Cegos experimentam conduzir jipe no monte de Santa Luzia em Viana

Foto: Joca Fotógrafos / O MINHO

Trinta e duas pessoas invisuais experimentaram, no último sábado, a sensação de conduzir um jipe no monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo.

A iniciativa já se realiza desde 2012 (tendo sido interrompida durante a pandemia), resultado de uma parceria entre o Viana Motor Clube e a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

O evento surgiu numa “conversa amigos” entre Carlos Laranjeira, à época presidente da delegação vianense da ACAPO, e Jorge Rodrigues, diretor do Viana Motor Clube.

Este ano, participaram 32 sócios da ACAPO que partiram, em cerca de 15 viaturas, do centro de Viana do Castelo para um percurso pelo monte de Santa Luzia que lhes permitiu ter “as sensações do que é andar fora da estrada e conseguir perceber em que consiste o todo-o-terreno”, explica Jorge Rodrigues a O MINHO.

Sentem o que é estar ao volante de um todo-o-terreno

“Lá em cima”, em pleno monte de Santa Luzia, os participantes têm oportunidade de ter “a sensação de estar ao volante de um 4×4”, explica o diretor do Viana Motor Clube, salienta que tal é feito com “acompanhamento” e “com as medidas de segurança necessárias”.

“Pomo-los ao volante do jipe, damos-lhe uma explicação do que é o volante e do que são os pedais. Muitos deles já conduziram, perderam a visão já depois de conduzirem, portanto têm a ideia do que é a condução. Mas outros não”, refere o dirigente.

A condução é feita num “sítio fechado, onde não há passagem de transeuntes”, e os jipes têm as “redutoras ligadas”, para se movimentarem “muito lentamente”.

Sentindo o que é estar ao volante de um todo-o-terreno, esta é a parte “mais emocional” da atividade, que termina com um convívio entre todos os participantes.

“Temos tido pessoas que choram de emoção, além de nos agradecerem de forma muito emotiva. Ficamos sensibilizados, sem dúvida que ficamos emocionados”, salienta Jorge Rodrigues, lembrando “algumas situações” mais marcantes.

Testemunhos “ficam marcados”

O diretor do Viana Motor Clube recorda “uma senhora já de certa idade, que faleceu há dois anos, e até morrer participou sempre na iniciativa desde a primeira edição”.

“Em nova, ela estava em África e perdeu a visão depois de vir para Portugal, aos 50 anos. Em África ela conduzia um Land Rover e as palavras dela foram: ‘Parece que retrocedi 50 anos quando conduzia o Land Rover do meu pai em África'”, lembra.

Outro caso foi o de um ex-elemento da guarda fiscal da GNR, que perdeu a visão após reformar-se: “Entrou no jipe e disse logo era um Land Rover, porque na vida profissional dele tinha conduzido muitos”.

Testemunhos emocionantes que – garante Jorge Rodrigues – “ficam marcados” na memória de quem proporciona tal experiência.

 
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