O PCP considerou hoje que os principais problemas do país ficaram de fora do Congresso do PSD, enquanto o Livre viu uma aproximação ao discurso da extrema-direita e o PAN defendeu que foi anunciada “uma mão cheia de nada”.
Em declarações aos jornalistas após ter assistido ao encerramento do 42.º Congresso Nacional do PSD, em Braga, o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP Belmiro Magalhães considerou que a reunião magna social-democrata ficou marcada por “uma vontade muito grande de continuar a zelar pelos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros”.
“Essa é a marca de água que distingue o Governo do PSD. Não se falou de aumento dos salários, das reformas, dos problemas da habitação, da valorização dos serviços públicos. Não se falou dos principais problemas do povo e do país”, sustentou.
Questionado sobre os anúncios feitos pelo primeiro-ministro, Belmiro Magalhães disse que é preciso analisar cada uma das medidas, frisando que “talvez algumas delas nem sejam novas, outras estão seguramente muito longe da prioridade e preocupação das pessoas”.
“Veja-se a questão da disciplina de cidadania. O que a escola pública precisa é de mais professores, mais auxiliares, investimento nos próprios edifícios da escola e, portanto, desse ponto de vista, parece-nos que não é seguramente a questão prioritária”, afirmou.
Por sua vez, o dirigente do núcleo do Porto do Livre Hélder Sousa notou “uma aproximação do discurso do PSD ao discurso da extrema-direita” e manifestou preocupação com a “reconfiguração da disciplina de cidadania”.
“Foi dada como uma novidade, mas a alteração dessa disciplina assusta-nos. Também incentivar os privados e distribuir recursos pelos privados do SNS, não nos parece uma boa medida”, frisou.
Hélder Sousa lamentou ainda que, no discurso de Luís Montenegro, não tenha havido menções relativas à habitação ou à emergência climática, nem sobre “o que é preciso fazer para se enfrentar esse desafio nos próximos tempos”.
Não houve “nada sobre combate às desigualdades. Continuamos a assistir a algumas medidas que vão contribuir para privilegiar muitos poucos, em detrimento da maior parte das pessoas. Este discurso suscita-nos muita preocupação”, disse.
A dirigente do PAN Sandra Pimenta afirmou que, depois de oito anos na oposição, o PSD apresentou hoje “uma mão cheia de nada”, considerando que Montenegro não apresentou “medidas inovadoras” ou que “realmente vêm dar resposta aos problemas diários dos portugueses e das portugueses”.
“Infelizmente, assistimos a um discurso redondo, virado para o PSD e para as características próprias do PSD e por isso temos de lamentar”, disse.
Sandra Pimenta considerou que “as alterações climáticas ficaram na gaveta” e, no que se refere aos anúncios sobre violência doméstica, considerou que o Governo continuar “a falar no fim da linha”.
“Todos os apoios são obviamente importantes para as vítimas, essencialmente mulheres, de violência doméstica, mas nós temos de começar a falar de prevenir. Não é à toa que, até setembro, foram registados mais de 11 mil denúncias de crimes por violência doméstica. Quando é que vamos parar estes números?”, perguntou.
A dirigente do PAN defendeu ainda que “é essencial que este Governo comece a perceber” que a sociedade é sensível “à proteção e bem-estar animal”, afirmando que as verbas para a proteção animal “ficaram completamente de fora deste documento”.
“Só temos a lamentar esta visão retrógrada, provavelmente influenciada pela coligação que se apresentou a estas eleições”, disse.