ARTIGO DE OPINIÃO
Rui Madeira
Diretor artístico da Companhia de Teatro de Braga. Encenador profissional desde 1975.
De repente o verão ficou mais frio. O tempo parou. Para mim o amanhã terá sempre uma sombra. Uma longa sombra se projectará sobre mim com os contornos de um Homem que cruzou a Vida e o Mundo com o prazer dos Amigos, um sentido apurado de solidariedade, uma sensibilidade culinária única, um profundo sentido de cidadania uma preocupação cultural, a capacidade de se indignar e discutir até à exaustão as causas que assumia, E sem nunca abdicar dos princípios. E da Dignidade! Talvez radique aí o fato de ter sido encontrado morto. Talvez isso o Honre! Homem de lutas, antifascista sim! Preso aquando da Revolução.
Actor e espectador privilegiado nos tempos do PREC. Com ele se foram muitas estórias dessa nossa história. O Casimiro morreu!
Vejo hoje a notícia depois dum ensaio em Karshi. Sonhei com ele esta noite! Foi a minha nossa despedida.
Este texto sentido é o pouco que hoje possa fazer do muito que lhe devo em amizade, memórias, vidas vividas e partilhadas durante mais de trinta anos. O Casimiro está aqui na minha pele e na história da Companhia de Teatro de Braga, onde foi director, produtor e muito mais.
Tenho a convicção que esses tempos e essas memórias foram e são partilhadas, porque vividas, dia e noite literalmente, por uma enorme pleiade de amigos comuns, que nestes dias sofrem da mesma dor, porque pessoas como o Casimiro nos deixam com essa responsabilidade e sentimento de honra perante o Morto.
Todos aqueles que se cruzaram com ele de Guimarães a Paris, de Braga ao infinito, da ditadura à revolução e até àquilo que denominamos como democracia o sabem.
O Casimiro era um Homem de causas. E à sua maneira um aristocrata do prazer. Mas alguém não se terá comportado ao seu nível de exigência. E se passou os últimos tempos menos bons (que os passou) não significou que os amigos não se preocupassem e tentassem estar próximos e actuantes de muitos modos e com estratégias várias.
Aos amigos que ele deixou, na sua característica saída à francesa, proponho um forte abraço comum em silêncio para ”ouvirmos” a sua voz roufenha a dizer: não! tenho de estar em casa cedo!
Caro Zé Casimiro dá um abraço ao Zé Mario Branco.
*duma canção do Sergio Godinho, seu amigo de exílio, sobre o Zé.