A via ciclopedonal Famalicão-Póvoa de Varzim e a via cicloturística Fafe-Guimarães podem voltar a funcionar como linha ferroviária no âmbito do novo Plano Ferroviário Nacional (PFN), que se encontra em consulta pública. As autarquias, para já, resguardam-se de comentários. Mas o Governo, a O MINHO, confirmou essa possibilidade.
Na apresentação do projeto do PFN, em novembro, foi assinalada a intenção de unir as cidades de Póvoa de Varzim e Famalicão através do chamado “Sistema de Mobilidade Ligeira do Cávado-Ave”.
No documento, entretanto consultado por O MINHO, é salientado que “há dois troços desativados de antiga linha férrea que podem ser reaproveitados para um novo sistema de mobilidade ligeira, o troço que liga a Póvoa de Varzim a Famalicão e o que liga Guimarães a Fafe”.
Mas ambos funcionam atualmente como vias pedonais e cicláveis, com a de Famalicão-Póvoa de Varzim, recentemente inaugurada, a ter um elevado fluxo de afluência, sobretudo ao fim de semana. Também a via entre Fafe e Guimarães é bastante utilizada, sobretudo para a prática de cicloturismo.
Em relação à atual via pedonal e ciclável que une Famalicão e Póvoa de Varzim, o plano salvaguarda, inicialmente, uma eventual transformação, apontando para uma solução que poderá ser por estrada – do género de um autocarro – mas que terá sempre de evoluir para um sistema de ferrovia. E é aí que entra a via ciclo pedonal.
“A solução evolutiva permite que mais cedo e com um investimento inicial mais modesto se possa criar um transporte coletivo de qualidade onde hoje não existe nada, captando tráfego e ocupando o espaço-canal necessário ao futuro sistema ferroviário”, é dito no relatório.
Inaugurada em julho de 2021, aproveitando o antigo trajeto dos comboios fechado em 1995, a via ciclo-pedonal Famalicão-Póvoa de Varzim teve um custo total custo de 4.333.644,27 euros e beneficiou de um cofinanciamento FEDER no âmbito do Programa Operacional Norte 2020 no valor de 3.683.598,63 euros.
Já a Pista de Cicloturismo do Ave, que une a cidade a Mesão Frio, em Guimarães, foi inaugurada em 1996 sobre o antigo canal ferroviário desativado desde maio de 1986, que ligava aquela cidade à de Guimarães, município que, em 1999, completou o trajeto também com pista Ciclável para fins turísticos.
Questionado por O MINHO, fonte do gabinete do Ministério das Infraestruturas e Habitação disse que cada caso será avaliado de forma individual e que a possível reconversão de ciclovias em caminhos de ferro só acontecerá caso se prove ser uma mudança benéfica para a população.
“No caso dos eixos mencionado no PFN, será necessário avaliar, caso a caso, se os benefícios da reativação de um serviço de transporte coletivo sobre o espaço-canal das linha desativadas que são mencionadas no PFN são efetivamente maiores do que os de manter a via ciclável naquele espaço”, esclareceu o gabinete liderado por Pedro Nuno Santos.
A mesma fonte salienta ainda que “a conversão” em ecopistas e vias cicláveis das antigas linhas de comboio, tinha “como um dos pressupostos a preservação do canal, acautelando sempre a possibilidade de recuperar a sua função ferroviária”.
“Neste sentido, o investimento feito na criação destas ecopistas é, em parte, para assegurar a manutenção do próprio espaço-canal, evitando a sua degradação e abandono”, conclui o gabinete.
O MINHO também contactou fontes autárquicas, mas estas apontaram ser ainda cedo para qualquer comentário sobre esta matéria, porque o plano ainda se encontra em discussão pública, aberto a sugestões, podendo ser alterado.
Contudo, sabe O MINHO, as autarquias estão à espera da criação de um grupo de trabalho para avaliar estas situações, algo que só acontecerá a partir de março de 2023.
A consulta pública do Plano Ferroviário Nacional decorre, aqui, até 28 de fevereiro de 2023. Os “contributos” podem ser enviados através do e-mail [email protected].