Realiza-se este domingo a 128º Grande Peregrinação à Penha. Este ano, pela segunda vez, vai realizar-se num formato diferente, em virtude das limitações impostas para conter a pandemia. Mais uma vez, não terá lugar a sempre grandiosa procissão entre a cidade e o Santuário, no topo da montanha da Penha. O ponto alto das celebrações é a missa campal, presidida pelo arcebispo primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, a que assistirão 500 pessoas, em lugares marcados.
Este ano, as cerimónias vão ser acompanhadas pela TVI. Através do programa “Somos Portugal”, a estação de televisiva vai cobrir, ao longo de mais de cinco horas de emissão, não só o programa religioso, mas também as festas, música e animação que sempre acompanham esta Peregrinação que teve a sua origem no povo.
Este ano as festividades ficarão marcadas pela cerimónia do adeus à Virgem Peregrina, que esteve no Santuário da Penha, ao longo dos últimos dois meses.
A montanha de Santa Catarina
A romagem à Penha pelos surradores e curtidores começou a fazer-se, segundo o “Memórias de Araduca”, no início da década de 80 do século XIX, desde essa altura, estes operários da indústria dos costumes continuaram a fazê-lo. O costume, classificado como peregrinação, desde 1893, substitui a anterior tradição de peregrinar à Senhora de Porto de Ave, em Taíde, na Póvoa de Lanhoso.
A montanha que conhecemos como Penha, é na verdade a montanha de Santa Catarina, que acabou por ser mais conhecida pelo primeiro nome pelo aspeto inóspito e rochoso que tinha, antes de ser transformada num parque pela ação das gentes de Guimarães.
Em 1886, foi criada a Comissão de Melhoramentos da Penha, tratava-se de criar na montanha de Santa Catarina uma “Sintra de cá”, escrevia o periódico vimaranense “A Época”. Foi nesse ano que se lançou a primeira pedra para a construção do Castelo e sua Torre sineira no mais alto penedo da gruta ermida de Nossa Senhora do Carmo (Padroeira da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo da Penha).
O topo da montanha foi arborizado a partir dessa mesma altura, de tal forma que, em 1923, já justificava a classificação como estância de turismo. A construção do Santuário que agora marca a paisagem de Guimarães, a primeira vista da cidade para quem se aproxima pela modernas autoestradas, foi iniciado em 1930. As obras sofreram um forte revés em 1939, quando um incêndio devastou a imagem de Nossa Senhora da Conceição e a talha que guarnecia o altar-mor do templo, ainda em construção.
A obra acabou por ser inaugurada, coincidindo com Peregrinação, a 14 de setembro de 1947, com os contributos de muitos vimaranenses, de todos os estratos sociais. Nos registos da irmandade constam, desde contribuições de pequeno valor, feitas pelos mais humildes, até generosos donativos dos mais abastados, nomeadamente de vimaranenses de além-mar que tinham encontrado fortuna noutras paragens. A arquitecto Marques da Silva, acabaria por morrer três meses antes da inauguração, sem ver a obra completa. A torre sineira que hoje pontifica acima do arvoredo da Penha, ainda não existia em 1947, a sua construção começou na última fase das obras e só viria a ser inaugurada em 1948.
“Estamos certos que o encontro com Nossa Senhora da Penha continua a ser muito especial para todos os vimaranenses que nos visitam ao longo deste dia e não esmorecem no carinho e na fé. Este ano, a Penha será também o Altar do Mundo que se despede da belíssima imagem de Nossa Senhora de Fátima”, afirma Roriz mendes, o juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Penha, afadigado com os preparativos das festividades.
A imagem da Virgem de Fátima, tal como a conhecemos hoje, só foi criada em 1947, apesar dos testemunhos das aparições datarem de 1917. Desta imagem foram feitas várias cópias, entre as quais a Virgem Peregrina que, nos anos seguintes percorreu todos os continentes. Em 1951 terá estado pela primeira vez em Guimarães. Nessa altura a imagem também passou pela Penha de onde seguiu para Fafe.
Este ano, em vez da tradicional procissão, que normalmente sai da cidade e sobe até ao Santuário, a imagem de Nossa Senhora da Penha será transportada, domingo, pelas 10h00, pelos Bombeiros Voluntários de Guimarães, ao longo das ruas da cidade e da freguesia da Costa. O da imagem chega ao Santuário pelas 10h50. Nossa Senhora da Penha será levada em ombros no percurso entre o largo do Cruzeiro e o altar do Santuário, onde, às 11h00, terá lugar a eucaristia solene, presidida pelo arcebispo primaz, D. Jorge Ortiga, com transmissão televisiva na TVI.
A Irmandade oferece a todos os vimaranenses, na noite do dia 11 de setembro, pelas 21h00, no recinto exterior do Santuário, uma monumental “Serenata à Senhora da Penha”. O espetáculo está a cargo da Associação de Fados de Guimarães, juntando músicos e cantores vimaranenses em palco.
Roriz Mendes, que passou por momentos particularmente difíceis quando esteve internado com covid-19, pretende que este seja “um ato público de gratidão pela coragem e dedicação de todos aqueles que trabalharam e trabalham em favor do próximo durante todos estes meses”.