Artigo de Opinião
Rui Maia

Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
O património industrial para além de elemento cultural físico e tangível não deixa de ser uma melodia, música que nos preenche os sentidos e nos ajuda a viajar, razão pela qual a sua imaterialidade nos toca, pois, representa a nossa identidade, a nossa ancestralidade, as nossas origens e, ad aeternum, norteia o nosso presente e o nosso porvir.
Nessa esteira, trazemos a lume o lindíssimo Coreto do Parque da Ponte, na cidade de Braga que, para além de receber as muitas bandas filarmónicas que ali se exibem, particularmente, aquando das festas de S. João (que estão à porta), preenche de Arte um dos espaços mais nobres da urbe. O Parque, onde o verde das árvores (cor da esperança), predomina, faz-se de serenidade, reflexão e admiração, tal é o esplendor da mãe natureza mesclada com o saber-fazer do Homem, cujo engenho é interminável.
Trata-se de um Coreto executado na alvorada do século XX, em época de grande embelezamento daquele espaço, pela firma João Carlos Correia & C.ª, fundeada na rua Gabriel Pereira de Castro, comummente conhecida na cidade por “rua da Escoura”.
Não obstante, o Coreto encontra-se isolado, implantado em largo semicircular, delimitado por fustes de colunas e bancos de pedra, no centro do Parque ajardinado e arborizado, onde predominam as tílias e os plátanos de porte apreciável, na margem esquerda do rio Este, a escassos metros da Capela de São João da Ponte.
No que concerne às suas características arquitetónicas, assenta num soco de blocos de granito tosco, onde variam as dimensões, numa disposição desordenada, rasgado a sudoeste por porta de verga reta. Sob o soco assenta base octogonal, em granito, com paramentos revestidos com painéis de azulejos policromos (azul – verde – vermelho e preto), com motivos florais, emoldurados e apartados por plintos com faces côncavas, com gárgulas à face. O acesso principal é realizado a noroeste, através de escadaria de oito degraus, de lanço reto com guarda em ferro forjado. O ferro forjado é um dos elementos mais marcantes da arquitetura de Oitocentos, em comunhão com outros elementos construtivos, como a alvenaria e o vidro, e que se vai estender pelo alvor do século XX, como é o caso. Sobre o palco, corre gradeamento em ferro, igualmente forjado e, em cada uma das arestas do polígono, levantam-se oito colunas de ferro fundido, contendo as duas que ladeiam a escadaria uma placa com inscrição do fabricante, que sustentam uma armação onde assenta a cobertura – em cúpula – guarnecida nos bordos por lambrequim e coroada por lanternim, vazado por pequenos óculos, rematado por cúpula bolbosa sobrepujada lira em ferro forjado. O Interior ostenta paramentos revestidos a azulejos de cor verde, com pavimento em mosaico grés, policromo (preto e vermelho) com padrão geométrico.
Este importante elemento do património industrial da cidade foi intervencionado no ano transato. Todavia, e ao que parece, a sua cobertura foi abalroada pela queda de algum ramo, ou, eventualmente, por atos de vandalismo. Nesse sentido, solicita-se que o executivo municipal desencadeie as diligências necessárias a fim de expurgar os danos, restituindo-lhe toda a dignidade que granjeia.
No Coreto a Banda toca,
entre o sopro e o bater.
São João de Braga é festa,
largo povo lhe vai fazer.
As promessas, ou pedidos,
porque intervêm os santos.
Aos insaciados, desvalidos,
infelizmente são tantos…