O Tribunal Judicial de Braga vem de absolver uma empresa de construção civil de Barcelos que foi julgada em Braga por 11 crimes de tráfico de pessoas, associação criminosa e furto.
O coletivo de juízes não deu como provada nenhuma das alegações de três antigos trabalhadores, contratados para uma obra na Costa do Marfim, que diziam ter trabalhado sem receber a totalidade do salário, sem apoio médico em caso de doença e com comida insuficiente.
O Tribunal também não aceitou a tese de que a empresa não os deixava regressar a Portugal, mesmo quando estavam doentes. Um dos queixosos disse a O MINHO que vai recorrer do acórdão para a Relação de Guimarães, por entender que o Tribunal não valorou os factos relatados em julgamento.
A Cofrepower – Construção Civil, – que, entretanto, pediu a insolvência – o proprietário, Paulo Fernandes, o encarregado, José Carlos Ferreira, o engenheiro civil, Hugo Fernandes, e outras duas arguidas, funcionárias, negaram os crimes, atribuindo as dificuldades à realidade do país africano. Ao longo do julgamento, manifestaram-se inocentes, no que o Tribunal acreditou.
A firma contratou, em 2015, vários grupos de trabalhadores, mais de 30 no total, dos quais cerca de 20 eram testemunhas de acusação.
Na última sessão do julgamento, um dos queixosos relatou que ficou doente com paludismo e que, a conselho de um médico africano, teve de viajar sozinho para Portugal, apesar de muito debilitado. Esteve internado numa clínica no local, tendo sido ele que pagou as despesas médicas. A viagem, com escala em Marrocos, durou 24 horas, período em que quase não comeu. “Vinha quase a morrer”, lamentou.
Em Marrocos temeu que o internassem compulsivamente devido à doença de que era portador e dado que as autoridades de saúde locais, podiam suspeitar que era ébola. Depois, no aeroporto de Lisboa, ninguém, da empresa, estava – ao contrário do prometido – à sua espera. Telefonou para o encarregado e ninguém respondeu. Sem dinheiro, muito fraco e desesperado, teve a sorte de encontrar uma pessoa caridosa que o levou à camionete para o Norte e lhe emprestou 30 euros para comer qualquer coisa. à chegada ao Porto foi logo internado no hospital.
Versão que não convenceu os três juízes e que foi negada pelos patrões.