Cegonhas deslumbram em Barcelos

Foto: Pedro Gonçalo Costa / O MINHO

No alto de um poste de uma propriedade privada, o ninho não passa despercebido. Sobretudo ao fim de semana, carros param, curiosos espreitam, fotógrafos esperam o momento ideal para o ‘clique’, pais mostram aos filhos aquele casal de cegonhas que escolheu a freguesia de Tamel S. Veríssimo, no concelho de Barcelos, como seu lar.

Desde há vários meses que o casal de cegonhas e as suas crias impressionam quem por ali passa, numa rua interior da freguesia, até porque, apesar de normal, não é propriamente comum as cegonhas nidificarem nesta zona.

“Nesta altura do ano, [quando estão] na parte reprodutiva, são normais em quase toda a Europa. A Península Ibérica é uma área que elas procuram para a reprodução, depois temos a Alemanha, a parte mais Este e Norte da Europa, que elas acabam por procurar muito nesta altura. Agora, se costumamos ter a abundância que existe em Aveiro? Não, de todo. Mas vai havendo alguns registos ainda que esporádicos na região Minho. Em Barcelos, nasci cá, e nunca tinha visto nesta zona, mas quando se vai mais para o litoral já se consegue”, afirma a O MINHO a bióloga Joana Soto, da associação Amigos da Montanha.

Foto: Pedro Gonçalo Costa / O MINHO

Portanto, se é “normal ou não” as cegonhas escolherem fazer o ninho em Barcelos, “é difícil dizer, porque também depende da escolha do par reprodutor. Procuram os sítios que tiverem mais abundância de alimentos”.

O facto de estarem a cerca de 500 metros do rio Cávado, onde podem encontrar um dos seus petiscos favoritos, o lagostim vermelho, terá sido decisivo na escolha do local para nidificar. “O raio de caça delas pode ir até aos dois quilómetros”, explica a bióloga.

Fase reprodutiva

A espécie existente em Portugal é a Ciconia ciconia, ou seja cegonha-branca. Nesta altura está na fase de reprodução. “Durante o nosso inverno vai para África, para a zona do Saara, mas também alguns artigos já nos dizem que andam aqui na Europa e também podem ser encontradas na Índia. Através dos transmissores que lhes colocámos para localizar as rotas de migração, já temos dados de que há ali duas grandes zonas que elas migram no inverno, que é a zona da Índia e a África do Sul”, dá nota Joana Soto.

Foto: Pedro Gonçalo Costa / O MINHO

E acrescenta: “Depois, durante a época reprodutiva, que acaba por coincidir com a época das monções na zona de África, vêm cá para cima para fazerem a reprodução. As primeiras começam a chegar em finais de fevereiro, inícios de março e ficam aqui mais ou menos até setembro que é quando começam a migração novamente para África. Isto se sentirem a necessidade de migrar, que acontece quando têm falta de alimento. Se elas tiverem alimento abundante e virem que conseguem continuar a criar as crias e alimentar-se a si próprias, podem não fazer a migração. É o que está a acontecer em Aveiro. Há casais que já não fazem a migração porque não vale a pena. Têm comida das lixeiras ou lagostim vermelho, e elas optam por não migrar”.

Foto: Pedro Gonçalo Costa / O MINHO

E também poderá acontecer isso, neste caso, em Barcelos? “Poderá acontecer, mas ainda é muito cedo para dizer. Teremos que esperar pelas próximas épocas reprodutivas”, responde.

Espécie em estado de conservação pouco preocupante

A bióloga dos Amigos da Montanha esclarece que a cegonha é “uma espécie que já esteve em risco de extinção, já há uns bons anos, com a Revolução Industrial [finais do século XVIII e inícios do XIX] e a destruição do seu habitat, mas atualmente já tem um estado de conservação pouco preocupante”.

No caso de Aveiro, onde há mais cegonhas em Portugal, nomeadamente por haver muitas lixeiras onde elas podem ir buscar alimento, já acontece de “as populações estarem descontroladas”, o que pode “trazer alguns prejuízos”, nomeadamente para as concessionários das autoestradas, uma vez que elas gostam de nidificar nos pórticos.

Foto: Pedro Gonçalo Costa / O MINHO

BiodiverCidade

Joana Soto é a bióloga responsável do projeto BiodiverCidade, iniciado em 2017 pelos Amigos da Montanha, associação desportiva e ambiental sediada em Barcelinhos: “O nosso objetivo é trazer a biodiversidade, os animais e as plantas, para a cidade. Não só para mostrar a toda a população como forma de sensibilização e educação ambiental, mas também porque uma cidade com mais biodiversidade vai ser uma cidade mais equilibrada e resiliente às alterações climáticas”.

 
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