O Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico (CNRLI) assinalou, no sábado, o 10º aniversário. Foi a 26 de outubro de 2009 que o CNRLI recebeu o seu primeiro lince, a Azahar, que hoje se encontra no Jardim Zoológico de Lisboa.
Fonte do organismo disse hoje que, nestes 10 anos nasceram 122 animais no CNRLI, dos quais 89 sobreviveram (73%) e 69 foram já reintroduzidos (em Mértola, Portugal e em Espanha, na Analuzia, Extremadura e Castilla La Mancha). Dos animais que não foram reintroduzidos, cinco foram integrados no programa de cria em cativeiro como reprodutores, e os restantes – não podendo ser libertados nem incluídos no programa de cria por problemas genéticos – foram encaminhados para Zoos ou encontram-se à espera de serem colocados em Zoos ou cercados de visitação. Dos oito animais nascidos em 2019, sete vão ser reintroduzidos na natureza no início de 2020, e 1 será integrado no Programa Ex Situ como reprodutor.
Neste momento, – acrescentou o organismo – encontra-se em construção uma Zona de Expansão no CNRLI, que permitirá melhorar a preparação de exemplares para projetos de reintrodução e em simultâneo recuperar animais de campo que sofram lesões ou doenças que impeçam a sua sobrevivência e ponham em risco a de outros linces no meio natural”.
O lince-ibérico (Lynx pardinus), considerada a espécie de felino mais ameaçada do mundo, está originalmente confinado à Península Ibérica.
Em Portugal atingiu no início do século XXI uma fase de pré-extinção, sendo que os últimos vestígios de lince em território nacional foram detetados 2001, em zona de fronteira, provavelmente de um lince dispersante de populações em Espanha”. Antes disso, – acrescentou – “o último vestígio de lince comprovado em Portugal foi registado no início da década de 90 do século XX. É provável que Portugal tenha perdido as suas populações estáveis durante a década de 80”.
Andaluzia
As últimas populações viáveis de lince-ibérico limitavam-se então à Andaluzia em Espanha, divididas por dois núcleos contendo 100 indivíduos no total. Estes, devido à sua reduzida área geográfica e efetivos, “estavam em situação muito vulnerável a processos estocásticos (epidemias, fogos, etc.). A espécie sofrera um declínio muito acentuado e encontrava-se num vórtex de extinção”.
Foi então estabelecido, em 1998, – lembra o Centro do Lince – “o arranque de um programa de reprodução em cativeiro como ferramenta para viabilizar a conservação da espécie, para que constituísse um seguro de vida face à possibilidade real de extinção da espécie no estado selvagem”. Este Programa de Conservação Ex Situ teve o seu arranque na Andaluzia, após o que se estendeu a Portugal e Extremadura e as suas metas principais são: “Estabelecer uma população em cativeiro de linces ibéricos, viáveis do ponto de vista sanitário, genético e demográfico que permita o desenvolvimento de técnicas de reprodução natural e assistida; Preparar exemplares de lince-ibérico, adequados do ponto de vista etológico, sanitário e genético para ações de reintrodução em áreas de distribuição histórica da espécie”.
No Algarve
O CNRLI, gerido pelo ICNF através de um contrato de comodato, é propriedade da empresa Águas do Algarve e tem, por via das medidas de sobrecompensação da construção da Barragem de Odelouca, compromissos financeiros atribuídos que permitem o seu funcionamento até 2025. Com a sua entrada em funcionamento, Portugal passou a contribuir ativamente para o Programa de Conservação Ex Situ e para os esforços de recuperação das populações em liberdade, através da cria em cativeiro, preparação e solta de exemplares destinados à reintrodução.