O líder do Chega, André Ventura, disse hoje que tem recebido ameaças de morte, mas indicou que não mudará “um milímetro” da campanha, e não vai apresentar queixa ou reforçar a sua segurança privada.
O sétimo dia da campanha do Chega para as eleições legislativas arrancou com uma visita ao Mercado Municipal de Vila Real, seguido de uma pequena arruada na cidade, ao final da manhã.
À semelhança do que aconteceu nos últimos dias, a comitiva do Chega deparou-se com um novo protesto de um homem da comunidade cigana que se colocou junto aos apoiantes do partido, gritando a um megafone, ainda antes de André Ventura chegar ao local.
Ao contrário do que aconteceu em Aveiro, Braga e Viana do Castelo, o presidente do Chega não respondeu diretamente ao manifestante. Em declarações aos jornalistas, à chegada ao mercado, disse que tem recebido “um número inqualificável de ameaças”.
“O que temos recebido nos últimos dias no Chega é inqualificável. De pessoas a dizer que me vão matar, que vão fazer tudo para me eliminar fisicamente, que vão acabar connosco, que nos vão perseguir. E o país preocupa-se que os ciganos estejam ofendidos por eu dizer que eles têm de trabalhar e que têm de cumprir regras”, afirmou, numa alusão a uma notícia do semanário Expresso que refere que associações de ciganos processaram-no por “discurso de ódio”.
O líder do Chega defendeu que estas associações devem “apelar aos ciganos todos que parem com este espetáculo degradante”.
André Ventura afirmou que não vai alterar a campanha nem reforçou a sua segurança pessoal, reiterando que “não tem medo” nem aceita “que nenhum grupo, minoria, étnica ou outra, [o] impeça de fazer campanha política”.
O presidente do Chega indicou também que não conta apresentar queixa por essas ameaças, pois não quer “entupir a justiça” nem “fazer dos tribunais a nova forma de ação política”.
Questionado se reforçou a sua segurança pessoal privada, Ventura disse que “está exatamente como estava”.
“Eu não vou mudar um milímetro da minha vida por causa dos ciganos”, salientou.
Depois de na sexta-feira à noite ter pedido à ministra da Administração Interna para estar atenta e que todos sejam tratados por igual, hoje afirmou que “o Chega não pede especial atenção nunca para si próprio”, mas considerou que, se estas situações continuarem, o Governo “está a arriscar criar uma situação política explosiva”.
Ventura disse também que todas as ações de campanha são articuladas com as autoridades e que não foi avisado de um reforço de segurança.
A arruada foi acompanhada por agentes da PSP fardados e à paisana.
O manifestante, Serafim dos Anjos, queixou-se de discriminação, sustentando que os ciganos “querem trabalhar”, mas “não têm oportunidades”, e pediu: “deixem de ser racistas”.
Aos jornalistas, o homem disse que soube desta iniciativa pelas redes sociais e que os protestos dos últimos dias não o inspiraram a estar ali.
Do outro lado, os apoiantes do Chega gritavam: “ide trabalhar” e “deixar de viver de subsídios”.
Telmo Resende, empresário local de construção civil, interpelou este homem, dizendo que arranjaria trabalho “para quatro ou cinco”, e pediu que se apresentassem na segunda-feira.
“Só espero que cumpram”, pediu Serafim.
Serafim dos Anjos, que fundou a Associação Nacional e Social de Etnia Cigana, foi condenado em 2022 por tráfico de droga, com pena suspensa.
André Ventura foi questionado também sobre as críticas do líder do PSD no dia anterior, que acusou deputados e dirigentes do Chega de espalharem desinformação, e considerou que isso “é curioso”, vindo de um “primeiro-ministro que mais não tem feito do que desinformar os portugueses sobre a obra que fez”.
“É o mesmo primeiro-ministro que chamou as televisões com a mulher para fazer uma ação política”, afirmou, sem querer comentar o facto de Luís Montenegro ter ido cumprimentar a sua mulher em peregrinação a Fátima, acompanhado pelas televisões.
O presidente do Chega disse estar “focado em falar para o país, não em ‘fait divers’ com o primeiro-ministro”.