Cerca de duas dezenas de comerciantes encerraram, na manhã desta quinta-feira, os seus estabelecimentos, nas ruas em volta do centro histórico, e encheram a sala de reuniões do executivo camarário vimaranense, para protestar contra o corte de trânsito naquelas vias.
A Associação Vimaranense para a Ecologia (AVE) também aproveitou a reunião para vincar o seu protesto contra a construção da via do Avepark. Os ambientalistas dizem-se dispostos a avançar para os tribunais para impedir o que consideram um crime ambiental.
O presidente da Câmara, Domingos Bragança procurou tranquilizar os comerciantes prometendo-lhes uma reunião, quando o projeto estiver pronto, mas antes de estar aprovado.
À AVE, o autarca reforçou a convicção de que a via de ligação ao Avepark é estruturante e fundamental para a viabilização do transporte em via dedicada entre Guimarães, Braga e a futura estação ferroviária da alta velocidade.
Os comerciantes, representados pela presidente da Associação do Comércio Tradicional (ACTG), Cristina Faria, queixam-se de estar a ser usados como “cobaias”, na sequência do anúncio de que Guimarães foi eleita como cidade-piloto pelo projeto “NetZeroCities”. As declarações da representante dos comerciantes ficaram marcadas pela emoção que lhe embargou as palavras e obrigou a que fosse substituída. “Não nos mande embora para outras cidades, senhor presidente”, pediu Cristina Faria.
O presidente do Município, Domingos Bragança, assumiu o compromisso de “reunir com os comerciantes em plenário, quando o projeto estiver pronto”. O autarca deixou claro que o objetivo, antes anunciado, de encerrar as ruas adjacentes ao Centro Histórico, até ao final de 2023, já não é possível. “Ainda não temos projeto e depois é preciso lançar a obra a concurso, por isso, já não será este ano”, adiantou.
Os comerciantes reclamam bolsas de estacionamento e a atração de serviços para as ruas do centro urbano. “Lembramos as experiências de obras passadas em que as quebras de vendas rondaram sempre os 80%”, afirmam. Mas, para o presidente da Câmara, “se nada fizermos a situação de quebra do comércio vai continuar”.
O autarca garante, contudo, que a obra que está prevista de nivelamento da Rua de Santo António, Alameda de São Dâmaso e Largo do Toural com os passeios, não implica o corte de trânsito de forma irreversível. “Se nós verificarmos que a pedonalização não é boa para os negócios o trânsito pode voltar”, assegura.
Domingos Bragança defende que o corte seja feito na totalidade e não de forma progressiva, como alguns defendem. “Só fechando o trânsito durante um período de, por exemplo, seis meses, é que conseguiremos perceber de que forma é que vai funcionar”, afirma.
Ambientalistas dispostos a ir a Bruxelas protestar
A AVE questiona o que considera um recuo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) “relativamente a uma estrada que é construída, em dois terços do seu traçado, em reserva agrícola ou ecológica”. Segundo os ambientalistas, este organismo, em 2019, emitiu um parecer “bastante contundente, a enumerar os impactes ambientais significativos e a declarar que o projeto devia ser submetido a uma Avaliação de Impacto Ambiental (AIA).”
A associação ecologista não percebe o que é que mudou entre esse momento e fevereiro de 2022, quando a APA isentou o projeto de passar pela AIA. “A via do Avepark não será contestada apenas judicialmente. Todas as entidades nacionais e europeias serão confrontadas e questionadas com esta irracionalidade”, alertou José Cunha, da direção da AVE. Os ecologistas vimaranenses tem estado a equacionar a possibilidade de organizar uma excursão a Bruxelas para protestar contra esta estrada, adiantou o seu representante.
O presidente da Câmara defende que a via do Avepark se tornou fundamental para a implementação da solução de transporte em via dedicada a Braga e à futura estação de alta velocidade ferroviária. A via será usada como uma “variante de acesso às Taipas”, libertando a EN 101, para que esta possa comportar o canal para o BRT (autocarro em via dedicada) ou o metro ligeiro.
Para o autarca, o único obstáculo para a construção desta estrada é o financiamento. No PRR só estão previstos 18 milhões de euros e o projeto está estimado em 40 milhões. “A Câmara não tem 40 milhões de euros, nem metade desse valor e, para cumprir os calendários do PRR, o concurso desta obra tem que ser lançado até ao final deste ano”, sinalizou o edil, lembrando que a comparticipação do Governo é fundamental para que a obra se concretize.