Os moradores no bairro social do Sobreiro, em Arcos de Valdevez, denunciam as condições “desumanas” em que vivem e acusam o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) e a câmara local de não intervirem nas habitações “deterioradas”.
“É essencial que a situação do bairro do Sobreiro não seja mais ignorada, pois os moradores têm o direito inalienável de viver em um ambiente digno e seguro. A falta de infraestrutura adequada, serviços básicos e condições habitacionais mínimas é uma questão que não pode ser subestimada, e é fundamental que os responsáveis pela gestão pública reconheçam a necessidade urgente de intervenção”, destacam os moradores em uma carta enviada à imprensa.
Os moradores alegam que “os problemas do bairro já foram reportados ao IHRU, por ‘email’ e via telefone mais de 100 vezes”.
“Somos capazes de enviar um ‘email’ todas as semanas e não obtemos resposta. A Câmara de Arcos de Valdevez só dá desculpas, em vez de arranjar soluções viáveis”, referem.
“Frustação” e “desilusão”
Segundo os moradores, em março de 2022, receberam um ofício do Departamento de Promoção e Reabilitação do Norte, “a prometer a realização de obras e melhorias no bairro do Sobreiro, visando resolver as questões prementes que foram levantadas”.
“Até ao momento presente, não houve nenhuma indicação tangível de progresso ou ação concreta para cumprir as promessas delineadas no referido ofício”, apontam.
Segundo os moradores, “a falta de qualquer desenvolvimento substancial tem causado uma crescente sensação de frustração e desilusão entre os moradores, que têm sido privados de melhorias urgentemente necessárias”.
“A ausência de transparência e prestação de contas nesse assunto é profundamente preocupante e exige uma pronta intervenção para restaurar a confiança e garantir o bem-estar da comunidade do bairro do Sobreiro”, alertam.
A agência Lusa pediu esclarecimentos, por escrito, ao IHRU, mas ainda sem resposta.
Moradores “têm razão”, diz presidente da Câmara
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Manuel Esteves, reconheceu que os moradores “têm razão”, mas sublinhou que o bairro é propriedade do IHRU, organismo a quem cabe reabilitar os edifícios.
“As pessoas têm razão. As habitações nos três edifícios, construídos na década de 70/80, têm infiltrações e outro tipo de problemas que deveriam ser tidos em consideração. Já foram referidos várias vezes, quer pelos moradores quer pela Câmara Municipal. Já mostrámos a nossa disponibilidade para colaborar na melhoria das condições de habitabilidade”, frisou.
O autarca social-democrata referiu que “a reabilitação dos edifícios é da responsabilidade do IHRU” e que a autarquia “não pode substituir-se”.
“A Estratégia Local de Habitação de Arcos de Valdevez prevê a reabilitação do bairro, por intermédio do IHRU. Esperamos que o IHRU nos escute”, destacou.
Na carta enviada às redações, os moradores queixam-se de serem “amplamente negligenciados tanto pelo IHRU, como pela Câmara de Arcos de Valdevez” e justificam a decisão de denunciar a situação para “chamar a atenção para urgência de ações concretas e imediatas por parte das autoridades competentes”.
Relatam que, “em tempos chuvosos, não podem estar descansados” porque “as condições dos telhados são horríveis, as telhas com o vento e chuva levantam e chove dentro de casa”.
“Chegámos ao ponto de ter infiltrações dentro de candeeiros, o que se torna um perigo”, referem.
“Inércia contínua”
A degradação de janelas e estores dos apartamentos é outro dos problemas que preocupam os moradores. Os moradores dizem ainda que “as varandas dos prédios estão num estado deplorável, desde a última intervenção que foi há mais de 10 anos. “Estas [varandas] encontram-se quase a cair, podendo causar acidentes muito graves”, especificam.
Os moradores “queixam-se” de uma “inércia contínua” que “perpetua a desigualdade social e a marginalização dos residentes, mas também representa uma clara violação dos direitos humanos básicos”.
“Apelamos a todos os responsáveis para que ajam com prontidão e empenho, assumindo a responsabilidade pela transformação significativa e positiva do bairro”, alertam.