Artigo de Vânia Mesquita Machado
Humanista. Mãe de 3. De Braga. Pediatra no Trofa Saúde – Braga Centro.
Resolvi dar a minha opinião como Pediatra, dado ter hoje ocorrido uma morte de uma criança infetada por covid-19 em Portugal.
Estou totalmente de acordo com as medidas conhecidas por todos, mas ignoradas por muitos:
– higiene das mãos
– não colocar as mãos nos olhos, boca e nariz
– distanciamento social
– máscara se indicada ( não esquecer ser perigosa abaixo dos 2 anos) – atualmente em Portugal não se aplica o uso em qualquer lugar, mas poderá vir a ser norma
Não concordo com a forma como determinados meios de comunicação deram a notícia, sobre o bebé que faleceu hoje, e sei que muitos pais ficaram assustados.
NÃO INTERESSA SEMEAR O PÂNICO.
O bebé de 4 meses que infelizmente faleceu em Portugal, era portador de uma doença MUITO GRAVE do coração, pelo que não resistiu à infeção por covid-19.
Não deixa de ser mais uma morte a lamentar, e fico triste…
Mas todas as mortes o são, independentemente da idade.
Senti necessidade de partilhar esta informação:
A criança era pertencente a um GRAVE GRUPO DE RISCO, muito suscetível a uma infeção, mesmo por outros vírus.
Vamos ter calma, agindo com consciência e sensatez:
– ou seja, NÃO é altura para baixar a guarda, para festas e convívios desnecessários.
Mas também NÃO podemos ligar o botão de alarme, pelo bem -estar das nossas crianças:
– nada ganhamos por ficarmos todos alarmados, e vamos gerar MEDOS nas crianças, que não os sabem gerir.
– Mesmo os bebés ficam nervosos e agitados, com os seus pais ansiosos.
Na minha consulta já observei meninos em idade escolar que deixaram de dormir por medo do covid-19.
Entre outras situações que são, depois de analisadas, consequências psicológicas do receio pelo vírus.
Tanto explico aos adolescentes que não podem agir de forma irresponsável ( bastantes), como aconselho os que não têm coragem de sair de casa (alguns), a arejarem e como o fazer cuidadosamente.
Devemos agir
SEMPRE RESPONSAVELMENTE.
Repito:
– febre, tosse e sinais de constipação ou falta de ar, são motivos para REFERENCIAÇÃO à linha SNS24.
Insistam, porque está sempre alguém do outro lado da linha para vos atender, e orientar.
Como estou num hospital privado, ( no público, não podem fazer marcação de consultas em call center ou em apps, pelo que não surge esta questão), deixo o alerta se recorrerem a estes locais:
Surgindo estes sintomas, que possam ser sinais de doença por covid-19, mas podem ser outras infeções:
– NÃO devem recorrer a consultas “normais”, no caso dos hospitais privados, devem ir aos locais de urgência, onde são observadas as crianças doentes, e separadas devidamente.
E não devem afluir desnecessariamente às urgências dos hospitais do SNS.
Apenas se a sintomatologia for mais preocupante.
As urgências hospitalares são indispensáveis para atendimento de doenças graves, que podem não ser atendidas em tempo útil se o recurso for indiscriminado.
Aconselhem-se sempre com os vossos Pediatras ou Médicos de Família.
O Serviço Nacional de Saúde tem um excelente atendimento.
A união faz a força e estando atentos, evitamos disseminar mais o vírus.
Se é verdade que a MAIORIA das situações NÃO serão infeção por covid-19,
agindo assim, somos todos agentes de contenção da pandemia.
Repito, o que é VERDADE, e irão ouvir dos vossos Pediatras ou Médicos de Família:
– As crianças têm na MAIORIA dos casos sintomas ligeiros e passageiros;
– muitas nem sintomas têm;
– importa estar atento a esta, mas também a OUTRAS doenças que não desapareceram e têm muito mais risco de vida.
Estar atento NÃO significa entrar em pânico!
Não esqueçam:
– se os vossos meninos fizerem febre, importa dar medicação para a baixar, sempre.
Não interfere com doença nenhuma.
Têm é de a medir e vigiar.
Se descer e parecerem bem dispostos e forem bebendo líquidos, fiquem mais tranquilos, mas neste momento e à luz dos conhecimentos atuais e das normas da DGS, devem referenciar para ser realizado o Teste covid -19.
As escolas irão abrir, como já abriram as creches, e seguiremos as normas, à medida que forem implementadas, com a máxima serenidade possível, para o bem de todos os meninos.
Em vários países, para além das creches já abriram as escolas.
A vida, queremos todos, tem de continuar.
Se as pessoas forem cuidadosas, os países não voltam a parar, algo que julgo ninguém deseja.
Vamos vivendo o nosso tempo, que é este, adaptando-nos à realidade, com sensatez e bom senso.
Vânia Mesquita Machado
19 agosto 2020