Cerveja artesanal de Vila Verde antecipa verão entre o otimismo e a incerteza

“Tempos de muita instabilidade”, alerta administrador da Letra

As cervejeiras artesanais do Norte estão divididas entre o otimismo face ao próximo verão, a incerteza por causa do aumento de preços e as dúvidas face ao futuro, segundo três testemunhos do setor ouvidos pela Lusa.

“Acho que nós, neste verão, vamos manter pelo menos o que tínhamos em 2019. Somos capazes, eventualmente, de fazer um bocadinho acima, mas isso porque estamos a apontar em novas linhas e novos canais de venda. Por isso sim, vamos recuperar. Estamos bastante otimistas”, disse à Lusa Pedro Mota, presidente executivo da Fábrica de Cervejas Portuense, que faz a cerveja Nortada.

O responsável adiantou que se verificou um “salto absurdo” no negócio desde janeiro e fevereiro, devido ao fim do confinamento, e que face à “grande ânsia das pessoas por momentos de consumo” de cerveja, para a empresa “é como se fosse 2019, e está tudo já como era antigamente”.

Já Francisco Pereira, administrador da Letra – Cerveja Artesanal Minhota, originária de Vila Verde e presente também em Braga e Ponte de Lima, considerou que as perspetivas para o verão “não são más, são razoáveis”.

“Mas ao contrário de algumas pessoas que já tenho ouvido falar, e já têm partilhado opinião, eu não estou totalmente otimista”, disse à Lusa o responsável minhoto.

Segundo o administrador desta cervejaria de Vila Verde, “a quebra no consumo, no geral, já se sente”, observando “uma determinada retração que tem a ver, essencialmente, com o que se está a passar e com um certo medo que as pessoas têm do ponto de vista de consumo e de aumento de preços”.

Nesse campo, o administrador da Letra prevê ainda, “nos próximos seis meses a um ano, tempos de muita instabilidade” e eventualmente de “alguns picos de preço em determinadas matérias-primas”.

Os receios de Francisco Pereira são partilhados pela Post Scriptum, da Trofa (distrito do Porto), cujo gerente disse à Lusa não ter “expectativa absolutamente nenhuma, nem de que isto até vá melhorar”.

“Estou a ser muito honesto. Na minha perspetiva, eu acho que isto ainda vai piorar bastante no próximo ano”, antecipou Pedro Sousa, dizendo que atualmente está “meramente a sobreviver”.

Pedro Sousa ilustrou à Lusa o cenário dos aumentos das matérias-primas: “o malte aumentou mais de 16%, o gás praticamente duplicou, as garrafas também sofreram um aumento que é variável”, algo corroborado pelos restantes agentes do setor.

Pedro Mota, da Nortada, afirmou que no malte e lúpulo o aumento verifica-se “na ordem dos 40%, e com uma perspetiva de crescer e chegar até aos 60% do que estava em janeiro de 2021”, e o vidro “também subiu bastante” devido ao aumento dos custos da energia.

Pela Letra, Francisco Pereira disse que face a 2021 há “aumentos na ordem dos 20 a 25% nos cereais”, sendo a percentagem idêntica no consumíveis de cartão e plástico. No vidro, apesar dos custos mais elevados, não tem “indicação de escassez”.

Relativamente às faturações esperadas pelas empresas, a Fábrica de Cervejas Portuense, da Nortada, que faturou 2,5 milhões de euros em 2019, em 2022 “o objetivo é bater lá perto” e se possível “passá-lo”, depois de “dois anos abaixo do milhão”.

Na Letra, se em 2019 “o volume de negócios andava à volta do milhão de euros”, para 2022 prevê-se que alcance os 1,2 ou 1,3 milhões.

Quanto à Post Scriptum, em 2019 faturou cerca de 300 mil euros, e este ano Pedro Sousa estimou poder “chegar aos 200 ou 250 mil” euros, dizendo que a recuperação do negócio “está a ir muito devagar”.

 
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