O quartel dos Bombeiros de Amares está a ser assegurado em exclusivo por elementos voluntários depois de seis elementos testarem positivo para o novo coronavírus, levando ainda ao isolamento profilático de outros dez elementos profissionais, entre os quais o responsável máximo do corpo ativo.
Com a sombra de novos contágios sobre o quartel, há ainda o medo de que o mesmo tenha de encerrar, face à falta de elementos para assegurar o socorro à população.
Os dois primeiros casos de elementos com resultados positivos de infeção remontam ao passado dia 02 de maio, depois de testes feitos a 16 bombeiros no dia 29 de abril.
Face ao plano de contingência adotado pela associação, existiam três equipas de seis elementos em turnos de 24 horas. Como dois acusaram positivo, os outros quatro elementos da equipa foram forçados a isolamento profilático de 14 dias, mesmo sem resultado positivo, face à exigência da profissão pelo contacto direto com grupos de risco.
Até então, apesar da preocupação, o socorro mantinha-se assegurado com as restantes equipas. Ou assim pensou o comando.
Embora existisse uma desinfeção diária das instalações e não existisse cruzamento de elementos entre equipas, ao longo dos últimos dias chegaram resultados das restantes equipas, com todas a terem, pelo menos, um elemento infetado. Ao todo, são seis bombeiros com a covid-19 e dez elementos em isolamento profilático de 14 dias por contacto com colegas infetados.
“Foi tudo muito rápido”
O MINHO falou com Domingos Ferreira, comandante-adjunto e único elemento do comando da corporação, onde assume responsabilidades ao longo dos últimos 18 anos.
“Foi tudo muito rápido, conhecemos os primeiros resultados no dia 04 e, nos últimos dias da passada semana, fomos conhecendo os restantes. Cheguei a temer que seria necessário encerrar o quartel porque todas as equipas profissionalizadas estão agora afastadas durante 14 dias, onde eu me incluo”, disse o adjunto, que está, agora, em modo teletrabalho.
“Nunca pensei que isto me fosse acontecer, estou nos bombeiros há 30 anos e como elemento de comando desde 2003 e agora vejo esta situação”, lamenta.
Comando em teletrabalho
Durante a entrevista dada a O MINHO, o adjunto foi recebendo chamadas dos voluntários que se encontram agora no quartel. Parece ter tudo controlado, esclarecendo eventuais dúvidas através de telefone ou até da internet. “Estou mesmo em teletrabalho”, disse, embora sem motivos para rir.
Domingos Ferreira mostra-se preocupado caso o vírus atinja mais elementos das equipas de voluntários que se encontram a assegurar o serviço: “Se fico sem o pessoal, vou ter de me socorrer de corpos de bombeiros vizinhos, como é o caso de Vila Verde, onde o segundo comandante [Luís] Morais já manifestou total apoio caso haja essa necessidade, assim como as restantes corporações do distrito”.
No fim de semana foi efetuada uma desinfeção a fundo de todas as instalações no quartel, pela Câmara de Amares que, diz o adjunto, “esteve irrepreensível na ajuda”. “À noite, e por haver necessidade de outro tipo de produtos menos agressivos, foi feita a desinfeção das ambulâncias pelos Bombeiros Voluntários de Braga, a pedido do seu responsável pelo corpo ativo, Pedro Ribeiro, a quem também agradeço”, adianta.
Quartel em vias de fechar
Após essa dupla desinfeção, levada a cabo na sexta-feira à noite e no sábado, foi permitida a entrada das equipas de voluntários que agora asseguram os serviços de emergência. “Se não fosse essa desinfeção, tinha que fechar o quartel”, contrapõe.
Domingos Ferreira, à semelhança dos restantes elementos em isolamento, encontra-se em casa, por opção própria. “A Câmara disponibilizou instalações mas decidimos ficar no nosso próprio alojamento”, indicou
Atualmente, três equipas de seis elementos vão assegurando os serviços, ao longo de 24 horas cada uma, à semelhança do que acontecia anteriormente com as equipas profissionalizadas. Entretanto, este domingo, dois elementos profissionais já regressaram ao ativo.
Falta de apoio da autoridade distrital
Em jeito de remate, o adjunto lamenta alguma inércia por parte da Autoridade Nacional da Proteção Civil e do comando distrital: “enquanto se formam conjuntos de bombeiros para efetuar desinfeções em lares do distrito, a ajuda demorava três a quatro dias para desinfetar o nosso”.
Atualmente, o concelho de Amares é um dos mais fustigados pelo vírus na região do Vale do homem, com 68 casos positivos de Covid, embora haja já vários recuperados, número que O MINHO não conseguiu apurar face à intransigência da delegação de saúde local em revelar esses dados.