ricardo Miguel Araújo Barbosa é o novo capelão do Regimento de Comandos do exército português. O sacerdote de 29 anos já prepara as malas para servir como guia religioso daquela tropa de elite sediada em Lisboa.

Natural de Parada, concelho de Paredes de Coura, assumiu cinco paróquias de Ponte de Lima no início do percurso sacerdotal (Arcozelo, Bertiandos, Santa Comba, Sá, e Refoios do Lima), passando depois a capelão do Regimento de Cavalaria n.º 6, em Braga.

No último ano e meio, acumulou as funções naquele regimento com o de vigário da paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no alto da Santa Luzia, em Viana do Castelo, onde coadjuvou o padre Artur Coutinho.

A O MINHO, o sacerdote conta que esta aproximação ao exército começou após um desafio lançado pelo então bispo auxiliar de Braga, Manuel Linda, atual Bispo do Porto, quando ainda estava nas paróquias de Ponte de Lima.

“D. Manuel era bispo das Forças Armadas e lançou-me o desafio de ser capelão militar. Disse-lhe que estava disponível para o que fosse necessário e após conversa com o bispo de Viana, D. Anacleto, decidi fazer o curso, isto em 2016”, contextualiza.

Fez então o curso na Academia Militar, em Lisboa, e ficou colocado no Regimento de Cavalaria de Braga, desde o início de 2017 até ao presente.

Padre Ricardo antes de ser capelão do Exército. Foto: Facebook de Igreja Bertiandos

Em 2019, foi convidado a acompanhar o primeiro batalhão de infantaria paraquedista na República Centro Africana (RCA) durante cinco semanas, por altura do Natal. E aceitou.

Essa experiência em África valeu-lhe agora o convite para ingressar na tropa de elite dos Comandos, aviando assim as malas para a Serra da Carregueira, em Lisboa. Irá dar apoio aos militares que vão ser destacados para a RCA em outubro.

Padre Ricardo celebra missa no Regimento de Cavalaria n.º 6. Foto: https://ordinariato.castrense.pt

Na altura do Natal, regressa novamente a África para as celebrações do Natal, Ano Novo e Reis.

República Centro Africana

Padre Ricardo explica que estar na RCA com os militares do exército português, “antes de ser uma experiência enquanto contacto com o meio, é primeiramente o contacto humano com os militares”.

Destaca a possibilidade de viver momentos marcantes “do ponto de vista humano e religioso” de uma vivência do Natal numa “terra que não é a nossa, com costumes que desconhecemos e onde nos adaptamos”.

“Os laços não eram familiares numa altura de Natal, eram de amizade e solidariedade para com o outro, e essa experiência foi enriquecedora, poder viver o Natal num contexto diferente do habitual”.

Sobre a experiência no terreno, confessa que não presenciou “qualquer tipo de combate ou confronto militar”, mas recorda o “contacto com a população de lá através das escolas e do Arcebispo Cardeal”, perante uma população que é maioritariamente cristã católica.

Padre Ricardo celebra missa no Regimento de Cavalaria n.º 6. Foto: https://ordinariato.castrense.pt

“É uma população profundamente cristã, não houve choque religioso, houve sim impacto porque o pais está em guerra, mas maioritariamente a rua assume-se como um país cristão católico. Nessa medida, fui muito bem acolhido, quer nas escolas quer nas visitas que fiz. Foi muito enriquecedor”, reforça.

No ponto de vista humano, Ricardo recorda “uma miséria extrema, falta de assistência à saude, de educação”. “Há escolas a terem uma sobrelotação a 300 por cento, uma dificuldade extrema na rede viária, zonas sem água potável, alimento muito escasso, uma pobreza extrema típica do coração de África, com tudo aquilo que conhecemos da gíria popular”.

“Não vou a prazo”

Sobre a ida para capelão dos Comandos, Ricardo assegura não ir “a prazo”. “Vou ser transferido para o regimento de Comandos onde serei capelão, não vou a prazo. até porque em tudo na vida, nunca devemos olhar as coisas a prazo”, diz, acrescentando que “devemos assumir as tarefas que nos dão e não pensar que é a termo”.

Em primeiro lugar, o capelão quer conhecer uma nova realidade dentro das Forças Armadas: “uma tropa de Elite como são os Comandos, um desafio onde vou conhecer novas realidades e pessoas”.

Em segundo, irá conhecer uma nova realidade do país, “porque passarei do Norte para o Sul”.

Missa Nova do Padre Ricardo, em Parada, 2014. Foto: Cecília Pereira
Missa Nova do Padre Ricardo, em Parada, 2014. Foto: Cecília Pereira

Em terceiro, será “uma oportunidade para desenvolver as capacidades como homem e como padre nesta que é uma igreja que se pretende ser mais plural e presente nos diferentes ambientes, sobretudo naqueles onde a fragilidade e os obstáculos são enfrentados de uma forma muito audaz”.

“As forças militares destacadas fora de Portugal são mesmo isso, os que nos mostram que a nossa fragilidade existe, porque somos humanos, mas onde os obstáculos são ultrapassados com perspicácia fora de série, porque as tropas são muito bem preparadas e capazes de ultrapassar dificuldades além fronteiras onde têm estado de forma muito proficiente”.

“Estamos onde somos necessários e fazemos falta”

O padre Ricardo vai ser alvo de uma homenagem no próximo domingo, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, evento que abraça com humildade e com “muita gratidão”.

“Queria agradecer o que recebi e pedir desculpa se receberam pouco da minha parte, pois tenho 29 anos, muito a aprender, mais do que aquilo que tenho para dar, e se posso ter dado alguma coisa, recebi muito mais”, confessa.

Padre Ricardo na RCA. Foto: DR

“Quero publicamente agradecer a todos que estiveram comigo no ano e meio, ao padre Coutinho, que foi meu mentor estes meses e dizer que a Igreja é este mundo imenso e que é de todos nós. Estamos onde somos necessários e fazemos falta”.

(participação do padre Ricardo no concurso O Preço Certo, em 2016)

A homenagem ao padre Ricardo decorre no próximo domingo, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, com uma eucaristia com início marcado para as 12:00 horas. Segue-se um almoço-convívio na Quinta da Presa, com as necessárias medidas de segurança face à pandemia de covid-19.

 
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