Catherine Pereira
Profissional de Comunicação
No próximo dia 10 de março Portugal vai às urnas para as tão inesperadas eleições legislativas.
No decorrer destes dias tenho ouvido algumas pessoas afirmarem que não irão votar ou que irão votar em branco como forma de protesto pela desmotivação que sentem relativamente à política (e aos políticos) em Portugal.
Bem, é sabido que, nos últimos anos, a participação dos eleitores diminuiu de forma significativa e isso reflete, efetivamente, o sentimento de distanciamento em relação à política do país. Já não bastava Portugal ter uma das taxas mais elevadas de abstenção da Europa, também os jovens do nosso país são os que menos votam.
Entendo as frustrações e sentimento de incertezas, mas também entendo que a mais valia de um regime democrático é o facto de termos voz na eleição daqueles que queremos que conduzam o país.
Não gosto da abstenção, nem do voto em branco. Pergunto-me qual a legitimidade dos cidadãos que não votam têm de se queixar. Faz-me sempre lembrar aquelas pessoas que dizem que não têm sorte ao jogo (mas que não jogam), que não têm sorte no trabalho (mas que não mudam)…
É urgente termos uma sociedade com maior participação cívica, e acima de tudo, com maior literacia política. Precisamos de um país, de uma escola, que forme as crianças e jovens para a importância de uma sociedade mais informada, que não desvalorize o voto livre, um direito adquirido com a “Revolução dos Cravos”, ocorrida a 25 de Abril de 1974, e que por sinal, este ano, assinala meio século.
Acredito que os números de abstenção das últimas eleições levantam muitas questões e dúvidas sobre o sistema eleitoral no país… Pergunto-me o porquê dos jovens em Portugal não poderem votar aos 16 anos? Uma proposta já levada à Assembleia da República, mas que infelizmente não avançou. É no mínimo ambíguo, aos 16 anos os jovens já serem responsabilizados criminalmente, mas supostamente ainda não terem maturidade para votar.
Em 2022, nas últimas eleições legislativas, mais de 48% de eleitores abstiveram-se. Isto é crítico para o sistema eleitoral e fragiliza, também, os políticos que vencem ou perdem eleições. São escolhidos não por margem significativa da vontade real dos cidadãos, mas por uma questão de “sorte”, de mais ou menos votos.
E se a abstenção continuar a aumentar deveremos pensar na instituição do voto obrigatório? Eu não gosto nada do termo “obrigatório” quando o voto sempre foi um sinal de liberdade.
O melhor mesmo é irmos todos, no próximo dia 10, votar e comunicar a nossa vontade, o que queremos de futuro para o país. E não custa assim tanto. O dia até nos corre melhor…